Família de 'doleiro dos doleiros' faz delação e promete devolver R$ 370 mi

Delações ajudaram Procuradoria em denúncia contra Mario e Rafael Libman, alvos de operação nesta terça

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Rio de Janeiro

Familiares de Dario Messer, considerado pela Lava Jato “o doleiro dos doleiros”, fecharam colaboração premiada com a Justiça na qual se comprometem a devolver R$ 370 milhões. 
 

Os acordos ajudaram autoridades a deflagrar nesta terça-feira (9) uma operação que prendeu um dos operadores de Messer no Rio de Janeiro, Rafael Libman.

Segundo o Ministério Público Federal do Rio, a ex-mulher de Messer, Rosane, e os filhos Dan, Débora e Denise colaboraram com a Justiça. 

A ex-funcionária de Messer Elsa Filomena Fernandes dos Santos também colaborou, explicando como ocorria a entrega de dinheiro a suspeitos de integrar o esquema.
 

Dario Messer é acusado de coordenar um megaesquema de lavagem de dinheiro, com o uso de processos sofisticados como contas de distribuição dos recursos e mais de 400 clientes, incluindo o ex-governador do Rio Sergio Cabral, preso pela Lava Jato.

Nas delações, seus familiares disseram não saber onde está Messer, que é considerado foragido. 

Os termos de colaboração determinam que eles devem informar a Justiça sobre qualquer contato do doleiro. Caso contrário, Dan Messer perde o benefício da delação, que é a suspensão por dois anos de processo em que é acusado de evasão de divisas.

A Procuradoria diz que não há planos de fazer nenhum acordo com Messer. 

“Dario Messer é hoje um acusado foragido, já responde a alguns processos criminais e há mandados de prisão contra ele no Brasil e no exterior”, disse o procurador 

José Augusto Vagos em entrevista para detalhar a operação desta terça-feira.

Os familiares se comprometeram a devolver R$ 270 milhões em dinheiro vivo e o restante em bens. 

O dinheiro estava depositado em um fundo no exterior, aberto pelo patriarca Mordko Messer, considerado pela Procuradoria “o pioneiro da família no mercado de câmbio ilegal”.

O esquema de Messer foi investigado pela Operação Câmbio, Desligo, de maio de 2018, que teve 45 mandatos de prisão preventiva e dois de prisão temporária. Com base em delações de dois doleiros presos na ocasião, Vinicius Claret e Claudio Fernando, a força-tarefa chegou a Mario e Rafael Libman, pai e filho, alvos da operação desta terça.

Os mandados de prisão temporária foram emitidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, que autorizou também busca e apreensão em endereços dos dois e suas empresas. 

Mario foi preso pela manhã em sua casa, em Ipanema, na zona sul da cidade. Até a conclusão desta edição, Rafael não havia sido encontrado pela polícia.

Os dois são suspeitos de atuar na lavagem de recursos ilegais de Messer por meio de investimentos em projetos imobiliários. Rafael foi casado com uma das filhas do doleiro, Denise.

As investigações identificaram que as operações eram feitas por meio das empresas de empreendimentos imobiliários Rali e Palazzo dos Artistas. “É uma construção típica de lavagem de dinheiro com uso de empresas de fachada”, afirmou o procurador. 

Segundo a Procuradoria, Mario e Rafael teriam movimentado ao menos R$ 31,8 milhões —R$ 10 milhões usados em reforma da cobertura de Messer e o restante na compra de terrenos para a construção de imóveis.

O procurador Almir Teubl Sanches disse que a força-tarefa já tinha provas da participação dos Libman no esquema de Messer a partir das delações dos outros doleiros presos pela Operação Câmbio, Desligo. Mas as colaborações dos familiares reforçaram a operação desta terça.

Em sua delação, Denise contou à Justiça que Rafael recebeu do sogro mais de R$ 19 milhões para investimentos em imóveis e que acredita que o patrimônio do ex-marido supere os R$ 30 milhões. Ela afirmou que Rafael comprava imóveis pagando parte do valor “por fora”, com dinheiro recebido do sogro.

Citou como um dos exemplos a aquisição, em 2010, de um imóvel avaliado em R$ 1,5 milhão. “Rafael conseguiu que R$ 500 mil fossem declarados como o valor do imóvel (valor por dentro), e outros R$ 1 milhão seriam pagos pelo seu pai em valores em espécie por fora diretamente para o proprietário”, disse ela.

“Destaca-se que, segundo o apurado pelo MPF [Ministério Público Federal], Rafael conta atualmente com 18 apartamentos em áreas nobres do Rio de Janeiro e São Paulo, além da fração ideal de dois terrenos para construção”, escreveu Bretas na decisão sobre as prisões.

Segundo Elsa, o dinheiro de Messer era entregue aos Libmans em loja chamada Marina Joias, num shopping em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, mesmo endereço onde estão sediadas 
as duas empresas. Em uma ocasião foram entregues R$ 13 milhões de uma só vez, disse ela às autoridades.

Para os procuradores, Messer usava o “núcleo familiar expandido”, incluindo filhos e cônjuges, para ocultar recursos ilegais. As colaborações teriam sido motivadas pelo rompimento dos laços familiares. “Ficou claro que o nome Messer pesa muito na vida deles”, afirmou Vagos.

O fundo no exterior aberto pelo patriarca beneficiava em um primeiro momento os três filhos e a mãe de Messer, Fany Katz. As duas irmãs, porém, deixaram de ser beneficiárias formais, mas tinham um acordo com o irmão Dan de repartir o dinheiro.

A existência da conta foi comunicada ao Ministério Público por Dan Messer, quando declarou que, por vontade de seu pai, “jamais declarou às autoridades brasileiras a existência dessa fortuna”. Virou réu em um processo de evasão de divisas e prestará serviços comunitários, além de devolver o dinheiro.

A defesa de Mario e Rafael Libman divulgou nota em que diz ter sido "surpreendida por sua alegada participação nos fatos objeto das investigações".

Ela disse que "não pôde conhecer a integralidade dos autos, mas pontua que a decisão que decretou a sua prisão revelou-se de todo infundada".

"Ademais, ambos sempre estiveram à disposição da Justiça, de modo que o encarceramento determinado revela-se absolutamente injusto e desnecessário", afirmou a nota, assinada pelas advogadas Maíra Salomi e Marina Chaves Alves.

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