CPI aprova convocação de testemunha que base de Doria manobrou para adiar

Comissão decide que engenheiro exonerado após conflito com empreiteiras irá depor aos deputados

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São Paulo

​​Às vésperas do seu encerramento, a CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo que apura suspeitas de irregularidades na Furp (Fundação Paulista para o Remédio Popular)​ aprovou nesta terça (15) a convocação de uma testemunha que havia sido adiada por uma manobra da base do governo João Doria (PSDB).

Por unanimidade, os deputados da comissão investigativa decidiram que o engenheiro Luiz Roberto Beber deve depor na próxima semana ao colegiado.

Ele é considerado um personagem essencial para entender o processo de construção da fábrica da Furp em Américo Brasiliense (SP) durante governos tucanos. A obra é foco de suspeitas de corrupção.

Reunião de instalação da CPI da Furp na Assembleia Legislativa de SP, com o presidente Edimir Chedid (DEM) à mesa
Reunião de instalação da CPI da Furp na Assembleia Legislativa de SP - Carol Jacob - 26.abr.2019/Divulgação Assembleia Legislativa de São Paulo

Apesar de o nome de Beber não estar envolvido no escândalo, foi após a sua exoneração como assessor técnico da fundação que os indícios de irregularidades na obra começaram a aparecer.

A convocação foi aprovada pela CPI após a Folha revelar que uma manobra da deputada Carla Morando, líder do PSDB na Assembleia e aliada de Doria, colocou em xeque a viabilidade do depoimento no prazo necessário.

Carla não é integrante da comissão e participou de uma reunião no último dia 8 como integrante eventual (como líder do partido, ela pode se autoindicar) em substituição ao deputado Cezar (PSDB), que havia faltado. Na sessão, ela pediu vista do requerimento que convocava Beber.

Além dela, estava nessa reunião o líder do governo na Assembleia, Carlão Pignatari (PSDB), que também não é integrante da CPI.

Luiz Roberto Beber atualmente trabalha na Prefeitura de São Bernardo do Campo (no ABC paulista), cujo prefeito é o tucano Orlando Morando, marido de Carla e também aliado de Doria. 

Quem protocolou o pedido de convocação dele foi o presidente da CPI, Edmir Chedid (DEM).

A reunião desta terça foi a última em que havia possibilidade de aprovar convocações na CPI. Na próxima terça (22) deve acontecer o depoimento do engenheiro. No dia 29 de outubro, o deputado Alex de Madureira (PSD) terá que entregar um relatório final, que deve ser votado antes de 9 de novembro.

Beber foi exonerado, segundo sindicância da Furp, em 2007, após conflitos que teve com o consórcio responsável pela obra da fábrica em Américo Brasiliense. Ele disse, na sindicância, que após sair da Furp “se prontificou a prestar esclarecimentos aos novos gestores, mas nunca foi contratado”. Ainda admitiu que chegou a solicitar formalmente a troca do gestor do consórcio.

Foi após a saída de Beber que começaram os episódios suspeitos de corrupção, relatados em delação de executivos da Camargo Corrêa firmada com o Ministério Público de São Paulo, que está sob sigilo.

Em 2017, aos promotores, o executivo Martin Wende disse que houve pagamento de propina a representantes do governo de 2008 a 2013. Uma das pessoas que teria recebido essa propina, segundo os delatores, foi o sucessor de Beber, Ricardo Mahfuz.

Segundo ele, parte dessas propinas foi paga para o governo não recorrer de uma sentença judicial que determinava o estado a pagar R$ 22 milhões à Camargo Corrêa. 

Em 2013, sob Alckmin, o governo concedeu a gestão, operação e manutenção da fábrica de Américo Brasiliense à iniciativa privada por meio de PPP por 15 anos.

No começo de 2019, após a base do governo conseguir barrar a instalação de uma CPI que investigasse a Dersa (estatal de rodovias), oposicionistas e deputados independentes pretendiam usar como plano B a CPI da Furp para mapear eventuais irregularidades em governos do PSDB no estado.

Na Assembleia Legislativa, o governo já conseguiu aprovar a extinção da Dersa. Agora tenta também incluir a Furp em uma leva de desestatização e extinção que inclui outras entidades da área de saúde, como a Fosp (Fundação Oncocentro de São Paulo) e a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias).

A Secretaria de Saúde tem dito que está à disposição para colaborar com as investigações em relação à Furp. A reportagem não conseguiu contato com Beber e Mahfuz. 

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