Da campanha ao Planalto, veja os acenos de Jair Bolsonaro aos evangélicos

Presidente esteve na Marcha para Jesus e disse que quer indicar evangélico ao STF

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São Paulo

Do lema de campanha —Brasil acima de tudo, Deus acima de todos— a possíveis indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF), são muitos os acenos de Jair Bolsonaro (PSL) aos evangélicos.

O presidente se declara católico. Sua mulher, Michelle Bolsonaro, é evangélica, e os filhos Eduardo (PSL-SP) e Flávio (PSL-RJ) também frequentam igrejas cristãs

Desde a campanha, Bolsonaro tem buscado aproximação com a bancada evangélica. Eleito, aceitou indicações para formar a equipe de ministros e chegou a vetar nomes quando a frente parlamentar se mostrou contrária.

Já no poder, foi o primeiro presidente a participar da Marcha para Jesus. Na quarta (10), reafirmou que pretende indicar um ministro evangélico para a corte

Abaixo, veja os principais pontos de ligação entre Bolsonaro e os evangélicos.

 

Formação dos ministérios

Durante o processo de formação da equipe ministerial, logo após as eleições, houve alguns episódios de atritos e reaproximações entre Bolsonaro e a bancada evangélica. 

Quando a imprensa noticiou que Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, assumiria o Ministério da Educação, os evangélicos se rebelaram. Mozart, que era tido como moderado entre funcionários do MEC, não era alinhado com bandeiras conservadoras, em especial o Escola sem Partido. 

"Para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós", disse, à época, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), membro da bancada evangélica.

Bolsonaro, então, nomeou Ricardo Vélez Rodríguez, demitido três meses depois de assumir o MEC

Em outro episódio, deputados chegaram a indicar nomes para o Ministério da Cidadania, mas o então presidente eleito optou por Osmar Terra. Depois, Bolsonaro indicou para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, que se definiu como "terrivelmente cristã" em seu discurso de posse.

Outra indicação que foi vista como aceno à bancada foi a de Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), que integra a Igreja Cristã Maranata há cerca de 20 anos. Atualmente, ele é alvo de investigação da Polícia Federal sob suspeita de comandar esquema de candiaturas laranjas no PSL de Minas durante as eleições de 2018.

Mais recentemente, Bolsonaro escalou o general Luiz Eduardo Ramos para assumir a Secretaria de Governo após a demissão do também general Santos Cruz, em junho. Na quarta (10), em cerimônia na Câmara, Ramos, que é evangélico, disse que Deus lhe deu "a sabedoria de Salomão, a capacidade de articular e gerenciar de José do Egito e a força de um guerreiro que foi David".

Tributação a igrejas

No fim de abril, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, defendeu a criação de um tributo sobre todas as transações financeiras, o que incluiria contribuições de fiéis para igrejas. 

Após protestos da bancada evangélica, Bolsonaro publicou vídeo nas redes sociais em que rebateu o secretário e negou a criação do tributo.

"Essa informação não procede. Em nosso governo, nenhum novo imposto será criado, em especial contra as igrejas que, além de terem um excelente trabalho social prestado a toda comunidade, reclamam eles, em parte com razão no meu entendimento, que há uma bitributação nessa área", disse.

Neste mês, o governo flexibilizou a prestação de contas das igrejas após reclamações de pastores evangélicos a respeito da burocracia a que as instituições estavam submetidas.

 

Marcha para Jesus

Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente da República a ir na Marcha para Jesus, evento evangélico realizado desde 1993 em São Paulo.

Lá, disse que os evangélicos "foram decisivos para mudar o país" e que, se era Deus acima de todos, logo depois vinha "a família respeitada e tradicional acima de tudo".

Recebido sob gritos de "mito", afirmou que Deus lhe deu a Presidência e que era o presidente "de um Estado que é laico, mas ele é cristão". 

Ministro evangélico no STF

Em junho, após o STF decidir pela criminalização da homofobia, Bolsonaro disse que faltava um ministro evangélico em sua composição

Na quarta (10), em culto promovido pela frente evangélica na Câmara dos Deputados, ele disse que indicaria um magistrado "terrivelmente evangélico" para o Supremo

Até o fim de seu mandato, Bolsonaro poderá indicar ao menos dois nomes. O primeiro ministro que deve deixar a corte é Celso de Mello, que completa 75 anos —a idade de aposentadoria obrigatória— em novembro de 2020. A segunda vaga deve ficar disponível com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

Reforma da Previdência

A pauta é apoiada pela bancada evangélica há certo tempo. Antes mesmo do segundo turno das eleições, a frente parlamentar lançou documento defendendo a reforma —mas entregou o texto apenas para Bolsonaro.

Na votação que aprovou a reforma em primeiro turno na Câmara, na quarta (10), a bancada votou em peso com o governo. Em março, contudo, havia ameaçado boicotar o projeto após demissões de quadros ligados ao grupo.

Nesta quinta (11), um dia após a votação, o presidente se reuniu com a frente religiosa e disse que ela tem "ideias maravilhosas" que podem ser agilizadas para trazer "a população para o nosso lado".

'Ideologia de gênero'

Bolsonaro sempre foi defensor de pautas de costumes, como o combate ao que conservadores chamam de "ideologia de gênero". Esse tema lhe é caro desde os tempos como deputado federal e esteve presente em toda a sua campanha à Presidência. É também uma pauta defendida com entusiasmo pela bancada evangélica.

No Executivo, o tema volta e meia vem à tona. O Itamaraty, por exemplo, orientou os diplomatas a reiterar "o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino".

Em junho, quando o STF decidiu pela criminalização da homofobia, Bolsonaro afirmou que a corte se equivocou e que a medida criaria empecilhos para que homossexuais consigam um emprego.

Na quinta (11), durante café da manhã com a bancada evangélica, disse que o formulário de passaportes adotará termos "pai" e "mãe". As palavras foram substituídas em 2017 por "genitor 1" e "genitor 2" para contemplar novas formações familiares.

“Acaba com essa história. Pai e mãe, ponto final”, disse o presidente em live nas redes sociais nesta quinta.

​Apoio da população evangélica

Os evangélicos são um dos principais setores da sociedade a apoiar Bolsonaro.

No último Datafolha antes do segundo turno das eleições (feito em 26 e 27 de outubro de 2018), Bolsonaro aparecia com 69% das intenções de voto dos evangélicos, ante 31% de Fernando Haddad (PT). Na média da população, Bolsonaro tinha 55%, e Haddad, 45%.

Na Presidência, a aprovação de Bolsonaro também é maior entre os evangélicos. Destes, 41% consideram seu governo ótimo ou bom, segundo levantamento do Datafolha realizado na semana passada —entre os neopentecostais, o índice cresce para 44%. Na média da população em geral, 33% avaliam positivamente o presidente.

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