Ciro diz que movimento de Tabata é 'partido clandestino' e que ela faz dupla militância

Ex-governador do Ceará voltou a criticar deputada do PDT por votação na reforma da Previdência

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São Paulo

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes disse neste sábado (13) que a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), que votou contra a orientação da sigla na reforma da Previdência, fez "dupla militância" e afirmou considerar grave a atuação do movimento do qual ela participa —e que ele chamou de "partido clandestino". 

"Todo mundo pode participar de qualquer movimento, mas se você tem um partido clandestino para burlar a legislação que proíbe financiamento empresarial, isso é uma coisa muito mais grave", afirmou Ciro em evento em São Paulo.

"Você pega um partido clandestino, que tem suas regras próprias, seu programa próprio, você se infiltra nos outros partidos e usa os outros partidos, fundo partidário, tempo de TV, coeficiente eleitoral para se eleger e fazer o serviço do outro partido? Aí é um problema de dupla militância, não tem nada a ver com a compreensão de reforma da Previdência que nós temos", completou. 

Tabata faz parte do Acredito, fundado em 2017 com a bandeira da renovação política, assim como Felipe Rigoni (PSB-ES), que também contrariou seu partido e votou a favor da reforma da Previdência.

Esse é tema prioritário do movimento, do qual Tabata é co-fundadora. Entre as principais bandeiras do Acredito estão ainda o combate à desigualdade e a rejeição à polarização.

No próprio PDT houve outros sete que votaram contra a orientação da legenda. O partido abriu processo na comissão de ética para avaliação e punição aos dissidentes. 

Candidato derrotado do PDT à Presidência da República em 2018, Ciro ressaltou ter estimulado a entrada de Tabata na política e afirmou ser quem mais está sofrendo com a situação.

"Eu não sirvo a dois senhores. Se tem alguém que está sofrendo com essa questão da Tabata sou eu. Sabe quem recrutou a Tabata? Quem estimulou a Tabata a entrar na política? Quem assinou a filiação dela? Fui eu", disse Ciro, para quem ela é "uma mulher extraordinária que tem o futuro pela frente". 

À Folha, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, afirmou na quinta-feira (11) que está avaliando o caso para tomar uma "atitude cirúrgica" contra os dissidentes. 

Ciro vem defendendo que os deputados que votaram a favor da reforma deixem o partido. Na sexta (12), em evento em Belo Horizonte, disse que Tabata "deveria ter a dignidade de sair" da legenda.

Após a votação da Previdência, Alexandre Frota (PSL-SP), em sua conta no Twitter, afirmou que o PSL estaria "de braços abertos" para a deputada do PDT.

Em uma postagem no Instagram, o Movimento Brasil Livre também se posicionou: "o Brasil só tem a ganhar com uma esquerda e uma direita que enxergam além do prisma ideológico."

Para o governador de São Paulo, João Doria, Tabata tem "rosto, alma e coração do novo PSDB".

Samuel Emílio, 23, coordenador nacional do Acredito, disse nesta semana à reportagem que não se pode afirmar que Tabata e Rigoni erraram na escolha do partido. 

"Tanto eles [Tabata e Rigoni] sabiam os partidos em que estavam entrando quanto os partidos sabiam quem estavam recebendo", afirma, em relação à participação deles no movimento.

A fala aconteceu no BRASA em Casa: o Brasil no Divã, evento organizado pela Brazilian Student Association. O pedetista dividia mesa com Christian Lohbauer, que foi candidato à vice-presidência nas últimas eleições pelo Novo.

Os dois discordaram em diversos pontos no tema que mais era abordado: a reforma da Previdência. Quase ao final da sua participação, Ciro afirmou para a plateia de jovens: "toda vida que vocês ouvirem a palavra 'novo' na frente de alguma coisa na política, desconfiem. É picaretagem."

Outro lado

Segundo Emílio, o Acredito aceita apenas doações com um teto e de pessoas físicas. Para ele, Ciro foi desonesto quando classificou o movimento de "partido clandestino".

"Quando ele fala que nós somos um partido clandestino, feito para criar uma maneira de burlar o sistema eleitoral, isso é uma notícia falsa. Na nossa visão, principalmente por ele já ter sido candidato à presidência, ele está sendo um péssimo exemplo para a população", afirmou.

Emílio disse que há uma grande pluralidade de pontos de vista dentro do movimento, inclusive em relação à reforma da Previdência. Os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral e o senador Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE), que dividem um gabinete no congresso, teriam decidido o voto após estudar o texto durante cinco meses.

"O grande objetivo dos parlamentares era aprovar uma reforma que fosse fiscalmente responsável e que reduzisse as desigualdades", afirmou o coordenador do Acredito. Para ele, o PDT e o PSB estariam se aproveitando do movimento para justificar o voto dos parlamentares.

Emílio fez críticas ao partido de Tabata. "O PDT realmente tinha uma proposta de reforma da Previdência, mas que eles não encaminharam. Não apresentaram propostas, não apresentaram emendas. Fazer oposição pela oposição alimenta a lógica da polarização", afirmou.

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