Embates em votações vão tornar vida de Tabata Amaral 'um inferno', diz Ciro

Ex-governador volta a defender saída de deputada do PDT citando falta de compatibilidade de ideias entre partido e movimento

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São Paulo

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) voltou a defender nesta segunda (15) que a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) saia da legenda e disse que a vida dela tende a ser um "inferno" diante da votação de novos temas no Congresso, como a reforma tributária. 

"O partido dela não é esse", afirmou. "Vai ser um inferno a vida dela. Porque cada um desses embates tem a ver com o tipo de visão de mundo que você tem", disse Ciro durante evento do PDT em São Paulo para debater a gestão Jair Bolsonaro sob a ótica trabalhista.

O embate entre Tabata e Ciro começou após a votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. A deputada e outros sete deputados do PDT votaram a favor da medida, contrariando a orientação partidária. 

O ex-governador Ciro Gomes durante evento do PDT em São Paulo
O ex-governador Ciro Gomes durante evento do PDT em São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

O partido havia fechado questão contra a reforma da Previdência e agora vai avaliar eventuais punições aos dissidentes.

Segundo Ciro, "até a antevéspera, para não dizer até a véspera, ela [Tabata] nos disse que votaria contra essa proposta".

Ele citou alguns exemplos que podem ser conflitantes em futuras votações. "Próxima rodada: reforma tributária. Nós [PDT] temos uma proposta. (...) Nós somos a favor de um tributo sobre lucros e dividendos (...), os financiadores desses partidos clandestinos são contra". O que ele vem chamando de "partidos clandestinos" são movimentos de renovação política, como o Acredito, que Tabata fundou.

Em artigo publicado na Folha, Tabata disse que partidos tentam se modernizar, mas "ainda ostentam estruturas antigas de comando, e na maioria faz falta mais democracia interna".

Quando questionado sobre o texto da deputada, Ciro disse concordar que partidos políticos no Brasil e no mundo estão desmoralizados, e perguntou: "por que, então, ela se filiou a um? Tem 43 partidos registrados no país. Não é possível que em 43 partidos você não ache um que lhe represente".

Na última quarta-feira (10), em um vídeo publicado em redes sociais, Tabata afirmou: “O sim que eu digo à reforma não é um sim ao governo. E também não é um não a decisões partidárias”.

No sábado (13), Ciro já havia acusado a deputada de fazer "dupla militância", por responder ao partido e ao movimento. Enquanto dividia mesa em evento com Christian Lohbauer, que foi candidato à vice-presidência nas últimas eleições na chapa de João Amôedo (Novo), fez críticas a grupos que se dizem antagônicos à "velha política". "Toda vida que vocês ouvirem a palavra 'novo' na frente de alguma coisa na política, desconfiem. É picaretagem."

Ciro vê contradições em movimentos como o Acredito por seus integrantes, segundo ele, usarem "fundo partidário, tempo de TV, coeficiente eleitoral para se eleger e fazer o serviço do outro partido".

"Todo mundo pode participar de qualquer movimento, mas se você tem um partido clandestino para burlar a legislação que proíbe financiamento empresarial, isso é uma coisa muito mais grave", ​acusou, no sábado.

Segundo Samuel Emílio, 23, coordenador nacional do Acredito, o grupo aceita apenas doações com um teto e de pessoas físicas. Para ele, Ciro foi desonesto quando fez a declaração. 

Hoje, o ex-governador do Ceará voltou a criticar o que não considera uma renovação efetiva: "não vem com esse papo de novo e velho (...). Sabe qual era o slogan do Collor? Nova política. Sabe qual é o slogan do Bolsonaro? Nova política.".

O que está em jogo após as eleições de 2018, segundo Ciro, é a condição do conservadorismo contra a Constituição de 1988. "A história vai registrar quem estava de um lado e quem estava do outro."

Eleita deputada por São Paulo com 264.450 votos (sexta maior votação no estado para o cargo), Tabata vive agora a maior crise da relação de lua de mel que construiu com Ciro e o PDT. Ela corre o risco de ser punida e até expulsa pelo partido por ter contrariado orientação da legenda sobre a Previdência.

Embora já tivesse uma projeção por seu trabalho na organização Mapa Educação e pela participação no Acredito (movimento de renovação política que ajudou a fundar) e no RenovaBR (programa que bancou a formação de estreantes), Tabata foi beneficiada na campanha pela associação com Ciro, terceiro candidato mais votado na eleição presidencial de 2018.

A trajetória ascendente da parlamentar, que se notabilizou sobretudo após questionar incisivamente o então ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, em uma sessão no Congresso em março, levou o PDT a desenhar planos maiores para ela, considerada dona de um perfil promissor.

Num sinal de que a aposta era alta, líderes já aventavam a possibilidade de lançá-la candidata a prefeita de São Paulo em 2020. Em maio, durante entrevista à Folha, o presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, afirmou que, no que dependesse dele, trabalharia para convencer Tabata a concorrer. Ela resistia.

Com o afastamento sacramentado, a conversa mudou de rumo. Lupi já afirmou que qualquer plano envolvendo a filiada terá que ser rediscutido, caso ela permaneça no partido. O dirigente defende internamente o que classificou como "atitude cirúrgica" nos processos contra os dissidentes.

Para Lupi, é preciso evitar qualquer decisão que acabe por "premiar" os infiéis. Pela lei, o mandato do deputado expulso pertence a ele. Se for defenestrado em um dia, no outro já pode se filiar a outra agremiação. Dos 27 deputados do PDT, 8 descumpriram a ordem.

Outra opção sobre a mesa é aplicar punições mais brandas, como reprimenda pública aos insurgentes ou remoção de postos.

Tabata, por exemplo, integra a Comissão de Educação e pode ser retirada da função pelo líder da bancada de seu partido, André Figueiredo (CE). Ele já disse que vai reavaliar a distribuição de cadeiras nos colegiados, porque seria "uma injustiça" manter colegas que desobedeceram à determinação na votação da Previdência.

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