Cresce pressão no PSDB para que Covas desista de tentar a reeleição em SP

Aliados de Doria e velha guarda do partido estão preocupados com chances do prefeito, o que pode afetar planos para o pleito de 2022

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São Paulo

A pressão para que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, desista de concorrer à reeleição no pleito do ano que vem está crescendo dentro de seu partido, o PSDB.

O comando da maior cidade do país está no centro da estratégia das agremiações de centro para a disputa da sucessão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em 2022.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que nega desistir de reeleição
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que nega desistir de reeleição - Roberto Casimiro - 19.ago.2019/Fotoarena/Agência O Globo

Elas querem garantir o controle do triângulo principal do poder municipal no Brasil, que inclui Rio e Belo Horizonte ao lado da capital paulista. No Rio, o DEM considera grandes as chances do ex-prefeito Eduardo Paes, e em BH o atual prefeito, Alexandre Kalil (PSD), parece rumar para uma reeleição tranquila.

Com isso, há o risco relativo a São Paulo. Há um grande temor no próprio PSDB, baseado em pesquisas internas que dão a Covas intenções de voto na casa dos 10%, sobre o quão competitivo o prefeito será se for candidato.

E perder a principal capital seria desastroso para as pretensões de tucanos e outros partidos aliados visando 2022, hoje ancoradas na figura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Segundo dois amigos próximos de Covas, o prefeito tem considerado a desistência, dado o grau de pressão. Eles afirmam que ele estaria inclinado a tirar um período sabático fora do país e voltar para disputar o Senado em 2022.

Procurado pela Folha, o prefeito negou esse relato nesta sexta (30). Aliados seus vão além, dizendo que ele está se preparando e que irá inclusive participar de campanhas em outras cidades.

Seja como for, a boataria acerca de uma eventual saída de Covas tem sido constante nos últimos meses.

A narrativa é quase sempre a mesma: o prefeito não teria apetite pela burocracia do cargo e não estaria disposto a encarar a campanha eleitoral —ele herdou a cadeira de Doria, de quem foi vice-prefeito de 2017 ao começo de 2018, quando o hoje governador deixou o cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes.

Conhecidos do prefeito também rejeitam essa versão e atribuem ela a fofocas de adversários internos: Covas e Doria não têm exatamente o que se pode classificar de uma relação harmônica.

De fato concreto, aliados do governador são os mais preocupados com a possibilidade de o prefeito fracassar no ano que vem, por motivos mais do que óbvios de estratégia.

Doria está em uma disputa aberta por espaço com Bolsonaro, com quem vem trocando farpas —o episódio mais recente foi nesta semana, quando o presidente o acusou de "mamar nas tetas do BNDES" por ter utilizado uma linha de financiamento do banco estatal para comprar um jatinho da Embraer. 

Em São Paulo, o governador tem hoje três pré-candidatos aos quais poderá angariar apoio além de Covas: a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), o seu presidente do Fundo Social, Filipe Sabará (Novo), e o ex-ministro Andrea Matarazzo (PSD).

Desses, Joice é a mais próxima de Doria, o que alimenta especulações de que o governador gostaria de vê-la filiada ao PSDB e disputando a prefeitura no lugar de Covas.

A Folha não conseguiu falar com o governador, que estava voando de volta da Alemanha.

Mas não é só do grupo de Doria que vem a pressão sobre o prefeito. A velha guarda paulistana do PSDB tem preocupação semelhante.

Orbitando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, integrantes do grupo têm conversado sobre alternativas ao nome de Covas. Em reserva, compartilham o diagnóstico de inaptidão do prefeito.

Isso provoca um inusitado alinhamento entre a velha guarda e a ala de Doria, em conflito aberto sobre temas como a expulsão do deputado Aécio Neves do PSDB ou a filiação do deputado Alexandre Frota (ex-PSL) à sigla.

Ambos os lados também consideram que hoje o candidato a ser batido é o ex-governador Márcio França (PSB), que teve vitória expressiva sobre Doria na capital no segundo turno de 2018 --quando registrou 58% dos votos.

Havia um acordo tácito entre França e Covas para que o pessebista não entrasse na disputa, que incluiu colocar na prefeitura um aliado do ex-governador, João Cury Neto.

Isso durou seis meses: Doria interveio e forçou a exoneração dele da Secretaria da Educação, dando a senha para movimentos futuros que agora parecem se consolidar.

Após a publicação desta reportagem, os presidentes do PSDB no estado, Marco Vinholi, e na capital, Fernando Alfredo, criticaram a apuração da Folha. Em nota na manhã deste sábado (31), afirmaram que Covas tem apoio do partido para buscar a reeleição.

 


Nomes cotados à Prefeitura de SP em 2020

PSDB
Bruno Covas

PSL
Joice Hasselmann e Gil Diniz

PT
Eduardo Suplicy, Paulo Teixeira, Carlos Zarattini e Jilmar Tatto

PSB
Márcio França

PDT
Nelson Marconi, Luiz Antônio de Medeiros Neto

PSOL
Carlos Giannazi

PC do B
Orlando Silva 

Novo
Filipe Sabará e Christian Lohbauer

PRB
Celso Russomanno

PSD
Andrea Matarazzo

Sem partido definido
Tabata Amaral, Arthur Mamãe Falei e José Luiz Datena
 

Erramos: o texto foi alterado

Filipe Sabará (Novo) é presidente do Fundo Social de São Paulo, e não o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo. O texto foi corrigido. 

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