Descrição de chapéu Rio de Janeiro

'Não vou para o exterior para passear', diz Witzel sobre gastos com viagens

Ritmo de viagens internacionais do governador do RJ já se assemelha ao do antecessor Sérgio Cabral

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Rio de Janeiro

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), declarou que não faz viagens internacionais para passear, e sim para trabalhar. Também disse que não se deve comparar a quantidade de dias fora do cargo nessas ocasiões, e sim os resultados trazidos.

As afirmações foram uma resposta a reportagem da Folha publicada no último sábado (20) mostrando que o ritmo de viagens do governador já se assemelha ao do antecessor Sérgio Cabral (MDB) nos primeiros sete meses de seu primeiro mandato, em 2007. Ambos passaram 24 dias no exterior no período.

Witzel já foi para a Alemanha, Estados Unidos, Portugal e duas vezes para a Argentina. No total, o estado fluminense gastou neste ano R$ 573,1 mil em diárias para servidores --incluindo o governador e sua comitiva-- irem ao exterior, mais do que os R$ 368,5 mil gastos por Cabral, em valores corrigidos.

"Foi feita aí uma comparação por um jornal das minhas viagens com as viagens de outro governador. Só que não comparou a agenda de um e de outro. A minha agenda é uma agenda de trabalho, muito transparente, com resultados, sendo que a agenda do outro governante não foi mostrada", disse Witzel nesta segunda (22) em uma entrevista coletiva para divulgar ações de segurança de sua gestão.

"Não adianta comparar quantidade, tem que comparar qualidade. Se fosse quantidade a polícia não estaria fazendo o trabalho que está fazendo: sem aumentar quantidade, aumentamos a qualidade. 
O que deve ser perceptível é a qualidade do trabalho que se faz. Eu não vou para o exterior para passear, eu vou para trabalhar, e as agendas têm sido muito intensas. Então acredito que o resultado vai aparecer e já está de certa forma aparecendo", continuou.

Ele deu as declarações ao comentar os investimentos em turismo feitos pelo seu governo até aqui. Segundo ele, "a visibilidade do governador no exterior com visitas qualificadas", além de outras medidas tomadas, fizeram as buscas pelo RJ em sites de turismo aumentarem 150%. 

"Algumas operadoras de turismo [indicam que] nós, que estávamos em quinto, sexto lugar, já passamos para segundo e bem próximo do primeiro lugar em busca de destinos. Então nosso trabalho tem dado certo", disse.

VIAGENS NO PRIMEIRO SEMESTRE

A Folha mostrou que Witzel já recebeu R$ 20,5 mil em diárias por viagens a trabalho —incluindo missões no país, como reuniões com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em Brasília. O valor supera o salário de governador, de R$ 19,7 mil brutos —cerca de R$ 14,7 mil líquidos.

Os dados constam do portal Transparência Fiscal do estado e de levantamento do gabinete do deputado estadual Luiz Paulo (PSDB-RJ).

As constantes viagens internacionais eram alvo de críticas a Cabral, preso desde 2016 acusado de comandar um esquema de corrupção. Após o primeiro ano de mandato, o gasto com diárias no exterior atingiu patamares milionários. O estado chegou a desembolsar R$ 5,8 milhões de janeiro a julho de 2010, também em valores corrigidos.

A Folha revelou em 2013 que o governo omitiu do balanço oficial ao menos 35 dias em que Cabral esteve fora do cargo, no exterior. Ele também teve de devolver diárias recebidas indevidamente por dias livres em Paris.

A gestão Cabral justificava as missões internacionais apresentando como objetivo atrair eventos e turistas para o Rio de Janeiro. Apontava que a administração que se iniciava à época inaugurara uma agenda internacional do estado.

São argumentos semelhantes aos apresentados pela administração Witzel. Em nota, o governo já havia afirmado que visa atrair investimentos e aumentar o turismo, que o governador chama de “novo petróleo”.

Os valores gastos caíram drasticamente após a entrada de Luiz Fernando Pezão (MDB) —preso pela Lava Jato em novembro de 2018—, que assumiu em abril de 2014 e enfrentou ao longo de todo o mandato uma grave crise financeira. Em 2018, o estado gastou R$ 83,8 mil em viagens nos sete primeiros meses do ano.

Malvistas durante a crise, as viagens internacionais passaram a sofrer restrição oficial em junho de 2016, quando o então governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), editou decreto em que exigia autorização expressa do Palácio Guanabara para qualquer concessão de diária internacional.

O Rio de Janeiro continua em crise financeira e o decreto segue em vigor. Isso exigiu que Witzel, em prol da agenda internacional, assinasse 41 autorizações para viagens oficiais desde que assumiu o cargo.
 

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