Prefeito é investigado por suposta ameaça de receber Funai à bala no Pará

Embate se deve a estudos sobre terra indígena; político diz que não permitirá entrada, mas nega ter falado em atirar

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Belém

O Ministério Público Federal abriu investigação contra o prefeito de Itaituba (PA), Valmir Climaco (MDB), após relatos de que ele ameaçou receber “à bala” funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) que estudam a criação de terra indígena em área sobreposta à fazenda dele. 

Por telefone, Climaco negou ter dito que atiraria nos funcionários públicos ou ter incitado outras pessoas a fazer o mesmo, mas confirmou que impedirá a entrada da Funai na sua área. 

Em depoimentos ao MPF, servidores disseram que a ameaça ocorreu no último dia 7, durante reunião na prefeitura.

Placa de auto demarcação de terra indígena em área dos índios mundurucus
Placa de auto demarcação de terra indígena em área dos índios mundurucus - Lalo de Almeida - 19.ago.18/Folhapress

Participaram o grupo de trabalho da Funai responsável pelos estudos para a delimitação das terras indígenas Sawre Bapin (Apompu) e Sawre Jaybu, da etnia mundurucu, e detentores de áreas afetadas.

A ameaça, segundo servidores, ocorreu após a Funai ter apresentado os objetivos do trabalho de campo, que inclui informar detentores das áreas que os imóveis estão dentro da região delimitada por estudos prévios, além de um cadastramento.

“Para nossa surpresa, o prefeito ressaltou que estamos invadindo as propriedades particulares, cuja entrada só seria possível com autorização judicial, e recomendou aos moradores que recebam a equipe ‘à bala’, sendo essa postura que ele teria em seu imóvel, que está inserido na área de estudo, e encerrou a reunião”, relata ofício enviado pela Funai ao Ministério Público Federal.

Climaco foi ovacionado pelo auditório, segundo relato enviado ao MPF. Temendo risco de morte, o grupo de trabalho, criado no mês passado pelo recém-demitido presidente da autarquia, Franklimberg de Freitas, suspendeu o levantamento e pediu escolta ao Ministério Público e à Polícia Federal para ir a campo.

“Tenho a minha fazenda há 33 anos, há 50 anos tenho a escritura pública”, disse Climaco, que migrou do Ceará nos anos 1970. Para ele, os funcionários da Funai “estão criando chifre em cabeça de cavalo.”

“Eles dizem que há cem anos passou índio por lá. Aí andam com um arqueólogo buscando rastro de índio, onde tem machadinho. Lá não tem índio, lá é uma fazenda”, afirmou.

“Eu disse na reunião que na minha propriedade não entra de jeito nenhum”, relatou Climaco. “Eles pediram um funcionário da prefeitura para acompanhar. Eu disse que não vou liberar funcionário da prefeitura para depois ser respondido por bala de colono.”

O prefeito, que também é dono de garimpo e já foi madeireiro, disse que mantém uma boa relação com a aldeia vizinha à propriedade, mas não soube dizer qual é a etnia. 

Distante 1.317 km a sudoeste de Belém, Itaituba tem cerca de 100 mil habitantes e vive principalmente da exploração ilegal de ouro na bacia do Tapajós. 

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