Alvo da PF, líder do governo no Senado foi ministro de Dilma e passou por 5 partidos

Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) comandou o Ministério da Integração de 2011 a 2013

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Brasília

Alvo de operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (19), o líder do governo de Jair Bolsonaro (PSL) no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), já passou por cinco partidos e atuou em postos estratégicos de gestões com correntes ideológicas distintas.

Ele comandou o Ministério da Integração de 2011 a 2013, durante o governo de Dilma Rousseff. Na época, integrava o PSB, partido do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que rompeu com o PT para começar sua campanha presidencial e obrigou a sigla a entregar todos os cargos.

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O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) - Pedro Ladeira - 28.mar.2019/Folhapress

Bezerra Coelho sucedeu Romero Jucá (MDB-RR) na liderança do governo Michel Temer (MDB) e, num gesto de aproximação entre o governo Bolsonaro e a maior bancada do Senado (o MDB tem 13 senadores), foi escolhido líder do governo em fevereiro deste ano.

À época, a escolha de Bezerra Coelho representou uma guinada na estratégia do Palácio do Planalto, que optava, então, por um político mais experiente para a função.

Na Câmara, o líder é o estreante Major Vitor Hugo (PSL-GO), que sofria naquele momento com a rejeição de integrantes da base aliada de Bolsonaro.

Sempre visto correndo de um lado para o outro pelos corredores do Senado, ele ajuda também nas articulações em votações que envolvem simultaneamente deputados e senadores, fazendo uma tabelinha com a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP).

O nome de Bezerra como líder foi costurado entre Jucá, presidente do MDB, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que levou a sugestão ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), seu aliado e padrinho político, e que na época tinha uma influência bem maior que atualmente.

Polícia Federal faz operação de busca e apreensão no gabinete do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, e no gabinete da liderança do governo - Pedro Ladeira/Folhapress

O senador foi aceito por Bolsonaro mesmo sendo alvo de resistência de integrantes do governo, como o ministro Sergio Moro (Justiça), e de senadores do PSL justamente por ser alvo de investigações no âmbito da Operação Lava Jato.

Fernando Bezerra Coelho já foi filiado ao PDS, PFL, PMDB, PPS, PSB e, em 2017, retornou ao MDB. Ao longo de sua trajetória política foi deputado estadual e federal, além de prefeito de Petrolina (PE), cidade dominada pela família do senador e comandada atualmente por Miguel Coelho (PSB), um de seus filhos.

Antônio Coelho (DEM), também filho dele, é deputado estadual. O deputado federal Fernando Coelho Filho, também alvo na operação desta quinta, foi ministro de Minas e Energia durante o governo Michel Temer.

O líder do governo tem influência política na gestão Bolsonaro. Bancou a nomeação do advogado Antônio Campos para presidir a Fundação Joaquim Nabuco. Antônio é irmão de Eduardo Campos e há alguns anos vive uma crise com o PSB pernambucano e com Renata Campos, viúva do ex-governador.

Bezerra Coelho também proporcionou a Bolsonaro sua  primeira viagem ao Nordeste, em Petrolina, em maio, apesar da oposição do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).

Bezerra no STF

O senador Bezerra Coelho já foi alvo de ao menos mais seis inquéritos no STF. Com a operação da PF deflagrada nesta quinta-feira, o número sobe para sete. 

Em um dos casos, a denúncia foi rejeitada e houve arquivamento. Nos outros cinco, os processos foram remetidos a instâncias inferiores em Pernambuco e Alagoas e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). 

Um deles trata de investigações na Lava Jato e apura supostas irregularidades anticompetitivas em obras do Porto de Suape (PE).
 
Um outro é um desdobramento da mesma operação e investiga suspeitas de solicitações e recebimentos de vantagens indevidas nos contratos do Canal do Sertão (AL).

A obra pertence à Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Transposição

Um dos focos da investigação da PF desta quinta-feira são as obras de transposição do rio São Francisco. A transposição é a maior obra hídrica do Brasil. O eixo leste foi inaugurado às pressas e, o norte segue sem previsão para conclusão. O orçamento inicial de toda a obra saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões.

A obra, sempre apontada como a redenção do Nordeste a partir do beneficiamento de 12 milhões de pessoas e do impulsionamento de um novo modelo econômico, hoje apresenta sinais visíveis de deterioração, como mostrou a Folha em reportagem no início deste mês: paredes de concreto rachadas, estações de bombeamento paralisadas, barreiras de proteção rompidas, sistema de drenagem obstruído e assoreamento do canal em alguns trechos. 

Devido aos atropelos gerados pela conveniência do prazo político, o empreendimento hídrico não suportou entrar em funcionamento antes do tempo. Foi inaugurado sem nem sequer ter a drenagem completamente executada e o sistema operacional de controle implantado.

O eixo leste, que corta Pernambuco e Paraíba, foi inaugurado às pressas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), em março de 2017, e logo em seguida, de maneira simbólica, pelos petistas Lula e Dilma Rousseff. A água sumiu há cinco meses e parte da região, que vislumbrou o fim da indústria da seca, continua sendo abastecida por carros-pipas.

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