PT quer Moro investigado por tentar interferir em eleição com delação de Palocci

Mensagens de procuradores da Lava Jato reveladas pela Folha sugerem que decisão do ex-juiz teve motivações políticas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Felipe Amorim
Brasília | UOL

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou na tarde de hoje que o partido vai pedir que o MPF (Ministério Público Federal) investigue o ex-juiz Sergio Moro.

A investigação é para esclarecer se Moro atuou para interferir no resultado das eleições presidenciais de 2018 ao dar publicidade a trecho da delação do ex-ministro Antonio Palocci, que tinha acusações ao PT, uma semana antes do primeiro turno.

Para o partido, Moro cometeu os crimes de prevaricação (desvio de função pública) e abuso de autoridade.

Dirigentes do PT falam com a imprensa após reunião com representantes da Organização dos Estados Americanos, que estavam acompanhando o processo eleitoral brasileiro em 2018 - Pedro Ladeira/Folhapress

Além da representação ao MPF, o partido também fará uma representação ao Ministério Público Eleitoral pedindo que a suposta interferência de Moro nas eleições seja investigada.

Na Justiça Eleitoral, o PT já apresentou três ações, que tramitam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde é defendida a cassação da chapa de Bolsonaro sob a acusação de irregularidades na disputa eleitoral.

Os pedidos de investigação feitos às duas esferas do Ministério Público têm como motivação reportagem de hoje da Folha de S. Paulo ​em parceria com o site The Intercept Brasil.

Mensagens trocadas por procuradores da Operação Lava Jato sugerem que considerações políticas influenciaram a decisão do então juiz Sergio Moro de divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno da eleição presidencial do ano passado.

Os diálogos indicam que Moro tinha dúvidas sobre as provas apresentadas por Palocci, mas considerou a delação relevante por se tratar de acusações dirigidas ao PT vindas de um antigo integrante da cúpula dos governos petistas.

"Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista", disse o procurador Paulo Roberto Galvão a seus colegas num grupo de mensagens do aplicativo Telegram em 25 de setembro, tratando Moro pelo apelido que eles usavam e associando os petistas à Omertà, o código de honra dos mafiosos italianos.

A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, afirmou hoje que a publicidade dada à delação de Palocci antes do primeiro turno teve forte impacto eleitoral na candidatura de Fernando Haddad, então candidato do PT ao Planalto.

"Isso mostra a atuação política de Sergio Moro na condução do processo eleitoral", disse Gleisi. "Nossa avaliação é a de que Moro queria dar um xeque-mate para que Bolsonaro ganhasse as eleições no primeiro turno. Não conseguiu, mas prejudicou e muito a campanha de Haddad", afirmou a presidente do PT.

Bolsonaro é "um criminoso confesso", afirma Gleisi

A presidente do PT também criticou as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz. Fernando Santa Cruz Oliveira, pai do presidente do órgão, desapareceu após ter sido preso por agentes do regime militar no Rio.

Hoje mais cedo, Bolsonaro disse que poderia informar a Santa Cruz como o pai dele teria desaparecido durante a ditadura militar.

Para Gleisi, a fala de Bolsonaro equivale à confissão de que ele tem conhecimento de um crime.

"Essa confissão de Bolsonaro sobre o pai do presidente da OAB é gravíssima porque ele na verdade diz que sabe de um crime, é cúmplice disso e demonstra que concordava com o que estava acontecendo", disse a presidente do PT.

"O que nós temos é um caso grave de banditismo na presidência da República", afirma Gleisi. "Nós avaliamos que ele é um criminoso confesso", ela conclui.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.