Bolsonaro quer descartar PSL para se reeleger em 2022, diz Luciano Bivar

Presidente do partido diz que Bolsonaro é 'intuitivo' e adota 'estratégia pessoal'

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Wanderley Preite Sobrinho
São Paulo e Brasília | UOL

Alvo de ataques recentes do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), o fundador e presidente do PSL, Luciano Bivar, afirmou nesta quarta-feira (9) ao UOL que a intenção do capitão reformado é "descartar" o partido para tentar se reeleger em 2022.

"No mundo político não dá para entender tudo. Bolsonaro é muito intuitivo. No momento que ele tem o sentimento de que é hora de descartar o PSL para ser reeleito, então é uma estratégia", afirmou Bivar à reportagem.

O presidente do PSL evitou relacionar a intenção de Bolsonaro em "descartar" a legenda aos escândalos envolvendo candidaturas laranjas do PSL. "Talvez seja [por isso] na cabeça dele. Eu não sei, como vou entrar no mundo subjetivo do presidente?", disse. "Talvez seja uma estratégia pessoal."

O deputado federal Luciano Bivar, presidente nacional do PSL
O deputado federal Luciano Bivar, presidente nacional do PSL - Pedro Ladeira - 20.fev.19/Folhapress

Na terça (8), Bolsonaro orientou um apoiador a esquecer o partido e que não divulgasse um vídeo no qual citava Bivar, dizendo que o deputado está "queimado". "Esquece o PSL, tá ok? Esquece", afirmou o presidente.

Apesar da declaração de Bolsonaro, Bivar adotou tom conciliador e afirmou que não conversou com o presidente depois da polêmica de terça porque "estava em viagem e em compromissos oficiais".

Bivar também afirmou que pretende continuar apoiando o governo e que preferia perder sua eleição no ano passado a ver "Jair perder a dele".

O presidente do PSL também disse que gosta dos filhos do presidente e que não desembarca do governo mesmo com a saída de Bolsonaro do partido.

"Os filhos deles ajudam o partido. Sempre que ouço algo é de respeito a mim, acho eles muito humildes", afirmou. 

Bivar disse ainda que não ofereceu o partido ao presidente. "Ele que veio ao partido. Eu ficava fulo quando nos colocavam no saco de partido de aluguel."

Questionado, disse que não pretende punir Bolsonaro caso ele desista de deixar a sigla.

"Não teve nenhuma oferta fisiológica dele ao partido; foi isso que me passou credibilidade em aceitá-lo no PSL. Ele não tem nenhum comprometimento de traição porque a coisa foi feita em cima de ideais de mudar a estrutura do país."

O deputado negou ainda preocupação com uma possível debandada do partido.

"Eu não sei se é um tiro fatal [ao PSL] a saída de Bolsonaro. O que menos importa pra mim é o fundo partidário, é uma gama imensa de candidatos que não veneram os mesmos princípios. O PSL vive há 20 anos."

Histórico

Bolsonaro expôs a crise dentro de seu partido na manhã de terça ao dizer a um apoiador que era para ele "esquecer o PSL" e que Luciano Bivar estava "queimado pra caramba".

As declarações registradas na saída do Palácio da Alvorada causaram reação imediata dentro da legenda, que está no centro do escândalo das candidaturas laranjas e passa por uma disputa interna de poder.

Em reportagens publicadas desde fevereiro, a Folha revelou esquema de desvio de verbas públicas do PSL por meio de candidatas femininas de fachada, caso que atinge não só o ministro do Turismo de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, mas também Bivar.

O presidente da sigla começou a ser investigado pela Polícia Federal após a Folha revelar que ele patrocinou a destinação de R$ 400 mil de verba eleitoral do partido para uma secretária da sigla em Pernambuco, a quatro dias da eleição. 

Maria de Lourdes Paixão oficialmente concorreu a deputada federal e, apesar de ser a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, obteve apenas 274 votos.

Nesta terça, o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), afirmou ter ficado perplexo com a declaração de Bolsonaro sobre Bivar.

"Nos pegou a todos de calças curtas. Talvez o presidente esteja vislumbrando uma situação que nós não vemos", afirmou o senador, que rompeu com Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) —também senador e um dos filhos do presidente— e já ameaçou deixar a sigla.

Um dos principais responsáveis pela linha adotada nas redes sociais por Bolsonaro e o bolsonarismo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) publicou críticas a Olimpio, afirmando que "a ingratidão se revela a cada momento".

Carlos também compartilhou mensagem de um dos principais aliados de Bolsonaro, o deputado federal Hélio Negão (PSL-RJ), que lembrou bordão do presidente. 

"Hoje a mídia noticia alarmada: 'Bolsonaro pede para esquecer o partido'. Qual é a surpresa? Brasil acima de tudo, inclusive de partidos", escreveu Hélio. 

Nas últimas semanas, o presidente tem avaliado a possibilidade de deixar o PSL e se filiar a uma outra sigla pequena ou a um partido em formação. 

Na segunda (7), Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto a advogada Karina Kufa, que está em embate interno dentro do PSL contra o grupo de Bivar.

Uma ala do partido também decidiu preparar um manifesto de apoio ao presidente da legenda, como revelado pelo Painel.
 
O texto que começou a circular exalta a importância da sigla nas eleições de 2018 e prega que Bivar redistribua postos de comando da legenda nos municípios —medida que poderia até mesmo desfazer arranjos impostos por Flávio no Rio e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em São Paulo.

O PSL foi criado em 1998 por Bivar e, nos 20 anos seguintes, foi uma sigla nanica, de baixíssima expressão política nacional. 

Somente no começo de 2018 a sua história mudou ao acertar a filiação de Bolsonaro, que desistiu de ingressar no Patriota e sacramentou a sétima mudança de partido em sua carreira política.

Com a onda que deu a vitória a Bolsonaro em outubro de 2018, o PSL foi a sigla mais votada e acabou elegendo a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Os cofres do partido também ficaram recheados. Em 2018 a sigla recebeu pouco mais de R$ 9 milhões do fundo partidário, que é a fonte pública de receita das legendas. Com os votos recebidos na onda Bolsonaro, o partido terá essa verba multiplicada por 12 neste ano, sendo a número um do ranking, com cerca de R$ 110 milhões.

RAIO-X DO PSL

271.195 filiados (em ago.19)

3 governadores

53 deputados federais

3 senadores

R$ 110 milhões em repasses do fundo partidário em 2019 (estimativa)

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