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PSL de Bolsonaro cresce com 10 mil ex-filiados ao PT e a outros partidos de esquerda

Partido quer chegar a um milhão de membros, mas expulsão de Frota dá recado de que cúpula quer alinhamento ao presidente

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São Paulo

A expulsão do deputado federal Alexandre Frota às vésperas de uma campanha de filiação do PSL dá a dimensão do desafio do partido de Jair Bolsonaro: crescer e tornar-se relevante, mas com alinhamento ao presidente. 

Uma preocupação do PSL é a presença de esquerdistas atraídos pelo desempenho eleitoral de Bolsonaro. 

Levantamento da Folha com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral mostra que dos 271 mil filiados, cerca de 10,6 mil (4%) já estiveram em siglas identificadas com a esquerda, como PT, PDT, PSB, PSOL, PC do B, PCB, PSTU e PCO. 

O deputado federal Alexandre Frota, expulso do PSL - Pedro Ladeira-10.jul.19/Folhapress

Há 2.837 pessoas que passaram pelo PT. Entre os filiados do PSL, 14% (39 mil) estiveram em outros partidos antes —a maioria integra uma legenda pela primeira vez. 

Já entre os 145 políticos que o PSL elegeu nas eleições de 2018, 78 estiveram em outras siglas antes. Destes, 19 passaram por partidos de esquerda. 

A heterogeneidade da bancada é uma das razões para o fogo amigo e as disputas internas que caracterizam o PSL. 

No sábado (17), o partido fará uma campanha nacional de filiação com o objetivo de alcançar 500 mil membros até outubro e um milhão até as eleições de 2020. O PSL, tragado pelo escândalo de candidaturas laranja, quer consolidar-se não como "o partido de Bolsonaro", mas uma das principais legendas do país. 

No ano que vem, o PSL quer lançar candidatos em todas as capitais e cidades com mais de 100 mil habitantes. 

A expulsão de Frota, na terça (13), por ter feito críticas a Bolsonaro deu o recado de que a cúpula do partido, presidido pelo deputado federal Luciano Bivar (PE), não vai admitir que seus filiados desviem da cartilha bolsonarista. 

Por isso, deputados pregam que o partido exerça algum controle ideológico sobre seus filiados, exigindo posição liberal na economia e conservadora nos costumes. 

No diretório de São Paulo, presidido por Eduardo Bolsonaro, há uma iniciativa de delinear regras para dirigentes e candidatos, como não ter acusações de corrupção e não ter sido filiado a partidos de esquerda nos últimos anos.

"Quantos de nós aqui já ouviu: 'esse cara era do PT até ontem e está querendo se filiar ao PSL para surfar a onda'? Então, por que não colocar como filtro que a pessoa esteja há X anos não filiada ao PT?", disse Eduardo ao assumir o diretório. 

Ao mesmo tempo em que lança vídeos para atrair filiados no sábado, o partido não definiu, contudo, qual seria esse filtro e como aplicá-lo. 

Há dois ex-petistas hoje eleitos pelo PSL. Um deles, o deputado estadual Adalberto Freitas (SP), é a favor do controle. "Há oportunistas e temos que ter cuidado. Também há a possibilidade de alguém se infiltrar a serviço da esquerda", diz à Folha

Freitas esteve no PT entre 2001 e 2006, e no PTB entre 2006 e 2017, antes de entrar no PSL em 2018. Saiu do PT após escândalos de corrupção.

Para não excluir ex-esquerdistas convertidos à direita, como ele, Freitas diz que é preciso olhar caso a caso. "Basta olhar as redes sociais. Se ficou xingando Bolsonaro, fazendo campanha Lula Livre, isso a gente não quer."

De fato, o crescimento do PSL na esteira de Bolsonaro atraiu camaleões políticos. Há quem já tenha passado por 14 siglas, do PT ao DEM. 

O deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP) esteve em seis legendas. O ministro da Ciência, Marcos Pontes, foi do PSB. Os deputados federais Coronel Tadeu (PSL-SP) e Soraya Manato (PSL-ES) e o senador Major Olímpio (PSL-SP) têm passagens pelo PDT. 

A preocupação dos bolsonaristas é que o PSL consolide uma base de apoio político ao presidente, que planeja a reeleição, e não seja somente um atrativo a quem busca viabilidade eleitoral, tempo de TV e verbas de fundos. 

Em São Paulo, o vice-presidente do PSL, deputado estadual Gil Diniz, tem derrubado comissões municipais presididas por pessoas que ele não considera de confiança. 

Foi o caso de Cotia (SP), por exemplo, cujo diretório era controlado por Frota. 

Sinais de infidelidade por parte da bancada do PSL, como ataques ao governo, incomodam o presidente. Em reunião com Bivar no mês passado, Bolsonaro impôs condições para ficar no partido, como a união dos deputados e uma vigilância maior sobre a sigla. 

A expulsão de Frota, nesse contexto, foi vista como um aceno de Bivar a Bolsonaro. 

"Eu entendo o presidente. É desconfortável estar no partido onde haja muitas divergências", admite Bivar. "Mas são todos parte de uma mesma família, os deputados têm sido coesos e leais ao governo nas votações", completa.

O controle do partido é foco de tensão entre o presidente e Bivar, que lidera a sigla desde 1998 e está envolvido no escândalo dos laranjas. Bolsonaro é simpático à ideia de trocar o nome do PSL, por exemplo, algo vetado por Bivar. 

Em mais um sinal de afastamento, Bolsonaro não participará dos eventos da campanha de filiação do PSL no sábado. O presidente irá à cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras, onde se formou, no Rio, e à Festa do Peão de Barretos (SP). 

Insatisfeitos com Bivar, alguns deputados pregam fidelidade a Bolsonaro, mas não necessariamente ao PSL. 

Bibo Nunes (PSL-RS) chegou a entrar com representação no Conselho de Ética contra o presidente da sigla. 

"O coronelismo cabia num partido que nem era antes, nanico. Um partido grande, com 53 deputados, não pode ter dono", diz. 

Outros deputados, porém, minimizam as chances de Bolsonaro sair do PSL ou patrocinar a fundação de um novo partido de direita. Qualquer partido tem seus problemas e suas disputas, observam. 

 

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