Com Irmã Dulce, Brasil tem 37 santos e 51 beatos; conheça alguns deles

Só neste século foram 34 reconhecidos, incluindo 30 mártires do século 17 no Rio Grande do Norte

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Ribeirão Preto

A lista era pequena até o fim do século passado, mas os anos 2000 foram pródigos em reconhecimentos pela Igreja Católica de santos e beatos que nasceram ou atuaram em solo brasileiro.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não tem dados sobre o assunto, mas um levantamento do professor Fernando Altemeyer Júnior, chefe do departamento de ciência da religião da PUC-SP, indica, já contando com a canonização de Irmã Dulce, 37 santos, 51 beatos, 15 veneráveis e 68 servos de Deus.

Há, ainda, cerca de 130 processos em curso na Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano.

Desse total, 34 santos foram reconhecidos neste século, numa lista que inclui, além de Irmã Dulce, José de Anchieta (2014), madre Paulina (2002) e frei Galvão (2007). Em 2017, foram 30 de uma vez, como André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, conhecidos como Mártires de Cunhaú e Uruaçu (RN).

Já entre os beatos, o próximo a receber a honraria é o padre Donizetti Tavares de Lima, cuja beatificação ocorrerá em novembro em Tambaú, no interior paulista. O título é concedido a quem teve um milagre reconhecido pela Igreja Católica, um a menos que o normalmente exigido para a canonização.

Há, ainda, 15 veneráveis (pessoas com virtudes reconhecidas) e ao menos 68 servos de Deus (com causas oficialmente abertas em estudo no Vaticano), segundo Altemeyer Júnior. Entre eles dom Helder Câmara, dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e Zilda Arns.

A FÉ NO BRASIL

Alguns dos santos e beatos

Irmã Dulce (1914-1992)
Nascida em Salvador, ficou conhecida como “anjo bom da Bahia” e teve uma trajetória marcada por trabalhos assistenciais desenvolvidos com comunidades carentes da capital baiana.

A atuação teve início quando improvisou uma enfermaria para cuidar de doentes num espaço ocupado por um galinheiro. Atualmente, as Obras Sociais Irmã Dulce fazem em média 3,5 milhões de atendimentos por ano.

O processo foi iniciado em 2000, oito anos após a morte, e resultou na beatificação em 2011, numa cerimônia que reuniu 70 mil pessoas em Salvador.

Foi proclamada santa pelo Vaticano neste domingo (13) graças à cura instantânea da cegueira de um homem de cerca de 50 anos, que voltou a enxergar após 14 anos.

Padre Donizetti Tavares de Lima (1882-1961)
Será beatificado em novembro em Tambaú (SP), cidade em que atuou a maior parte de sua vida religiosa.

O milagre que resultou na beatificação foi a cura de Bruno Henrique Arruda de Oliveira, que sofria de pé torto congênito bilateral (pés arqueados, que impediam encostar as plantas dos pés no chão). Foi curado em 2006, ainda bebê. Hoje tem vida normal.

A investigação da Igreja durou sete anos, até a assinatura do decreto pelo papa Francisco.

Mineiro de Cássia, morreu em Tambaú em 1961, aos 79 anos, onde chegou em 1926 para comandar uma paróquia. Ainda em vida tinha fama de “milagreiro” e a frente de sua casa, hoje museu, era tomada por fiéis.

Há outros relatos de supostos milagres, mas para que haja a canonização, segundo o santuário, é preciso que surja um caso após a beatificação.

Mártires do Rio Grande do Norte
Em outubro de 2017, o papa Francisco canonizou de uma vez 30 mártires assassinados no século 17 no Rio Grande do Norte, no período de dominação holandesa.

Em 1645, um grupo de católicos foi arrastado para um trecho do rio Potengi, perto de Natal e, no local, tiveram as línguas arrancadas e as pernas e braços decepados por soldados holandeses e índios tapuias. Crianças foram partidas ao meio

Ao todo, 28 dos 30 mártires nasceram no Brasil, e a celebração da canonização reuniu 35 mil fiéis no Vaticano.

