Marchas de mulheres indígenas e camponesas se unem em pressão a Bolsonaro

Encontro em Brasília marca encerramento da 1ª marcha das Mulheres Indígenas e início da 6ª marcha das Margaridas

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Milhares de camponesas e mulheres de todo o Brasil participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios

Milhares de camponesas e mulheres de todo o Brasil participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios Pedro Ladeira/Folhapress

Brasília

Trabalhadoras rurais e pescadoras se reuniram a mulheres indígenas na Esplanada dos Ministérios na manhã desta quarta-feira (14) em protesto para pressionar o governo Jair Bolsonaro (PSL).

O encontro marca o encerramento da 1ª marcha das Mulheres Indígenas, cujo mote é “Território: nosso corpo, nosso espírito”, e o início da marcha das Margaridas, com o tema de "luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência.”

A Polícia Militar estima a participação de 30 mil pessoas. Já os organizadores falam em 100 mil, de mais de 40 entidades de diferentes estados e países. 

Milhares de camponesas e mulheres de todo o Brasil participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios
Milhares de camponesas e mulheres de todo o Brasil participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios - Pedro Ladeira/Folhapress

A marcha das indígenas foi organizada pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e teve até vaquinha para financiar a viagem dos indígenas para a capital federal —conseguiram arrecadar pouco mais de R$ 49 mil. Ela ocorre em meio ao Fórum Nacional de Mulheres Indígenas, de 9 a 14 de agosto. 

Já a marcha das Margaridas, realizada desde 2000 a cada quatro anos, foi batizada em homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 1983. O evento é coordenado pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). 

O mote deste ano é “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência.”

“Margarida, presente!”, gritavam as organizadoras, em referência ao grito em memória à vereadora Marielle Franco. 

As trabalhadoras demandam igualdade de gênero, o fim da violência contra a mulher, agricultura sustentável, restrições ao uso de agrotóxicos e reforma agrária, entre outras questões. E não pouparam críticas aos presidente Jair Bolsonaro e ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. 

O ex-candidato Fernando Haddad (PT) e as ex-ministras Eleonora Menicucci (Secretaria de Políticas para Mulheres) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), além de alguns deputados e senadores, estiveram presentes. 

Haddad leu no ato uma carta do ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril do ano passado.

“Cuidar de quem precisa parece que incomoda certas pessoas. Procuramos governar com generosidade de uma mãe que cuida de todos, protegendo os mais fracos”, escreveu o ex-presidente. “Agora, o Brasil é governado pelo ódio e loucura daqueles que falam fino para os poderosos, mas fingem-se de valentes contra os indefesos.”

Diz ainda que a marcha faz as mulheres do campo “serem vistas pelos poderosos de Brasília” e lamenta não estar presente. “O povo brasileiro voltará a ser tratado como merece. As mulheres voltarão a ter o respeito e o carinho que merecem”, escreveu. “O ódio não vencerá o amor. O medo não vencerá a esperança. A grosseria não vencerá a solidariedade.”

Milhares de camponesas participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios
Milhares de camponesas participam da Marcha das Margaridas, na Esplanada dos Ministérios - Pedro Ladeira/Folhapress

Neste ano, pela primeira vez, não entregaram ao governo a pauta de reivindicações. Em vez disso, escreveram uma plataforma política com dez eixos temáticos para compartilhar com a sociedade.

“Construímos uma plataforma com o modelo de sociedade que as margaridas defendem. Não está alinhada com o que o governo está fazendo, que é retirar os direitos das trabalhadoras e das mulheres”, diz Mazé Morais, coordenadora geral da Marcha. 

“Continuaremos marchando até que finalmente reconheçam nossos direitos e nos respeitem”, diz.

Embaladas por uma trilha sonora que incluiu Elis Regina, Luiz Gonzaga e Geraldo Vandré, as manifestantes chegaram à Esplanada dos Ministérios às 10h. Algumas pessoas passaram mal e tiveram que ser socorridas por bombeiros. 

A lavradora Reginalva Nunes, 37, encarou dois dias de viagem até Brasília. Saiu de Vitória do Mearim, no Maranhão. “Às vezes, sofremos preconceito. Não só pela cor da pele, mas por ser mulher. Tem homem que diz que diz que não temos direito”, diz.

Filha de trabalhadores rurais, a professora Cássia Rejane Lima, 33, da cidade de Olho d’Água das Cunhãs, também no Maranhão, foi à marcha pedir direitos iguais aos dos homens e mostrar a importância dos trabalhadores do campo. 

“É a primeira vez que vou à marcha. Estou gostando da força das mulheres. Espero que sejamos ouvidas”, diz ela. 

MARCHA DAS MARGARIDAS

O que é: ato de trabalhadoras rurais criado em homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 1983. É realizado a cada quatro anos

Quando: a 6ª edição será realizada nesta quarta (14) em Brasília. Organizadores esperam 100 mil pessoas

O que querem: preservação do meio ambiente, justiça social e fim da violência de gênero, do racismo, da homofobia e da intolerância religiosa

MARCHA DAS MULHERES INDÍGENAS

O que é: ato organizado pela Apib (Associação dos Povos Indígenas do Brasil) com cerca de 3.000 mulheres, segundo elas, de 120 povos indígenas de diferentes estados

Quando: a caminhada foi realizada pela primeira vez nesta terça (13) em Brasília

O que querem: preservação de terras indígenas, sistema de saúde de qualidade e garantia de direitos aos índios

Marcha das Mulheres Indígenas na Esplanada dos Ministérios - Pedro Ladeira/Folhapress
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