Com possível saída de Bolsonaro, PSL acena a Witzel de olho em 2022

Governador do Rio de Janeiro, hoje no PSC, flerta com candidatura ao Planalto e teria acesso a mais recursos na sigla do presidente

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Brasília

Uma possível saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL abre portas para nomes que hoje já são considerados adversários do bolsonarismo na eleição presidencial de 2022.

A ala da sigla ligada ao deputado Luciano Bivar (PSL-PE), atual presidente do partido, vem defendendo que, tão logo Bolsonaro e seus aliados deixem a legenda, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, seja incorporado ao PSL. A Folha apurou que a direção do partido decidiu oficializar o convite na semana que vem. 

Atualmente no PSC do Pastor Everaldo, Witzel tem flertado com a candidatura ao Palácio do Planalto e uma eventual migração para o PSL daria estofo a suas pretensões presidenciais.

Até o fim de 2019, por exemplo, o PSL deve receber cerca de R$ 100 milhões a mais do que o PSC do fundo partidário.

Witzel e Bolsonaro sentados
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e o presidente Bolsonaro (PSL) durante cerimônia de integração do submarino Humaitá nesta sexta (11), em Itaguaí - Marcos Corrêa/Presidência da República

No próximo ano, somando os fundos partidário e eleitoral, o PSL pode ter em caixa R$ 350 milhões —o valor leva em conta as estimativas de R$ 1 bilhão para o fundo partidário, e os R$ 2,5 bilhões propostos pelo governo para o fundo eleitoral. 

Caso esse seja o cenário em 2020, o PSL vai ficar com a maior fatia de recursos entre todos os 32 partidos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Com apenas nove deputados, o nanico PSC receberá cerca de R$ 60 milhões, somando os dois fundos. 

O grupo de Bivar tem feito uma série de gestos a Witzel. Em conversas recentes no Rio e em Brasília, deputados do PSL disseram ao governador que, hoje, é ele "o sonho de consumo" do partido. 

Aliados de Witzel admitem que os acenos de integrantes do PSL têm sido constantes. O governador, no entanto, tem repetido o discurso de que sua missão é a de fortalecer o PSC em todo o país. 

Políticos que acompanharam a ascensão do ex-juiz ao Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, dizem que a relação que Witzel construiu com Everaldo pode ser um empecilho a uma eventual mudança de partido.

Parlamentares do PSL disseram à Folha que os cortejos a Witzel têm acontecido há algum tempo —antes, portanto, de Bolsonaro escancarar a crise com a sigla— e que nenhum gesto mais enfático havia sido feito até agora porque o presidente e o governador são tidos como rivais.  

Na quarta-feira (9), por exemplo, Bolsonaro e Witzel se encontraram no aniversário do ministro Augusto Nardes, do TCU (Tribunal de Contas da União), em Brasília. Embora tenham se falado rapidamente e até posado para fotos, o clima foi de constrangimento, segundo relatos feitos à Folha

Como mostrou o Painel nesta sexta-feira (11), o presidente deixou a festa logo depois de o governador chegar.

O racha com o clã Bolsonaro ficou explícito assim que Witzel escancarou seu desejo de disputar a eleição ao Planalto em 2022. Desde então, o governador do Rio passou a trabalhar para se descolar da imagem do presidente, a quem apoiou em 2018.

No fim de setembro, o PSL no Rio, sob o comando do senador Flávio Bolsonaro, decidiu deixar, formalmente, a base da gestão Witzel

O filho mais velho do presidente chegou a determinar a saída do governo e a ameaçar de expulsão os que permanecessem nos cargos. Diante da resistência de deputados e de seus indicados, foi obrigado a rever a posição.

Derrotado, Flávio teve de ceder e delegar aos filiados a decisão de manter ou não seus indicados nos cargos do governo. Atualmente, o PSL ocupa 40 postos na administração estadual, incluindo duas secretarias.

Como mostrou a Folha no dia 30 de setembro, o governador vem se dedicando pessoalmente à montagem de um palanque, com o objetivo de viabilizar seu sonho de chegar à Presidência da República.

O desgaste da relação de Bolsonaro com a direção do PSL, comandada por Bivar, ficou escancarado na terça-feira (8), quando o presidente disse a um apoiador que o deputado estava "queimado pra caramba".

Bolsonaro tem dito a aliados já ter tomado a decisão de deixar o partido. O presidente busca, no entanto, uma saída jurídica para levar parlamentares, evitar perdas de mandatos e ainda tentar manter o fundo partidário.

Se isso ocorrer, deve seguir o movimento um grupo de cerca de 20 deputados fiéis ideologicamente a Bolsonaro —do total de 53 da bancada do PSL.

RAIO-X DO PSL

271.195 filiados (em ago.19)

3 governadores

53 deputados federais

3 senadores

R$ 110 milhões em repasses do fundo partidário em 2019 (estimativa)

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