PM faz abordagem em evento do PSOL em SP, e partido vê intimidação

Assessoria da PM diz que ação serviu para averiguar se ruas seriam ocupadas por militantes

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São Paulo

Policiais militares fizeram uma abordagem a militantes do PSOL no encontro estadual de mulheres do partido na manhã deste sábado (3), em São Paulo.

Segundo os dirigentes da legenda, dois policiais pediram documentos dos responsáveis pelo evento e tiveram uma conduta intimidatória ao falar com os militantes.

Em frente a um prédio, 14 pessoas estão dispersas a maioria conversando. Há um homem de farda em entre elas e, em primeiro plano, é possível ver a parte da frente de uma viatura.
Carro da Polícia Militar em frente a encontro de mulheres do PSOL em São Paulo - Divulgação/PSOL

Os policiais militares chegaram em um carro da PM à plenária realizada no Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), na região central de São Paulo, por volta das 9h.

De acordo com os dirigentes do PSOL, os policiais foram ao hall de entrada do sindicato e pediram os nomes e RGs dos responsáveis pelo encontro.

“Como sabemos que não há exigência legal para que a gente se reporte à Polícia Militar em um evento de caráter privado, e inclusive eles não poderiam entrar no sindicato, nós dissemos que não iríamos entregar os documentos e queríamos entender o que eles estavam vindo fazer”, disse à Folha a secretária de finanças da Executiva Nacional do PSOL, Mariana Riscali.

Os policiais responderam que se tratava de uma ação de rotina de segurança. Riscali relata que passou a explicar sobre o encontro de mulheres, mas foi interrompida pela policial.

“Ela [policial militar] disse: ‘Você não precisa me explicar o que está acontecendo aqui. Eu já sei o que está acontecendo, sei quantas pessoas estão confirmadas, sei da programação, sei de tudo. O que nós queremos é o nome e o RG dos responsáveis pelo evento."

Para a secretária do PSOL, essa afirmação da policial configurou uma intimidação.

“Isso deixou bastante claro que eles vieram para cá em uma ação deliberada de tentar invadir e intimidar as mulheres do PSOL. Como sabemos, o PSOL está na linha de frente da oposição tanto ao governo Doria [PSDB] como ao governo Bolsonaro [PSL], então vieram nessa tentativa de intimidação”, disse.

Riscali afirmou que uma militante do partido advogada conversou com os policiais e eles deixaram o local sem que os dirigentes tivessem exibido seus documentos.

Porém, antes de irem embora, os policiais disseram que iriam voltar ao local no período da tarde, com o comandante deles, de acordo com Riscali.

 
Os policiais exibiam identificação em seus uniformes. Quando os dirigentes começaram a tirar fotos deles e do carro da PM, a policial tornou-se agressiva e começou a gritar dizendo que as fotos não poderiam ser feitas, segundo a secretária de finanças da legenda.

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, disse que o partido vai pedir uma apuração à administração estadual e à Promotoria paulista.

“Esse episódio é muito grave e o PSOL vai cobrar explicações das autoridades do Governo do Estado de São Paulo. Vamos procurar os responsáveis pela Segurança Pública e também provocar, através de uma representação, o Ministério Público, para que ele averigue a prática da Polícia Militar neste episódio”.

Em nota, a assessoria da Polícia Militar afirmou que os policiais militares estavam em patrulhamento e fizeram a abordagem para indagar se seriam realizados atos nas ruas, além da plenária.

A Folha questionou sobre o pedido de apresentação de documentos aos responsáveis pelo encontro, conforme relatado pelos dirigentes do PSOL, mas a assessoria da PM não respondeu a essa pergunta.

“A Polícia Militar esclarece que os patrulheiros, que faziam o policiamento na região, foram ao local para verificar concentração de pessoas que se iniciava. Ao tomar ciência de que eram cidadãos ligados a partido político e em reunião para realização de plenária, questionaram se as pessoas, após as discussões, iriam sair em ato democrático, que pudessem tomar vias públicas”, segundo a nota.

“Tudo visando às providências da Polícia Militar para a segurança do evento. Como os presentes disseram que o evento se consistia em reunião interna, os patrulheiros deixaram o local”, completou a assessoria.

Esta é a segunda vez em menos de duas semanas que policiais interrompem reuniões de grupos de oposição ao governo.

No dia 23 de julho, três agentes da Polícia Rodoviária Federal entraram na sede do Sinteam (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas), em Manaus. No local ocorria uma reunião de movimentos sociais que organizavam um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que iria visitar a cidade no dia seguinte.

Os policiais portavam armas, afirmaram agir por ordem do Exército e fizeram perguntas sobre os líderes da manifestação e as organizações envolvidas na iniciativa, segundo relatos de presentes.
Questionado, o Comando Militar da Amazônia (CMA) afirmou em nota que não tinha conhecimento da reunião e que não deu qualquer ordem relativa ao encontro.

O Ministério Público Federal instaurou investigação para apurar o caso. Procurados pela reportagem na época, o Ministério da Justiça e a Polícia Rodoviária Federal não comentaram o caso.

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