Lava Jato prende procurador suspeito de receber propina em obra do metrô do Rio

Investigação aponta pagamento de R$ 1,2 milhão da Odebrecht para mudar projeto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro | UOL

​​A 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos julgamentos em primeira instância da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, mandou prender o procurador do estado Renan Miguel Saad. O mandado de prisão temporária foi cumprido na manhã desta segunda-feira (1º).

Saad é suspeito de ter recebido mais de R$ 1,2 milhão da Odebrecht para alterar o projeto original de construção da linha 4 do metrô, modificando o traçado original da obra e elevando os seus custos —o projeto original, orçado em R$ 3 bilhões, teve um custo final em torno de R$ 10 bilhões.

Obras na linha 4 do metrô do Rio, alvo da investigação deflagrada nesta segunda-feira (1º)
Obras na linha 4 do metrô do Rio, alvo da investigação deflagrada nesta segunda-feira (1º) - Ana Carolina Fernandes - 19.jun.15/Folhapress

Segundo a Lava Jato, Saad teria agido de forma decisiva para possibilitar as ações criminosas da organização liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e gerado prejuízo aos cofres públicos.

O procurador foi preso no apartamento onde mora, em São Conrado, na zona sul da capital fluminense. No imóvel também foram apreendidos bens de Saad, que já se encontram na Superintendência da PF (Polícia Federal).

Segundo a PGE (Procuradoria Geral do Estado), os fatos pelos quais o procurador é suspeito remontam o período em que ele estava lotado como assessor jurídico chefe da Setrans (Secretaria de Estado de Transportes), nomeado na gestão de Cabral. Ele foi exonerado do cargo em 2012.

De acordo com o Ministério Público Federal, a prisão foi deferida "em razão da necessidade de colheita de depoimentos de pessoas subordinadas a Renan, imprescindíveis para apuração de crime de pertencimento à organização criminosa e de lavagem de dinheiro por intermédio do escritório de advocacia do investigado".

As apurações do MPF apontam que Saad era conhecido nas planilhas da Odebrecht pelo apelido "Gordinho". Em delação premiada, o ex-diretor de contratos da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral citou o procurador como recebedor de propina.

Para que as modificações na obra do metrô e do contrato original fossem realizadas, seria necessária uma nova licitação. Saad, no entanto, valeu-se do cargo para permitir que as alterações fossem feitas sem a necessidade de uma disputa, em favor da Odebrecht.

O pagamento a ele, também de acordo com a delação, teria sido feito por meio do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht —o setor responsável pelo pagamento de propinas da empreiteira.

A reportagem tentou contato com a defesa de Saad e com a concessionária responsável pelas obras da Linha 4 no metrô, mas até o momento não teve resposta. 

Em nota, a Odebrecht afirmou que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento de fatos do passado narrados pela empresa e seus ex-executivos. A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente".

Em nota, a PGE informou que "já apura o caso internamente para a adoção das medidas disciplinares cabíveis e que colabora e modo pleno com as investigações do Ministério Público Federal para a apuração dos fatos levantados pela Lava Jato no Rio de Janeiro".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.