O episódio ficou conhecido como massacre de Cunhaú e Uruaçu, e a canonização ocorreu após investigação de quase três décadas. Entre as características para santificar as vítimas do massacre estão morte violenta, imposta por ódio à fé e livremente aceita pela vítima.

José de Anchieta (1534-1597)
Foi canonizado em 2014, num processo concluído somente 417 anos após ser iniciado, em 1597, ano da morte do religioso nascido nas Ilhas Canárias.

Diferentemente de outros santos, não teve milagres comprovados. O papa Francisco dispensou a necessidade após ouvir relatório sobre a vida e a obra do chamado apóstolo do Brasil. O mesmo já tinha sido feito pelo papa João Paulo 2º quando da beatificação de Anchieta, nos anos 80.

Agora são José de Anchieta, o religioso chegou ao Brasil em 1553 e participou da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, berço da capital paulista.

Foi reconhecido como servo de Deus (séc. 17) e venerável (séc. 18), até o processo ser paralisado após a Companhia de Jesus, à qual pertencia, ter sido suspensa pelo papa Clemente 14. A causa só foi retomada na segunda metade do século 19.

Frei Galvão (1739-1822)
Nascido em Guaratinguetá (SP), recebeu o título de santo em maio de 2007, 185 anos após a morte. Foi o primeiro santo nascido no Brasil a ser reconhecido.

A canonização ocorreu graças ao caso de uma mulher que sofria de má-formação do útero e já tinha tido dois abortos espontâneos conseguir ter um filho na terceira gravidez. Ela tomou as pílulas do frei Galvão.

O Tribunal Eclesiástico considerou o milagre como o segundo do religioso. O primeiro foi de uma jovem que, quando criança, tomou as pílulas e se curou de uma encefalopatia hepática.

A missa de canonização do frei franciscano reuniu 1,2 milhão de pessoas no Campo de Marte (zona norte da capital, segundo estimativa da SPTuris (São Paulo Turismo).

Madre Paulina (1865-1942)
Nascida na Itália, foi canonizada em maio de 2002 pelo papa João Paulo 2º, 60 anos após a sua morte.

Fundou sua congregação religiosa em Nova Trento (SC), adotou o nome Paulina do Coração Agonizante de Jesus e atuou em hospitais, onde cuidou de muitas pessoas afetadas por algum tipo de câncer

A cerimônia de canonização foi acompanhada durante a madrugada por cerca de 10 mil pessoas em Nova Trento, por meio de quatro telões instalados no bairro de Vígolo, onde madre Paulina viveu e iniciou sua obra.

O primeiro milagre atribuído a ela surgiu em 1966. O segundo, que a transformou em santa, ocorreu em 1992 —a cura, após cirurgia, de uma menina de cinco dias de vida que nasceu com má formação cerebral.

COMO FUNCIONA O PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

  • Na primeira fase, cinco anos após a morte do candidato, abre-se um processo para investigar a fama de santidade e as virtudes cristãs da pessoa. Se tudo caminhar bem, ela é classificada como "serva ou servo de Deus". Essa primeira fase acontece no local onde o candidato morreu
  • A avaliação passa para a Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. Se a congregação avaliar que a conduta, a fé e o pensamento do candidato eram irrepreensíveis, ele se torna "venerável", dotado das chamadas virtudes heroicas
  • A comprovação de um primeiro milagre (cura sem explicação médica clara, realizada quando um fiel pediu a intercessão do candidato a santo junto a Deus) faz com que o candidato se torne beato, já podendo ser venerado em sua região de origem. Caso tenha morrido como mártir (em defesa da fé), os passos 1 e 2 podem ser pulados
  • Com um segundo milagre, vem a possibilidade da canonização, em que a pessoa é proclamada santa e pode ser cultuada no mundo todo. O papa pode deixar de lado a obrigatoriedade do segundo milagre em circunstâncias especiais
 
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