Ser citado em coluna de Clóvis Rossi era como um prêmio, dizem jornalistas

Colegas de profissão dizem que prática de dar crédito a profissionais refletia honestidade e generosidade

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São Paulo

Ser citado por Clóvis Rossi em uma de suas colunas produzia no jornalista alvo do comentário sensação semelhante à conquista de um prêmio.

“Tenho os recortes dos jornais em que ele me mencionou guardados”, diz Janaína Figueiredo, repórter de O Globo e ex-correspondente do jornal em Buenos Aires.

Para amigos, a prática de dar crédito a reportagens e análises de profissionais que o inspiravam em seus próprios textos refletia tanto a honestidade intelectual de Rossi quanto sua generosidade, que não se restringia a colegas da Folha.

“Para ele, não importava que o jornalista que o inspirou trabalhasse para a concorrência”, afirma Sérgio Leo, diretor de comunicação da Febraban (Federação dos Bancos).

Além das citações e dos elogios públicos recebidos de Rossi na época em que trabalhava no Valor Econômico, Leo guarda lembranças de outras atitudes grandiosas do jornalista.

“Em 2005, cobrimos, eu pelo Valor e ele pela Folha, a cúpula da OMC [Organização Mundial do Comércio] em Hong Kong. Percebi que o Clóvis estava sempre bem informado sobre tudo e fui falar com ele”, diz.

“Aí ele me ensinou a usar os alertas de notícias do Google News. Era um diferencial competitivo que ele compartilhou generosamente comigo”, conta o jornalista.

Poucos anos depois, nos bastidores de outra cúpula externa, Leo viu Rossi conversando com um executivo importante, mas pouco procurado por jornalistas, de um organismo multilateral.

Terminada a conversa, Rossi se aproximou do colega concorrente e comentou que se tratava de uma das melhores fontes sobre bastidores de política externa.

“Foi uma dica valiosíssima. Ele se tornou uma fonte importante para mim ao longo dos dez anos seguintes”, diz Leo.

Os inúmeros jornalistas que Rossi ajudou a formar na Folha guardam relatos parecidos.

“Sempre me incentivou muito. Ele gostava de ver a América Latina ganhando mais espaço na imprensa. E como ele foi um dos pioneiros nisso, sinto que devo o que faço hoje a ele”, diz Sylvia Colombo, correspondente da Folha em Buenos Aires.

Além de compartilhar fontes, também era generoso com seu vasto conhecimento sobre diversos temas. Nos últimos anos, sentia prazer em ajudar jovens repórteres de diversos veículos a entender o contexto da notícia.

“Não era incomum ver o Rossi dando uma espécie de entrevista coletiva em cúpulas internacionais. Fazia isso sem nenhuma arrogância”, afirma Assis Moreira, corresponde do Valor Econômico em Genebra.

O jornalista Graciliano Rocha, que dividiu com Rossi a cobertura da renúncia do papa Bento 16, em 2013, ressalta que o jornalista tratava os diferentes como iguais.

“Não é justo dizer que formávamos uma dupla. O jornal tinha seu melhor quadro do jornalismo internacional carregando nas costas um pangaré”, relembra ele.

“Toda manhã, planejávamos o que cada um faria nas horas seguintes –o que significa, na verdade, que ele me pautava, orientava, dava dicas de quem procurar”, diz Rocha, hoje editor do BuzzFeed.

Esta repórter que reuniu esses depoimentos guarda uma história parecida. Era correspondente em Londres quando ocorreram os atentados terroristas no metrô da cidade em 2005.

Rossi saiu de São Paulo para dividir a cobertura comigo. Quando terminávamos os longos dias de trabalho, enquanto eu ensaiava as primeiras linhas do meu texto, a colaboração dele chegava completa, impecavelmente redigida, por email, para mim.

Embora estivesse atuando como uma espécie de jornalista assistente, ele mandava os textos com minha assinatura antes da dele, o que, embora eu não aceitasse, sempre interpretei como um incentivo a uma então jovem repórter.

Há duas semanas, o jornalista Mauro Zafalon, da Folha, registrou, provavelmente, uma das últimas manifestações do espírito generoso de Rossi.

Ao parabenizar o amigo por email pelos 30 anos da coluna Vaivém das Commodities, Rossi escreveu: “quando crescer, quero ser igual a você”.

“Eu é que queria ser igual a ele”, disse Zafalon, resumindo o sentimento de jornalistas de diferentes gerações em relação a Clóvis Rossi.

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