Ausência de autoridades marca lançamento de livro de Janot em Brasília

Evento na capital federal foi mais concorrido do que a noite de autógrafos em São Paulo

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Brasília

O ex-procurador-geral Rodrigo Janot lançou seu livro "Nada Menos que Tudo" em Brasília, na noite desta terça-feira (8), em evento mais concorrido do que o realizado em São Paulo na véspera. A ausência de autoridades de destaque do Ministério Público Federal e do Judiciário, no entanto, foi notada.

Janot chegou à Livraria Leitura do shopping Píer 21, na capital federal, às 19h11 e não falou com os jornalistas. A assessoria da editora Planeta, que editou o livro, informou que ele não daria entrevistas.

A fila para assinaturas perdurou de antes das 19h até as 22h05. De 500 exemplares disponíveis, 220 haviam sido vendidos até as 20h05, segundo a gerente da livraria, Hirma Paredes. Desses, 77 foram vendidos ao longo do dia. Outros 20 exemplares foram reservados por telefone. A loja não divulgou balanço final de vendas ao final do evento.

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot durante lançamento de seu livro, em livraria de shopping de Brasília
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot durante lançamento de seu livro, em livraria de shopping de Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O público presente era de conhecidos de Janot, jornalistas, servidores do Ministério Público e advogados. Janot comandou a Procuradoria-Geral da República de 2013 a 2017. Os colegas do primeiro escalão de sua gestão não compareceram.

Na noite de segunda-feira (7), Janot participou do lançamento do livro em São Paulo, em uma livraria nos Jardins, também sem a presença de autoridades notáveis do Judiciário ou do Ministério Público Federal.

Em São Paulo, dos 550 exemplares disponíveis, somente 43 foram vendidos. A noite de autógrafos foi pouco concorrida e terminou cedo.

O livro de memórias foi feito por Janot em depoimento aos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin.

Tanto em São Paulo como em Brasília, o ex-procurador-geral não quis comentar a declaração polêmica, dada às vésperas do lançamento do livro, de que, em 2017, foi armado ao Supremo Tribunal Federal com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes, seu desafeto.

No livro Janot narra o episódio de forma resumida, sem dar nomes e detalhes. A motivação para o assassinato seria um comentário, que Janot atribui a Gilmar, de que sua filha tinha relações pouco republicanas com empresas envolvidas na Lava Jato.

Letícia Monteiro de Barros, filha de Janot, é advogada e representara a construtora OAS no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, diz Janot na obra.

“Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não.” ​

No último dia 27, Janot foi alvo de busca e apreensão determinada pelo STF por causa das declarações dadas. O ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a medida, determinou também que ele mantenha 200 metros de distância dos ministros do tribunal.

Planejar um ato ilícito sem concretizá-lo não é crime, mas, no caso de Janot, pode ter implicações disciplinares e civis, pois ele era da ativa e chefiava a PGR (Procuradoria-Geral da República) na época dos fatos. O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) recebeu representação para investigar a conduta do ex-procurador-geral, que hoje é aposentado.

Outro trecho polêmico do livro foi levado ao Supremo na segunda-feira pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba desde abril de 2018, depois de ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).

O trecho conta que procuradores da força-tarefa da Lava Jato, incluindo Deltan Dallagnol, foram à PGR falar com Janot, em setembro de 2016, para pedir que ele invertesse a ordem das denúncias que pretendia apresentar ao STF para atingir primeiro o ex-presidente Lula.

“‘Precisamos que você inverta a ordem das denúncias e coloque a do PT primeiro’, disse Dallagnol, logo no início da reunião”, narra Janot no livro.

“Paludo [Januário Paludo, da força-tarefa] disse, então, que eu teria que denunciar o PT e o Lula logo, porque, se não fosse assim, a denúncia apresentada por eles contra o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ficaria descoberta”, continua o ex-procurador-geral na obra.

Para os advogados de Lula, “a narrativa do dr. Rodrigo Janot reforça que os procuradores da República de Curitiba estavam promovendo uma perseguição” contra o petista. A defesa juntou esse trecho do livro a um pedido de habeas corpus, que já tramitava no STF, no qual sustenta a suspeição dos procuradores.

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