PSDB não pode ser oposição, mas Bolsonaro precisa retomar diálogo, diz Doria

Em entrevista na China, governador paulista diz que 'melhor opção para o Brasil não é a dos extremos'

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Xangai (China)

Mesmo com a radicalização recente de Jair Bolsonaro (PSL), o PSDB não deve ser oposição ao Planalto. O presidente, contudo, precisa entender que é preciso retomar o diálogo.

Essa é a opinião do governador João Doria (PSDB-SP), principal nome a emergir como adversário de Bolsonaro em 2022. Ele recebeu a Folha em um hotel de Xangai, onde nesta sexta-feira (9) abrirá o primeiro escritório comercial paulista no exterior.

“Melhor opção para o Brasil não é a dos extremos. Exercer o poder executivo, mas fazer isso retomando o diálogo. Espero que isso possa ser retomado pelo presidente, compreendendo que ele ainda tem três anos e meio de governo pela frente”, disse o tucano.

Com camiseta "Bolsodoria", o então candidato Doria faz campanha em São Paulo
Com camiseta "Bolsodoria", o então candidato Doria faz campanha em São Paulo - Luiz Claudio Barbosa-27.out.18/Código19/Agência O Globo

Doria mediu muito as palavras. Preferiu “não fazer essa análise” ao ser questionado se Bolsonaro teria esticado a corda nas últimas semanas, quando acumulou episódios de confrontação pública.

Mas não fez reparos à lista apresentada pela reportagem, que incluía o embate que derrubou o diretor do Inpe, a escolha do filho Eduardo para ser embaixador em Washington, a falsa acusação de que o pai do presidente da OAB foi morto por companheiros de luta armada na ditadura e críticas aos governador do Nordeste, entre outros.

O tucano crê que a aprovação da reforma da Previdência abre um novo capítulo na narrativa política do país. “O Brasil precisa de união porque é preciso finalizar a reforma. Ela precisa ir ao Senado, reincluir estados e municípios e voltar para a Câmara.”

Ele também acha que é possível, embora difícil, aprovar a reforma tributária neste semestre. “Seria uma grande conquista para o país ter duas reformas tão importantes votadas no primeiro ano do governo Bolsonaro”, disse.

O cronograma embute um cálculo político não dito, afinal de contas é pior para quem for enfrentar o presidente em 2022 que o país eventualmente só venha a reagir positivamente na economia mais para perto do pleito –o que favorece o governante de plantão.

O tucano tem feito um jogo de diferenciação de Bolsonaro que é complexo, dado que elegeu-se em segundo turno no ano passado numa onda que tinha até nome: BolsoDoria.

Questionado sobre essa similaridade dos eleitorados seu e do presidente, buscou estabelecer uma linha quase comportamental. “Bom diálogo é melhor que ataques, distanciamentos e medidas mais radicais. O PSDB não vai se afastar do país, nem vai se alinhar. Mas não vai fazer oposição”, disse.

O movimento é contrário ao que desejam setores do partido na Câmara dos Deputados, que acreditam ser necessário estabelecer já uma oposição aberta ao Planalto com vistas à eleição municipal do ano que vem.

Lembrado que o governo federal pode atrapalhar bastante os estados, Doria disse: “Defendo independência, apoiando as iniciativas positivas. Para isso, você não precisa ser oposição, precisa ter consciência de governabilidade.

O próprio Bolsonaro já disse a que está disposto, quando sugeriu que governos do Nordeste só teriam verbas federais se aceitassem parceria com ele.

Um bom exemplo da dificuldade do tucano em termos de imagem foi sua reação à uma provocação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que sugeriu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva correria riscos se fosse transferido para o sistema prisional paulista.

No Twitter, Doria ironizou que, na cadeia, Lula poderia trabalhar, algo que nunca teria feito. A transferência do petista, preso por corrupção e lavagem de dinheiro em Curitiba, acabou sustada pelo Supremo Tribunal Federal.

“Na verdade, antes da vinda para a China já tínhamos construído o plano L, de plano Lula, prevendo essa possibilidade”, disse.

“Se houver nova decisão para transferir o presidiário Luiz Inácio Lula da Silva para São Paulo, ele terá o tratamento correto e humanitário que todo presidiário tem.”

“O que eu mencionei e reafirmo é que ele não terá ar-condicionado, esteira para fazer ginástica, conversar diariamente com os que o procuram. Ele entrará no sistema prisional de São Paulo e suas regras”, continuou.

Por fim, voltou a alfinetar Lula: “E terá oportunidade de trabalhar, coisa aliás rara na vida do ex-presidente. A cada três dias trabalhados, ele terá um dia a menos na pena”.

Indagado se concordava com a reação da classe política contra a transferência de Lula, que foi da esquerda à direita, ele disse: “Eu defendo a lei, e ela tem de ser aplicada. Não é uma decisão política. Ele deve cumprir a pena onde a Justiça determinar”.

Na viagem, Doria mostrou contudo que seu antiesquerdismo tem alguns limites. Na quarta (7), por exemplo, assinou um acordo com a estatal chinesa ferroviária CR20 em uma sala na qual figurava a foice e o martelo do Partido Comunista que rege a ditadura local.

Ao longo da viagem, derreteu-se em elogios à eficiência e rapidez das obras chinesas, que no país de origem não têm exatamente que se preocupar com órgãos de controle.

Não seria contraditório por alguém que se declara anticomunista e chamou o adversário do Partido Socialista Brasileiro em 2018, Márcio França, de Márcio Cuba?

“Não, porque não estamos aqui para fazer uma avaliação política, mas sim para fazer negócios que geram oportunidades e empregos para brasileiros em São Paulo. Não temos nenhuma visão partidária ou ideológica. Dinheiro não ter cor política, desde que esteja tudo dentro da lei”, afirmou.

O jornalista Igor Gielow viaja a convite da InvestSP

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