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Postagem atribui a Maia declaração falsa sobre votações no Congresso

São falsas postagens que atribuem a Rodrigo Maia a frase 'a Câmara não é obrigada a ouvir o povo'

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São Paulo

Uma imagem publicada no Facebook na última segunda-feira (23) distorceu uma fala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dita há quase três anos.

A postagem atribui a Maia a seguinte declaração: "O Congresso não é obrigado a ouvir o povo. Isto aqui não é como um cartório onde a gente carimba o que o povo está pedindo". No entanto, Maia não disse que "a Câmara não é obrigada a ouvir o povo", e sim que a Casa tem independência para debater.

A frase que o presidente da Câmara realmente disse foi: “Nós não podemos aceitar que a Câmara dos Deputados se transforme num cartório carimbador de opiniões de parte da sociedade, que são democráticas, que são respeitadas, mas que a Câmara de Deputados tem toda a legitimidade para ratificar, para modificar ou até para rejeitar. Nós aqui não somos obrigados a aprovar tudo que chega a este Plenário”.

Postagem no Facebook com foto de Maia traz a seguinte declaração: "O Congresso não é obrigado a ouvir o povo. Isto aqui não é como um cartório onde a gente carimba o que o povo está pedindo".
São falsas postagens que atribuem a frase 'a Câmara não é obrigada a ouvir o povo' ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Postagens semelhantes circulam desde o fim de 2016. - Reprodução/Projeto Comprova

A declaração correta está disponível no site da Câmara e em um vídeo do discurso publicado na página do próprio Rodrigo Maia no Facebook em 1º de dezembro de 2016 (a partir de 4min32). A declaração falsa vem sendo usada pelo menos desde 2016 em ataques a Maia, com diferentes motivações e contextos.

Esta verificação do Comprova analisou conteúdos publicados em um perfil pessoal e no grupo Equipe do Bolsonaro de Plantão, no Facebook, e no perfil Nando Moura_Oficial no Twitter.

Falso para o projeto Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

A fala original de Maia foi dita em 30 de novembro de 2016, depois que a Câmara votou o pacote de dez medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério Público Federal (MPF). Na ocasião, em uma votação de madrugada, os deputados derrubaram quase todos os pontos do projeto.

A menção mais antiga à frase distorcida que o Comprova conseguiu encontrar está em um texto do site Chumbo Gordo. Pelo site, não é possível saber a data exata em que o texto foi publicado. O link traz apenas a informação de que foi publicado “há 3 anos”.

Apesar de o texto do Chumbo Gordo com a frase errada de Maia não indicar a data de publicação, as menções a uma coluna da Folha, publicada no dia 5 de dezembro de 2016, e a um texto do Uol, do dia 6 do mesmo mês, podem servir como referência do momento em que a declaração distorcida foi publicada —provavelmente no começo de dezembro de 2016. No Facebook, a página do Chumbo Gordo compartilhou o texto no dia 7 daquele mês.

O texto do Chumbo Gordo sugere que a frase falsa de Maia tenha sido publicada na Folha. No entanto, nem a coluna de Vinicius Mota referida pela publicação ou outro texto da Folha no período faz referência à suposta frase de Maia, como mostra busca avançada nos arquivos do jornal. Em buscas no Google também não foram encontrados registros.

De lá para cá, a distorção da fala de Maia foi usada para criticar o deputado em diversas ocasiões e por diferentes motivos.

Em agosto de 2017, conforme noticiou O Globo, a frase voltou a circular nas redes logo antes de a Câmara votar —e rejeitar— uma denúncia criminal contra o então presidente Michel Temer (MDB).

Já neste ano, em fevereiro, a reeleição de Maia para o comando da Câmara fez a frase enganosa voltar a circular, como mostrou checagem do Estadão Verifica.

No fim de março, o presidente da Câmara anunciou que o pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, não era prioridade na Casa — e a declaração distorcida foi vista novamente no Twitter e em grupos bolsonaristas no WhatsApp.

Este mês, a frase reapareceu depois que a Câmara aprovou, na última quarta-feira (18), projeto de lei que afrouxa regras para o uso de dinheiro público em despesas de partidos e candidatos. Para entrar em vigor, o texto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Uma busca no Twitter revela que uma das imagens usadas em postagens com a hashtag #MaiaTraidordaPatria (que chegou ao topo dos assuntos mais comentados da rede depois da aprovação do projeto) é justamente a que traz a frase enganosa.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

A postagem de Nando Moura no Twitter com a frase atribuída a Maia foi publicado no dia 19 e, até a tarde do dia 25, teve 3.500 retuítes.

A mesma imagem com a frase também foi publicada no Facebook em um perfil pessoal no dia 23 de setembro. Até o dia 25, a postagem teve mais de 7.600 compartilhamentos.


Participaram da apuração deste texto Uol e Nexo.

Projeto Comprova

O Comprova é uma coalizão de veículos jornalísticos que visa identificar, checar e combater rumores, manipulações e notícias falsas sobre políticas públicas. É possível sugerir checagens pelo WhatsApp da iniciativa, no número (11) 97795-0022.

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