Beatificação de padre Donizetti deve reunir 80 mil em cidade no interior de SP

Religioso morto em 1961 que viveu em Tambaú teria curado menino que tinha pé torto

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Ribeirão Preto

A beatificação do padre Donizetti Tavares de Lima (1882-1961) deverá levar neste sábado (23) até 80 mil pessoas às ruas da pacata Tambaú, no interior paulista, cidade em que o religioso viveu por 35 anos e desenvolveu ações sociais.

Com população estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 23.207 habitantes —o que significa que receberá um contingente mais de três vezes maior—, a celebração da beatificação obrigou polícia e igreja a desenvolverem um esquema para controlar desde o fluxo de veículos nas rodovias ao acesso ao local da celebração.

Donizetti será beatificado a partir das 9h devido à graça alcançada pela dona de casa Margarete Rosilene Arruda de Oliveira, de Casa Branca (SP), que em 2006 pediu a intercessão do padre para curar um de seus filhos.

Bruno Henrique Arruda de Oliveira, 13, nasceu naquele ano com pé torto congênito bilateral, o que o obrigaria, segundo a família e a Igreja Católica, a utilizar botas ortopédicas e a passar por uma série de procedimentos corretivos na infância, sem garantia de cura total.

Com os pés arqueados, a criança não conseguia encostar as plantas dos pés no chão, o que levou Margarete às lágrimas na véspera de uma consulta com um ortopedista. Após trocar a criança antes de ela dormir, pediu ao religioso que o curasse. “Eu só chorava e implorei muito”, disse.

Quando Bruno acordou, os pés em nada lembravam a curvatura do dia anterior e encostavam no chão, o que era impossível na véspera. Médicos não souberam explicar o caso e a Igreja Católica investigou a cura por sete anos, até o Vaticano confirmar o milagre, em abril deste ano.

Padre Donizetti nasceu em 1882 em Cássia (MG) e foi ordenado em Pouso Alegre (MG), em 1908. Chegou a Tambaú aos 44 anos, em 1926, para comandar a paróquia de Santo Antônio.

Morreu em 1961, aos 79 anos, mas em vida já tinha a fama de “milagreiro”. A frente de sua casa era tomada por milhares de fiéis, o que o impedia por vezes de ir à igreja e o obrigava a dar bênçãos da janela do imóvel.

Desde 1992 a igreja buscava documentação para confirmar que houve um milagre, conforme exigido para a beatificação.

Sem saber disso, Margarete, anos após a cura do filho, foi a Tambaú e depositou roupas de Bruno e um bilhete na cama em que o padre dormia, onde hoje funciona um museu, em sinal de agradecimento.

Deixou apenas os primeiros nomes dela, do filho e da cidade em que moram. A comissão pró-beatificação iniciou buscas pela família e apelou até a anúncios em emissoras de rádio da cidade para encontrá-los.

Membro da comissão pró-beatificação, Francisco Donizetti Sartori afirmou que cerca de 500 religiosos participarão da celebração deste sábado. Um altar de 75 metros de comprimento por 15 metros de largura foi montado na região do cemitério de Tambaú para abrigar os religiosos na missa campal.

A celebração deste sábado terá a participação do cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos. Foi ele quem, em outubro, pediu formalmente ao papa Francisco a canonização de Irmã Dulce, ao lado de outros quatro beatos.

Diferentemente da canonização, que só acontece diante do papa, no Vaticano, a beatificação pode ser realizada no lugar de origem do religioso, como é o caso da cerimônia em Tambaú.

A celebração deverá ter cerca de duas horas de duração. Além da beatificação, uma capela alusiva ao padre será inaugurada no santuário de Tambaú.

Nas rodovias, haverá policiamento reforçado a partir das 3h em rodovias de acesso à cidade, como a Vicente Botta (SP-215), que recebe o fluxo de vias como Adhemar Pereira de Barros (SP-340), Prefeito Euberto Nemézio Pereira de Godoy (SP-201) e Padre Donizetti (SP-332). O entorno do local da missa será fechado para veículos.

Na última terça-feira (19), uma forte chuva atingiu o local em que será celebrada a beatificação, o que derrubou tendas, destruiu o altar e deixou retorcidas as estruturas metálicas montadas para a beatificação. Três dias depois, as estruturas já estavam de pé, após parceria entre empresários, prefeitura e voluntários. Mais um milagre do padre, acreditam.

COMO FUNCIONA O PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO

  • Na primeira fase, cinco anos após a morte do candidato, abre-se um processo para investigar a fama de santidade e as virtudes cristãs da pessoa. Se tudo caminhar bem, ela é classificada como "serva ou servo de Deus". Essa primeira fase acontece no local onde o candidato morreu
  • A avaliação passa para a Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. Se a congregação avaliar que a conduta, a fé e o pensamento do candidato eram irrepreensíveis, ele se torna "venerável", dotado das chamadas virtudes heroicas
  • A comprovação de um primeiro milagre (cura sem explicação médica clara, realizada quando um fiel pediu a intercessão do candidato a santo junto a Deus) faz com que o candidato se torne beato, já podendo ser venerado em sua região de origem. Caso tenha morrido como mártir (em defesa da fé), os passos 1 e 2 podem ser pulados
  • Com um segundo milagre, vem a possibilidade da canonização, em que a pessoa é proclamada santa e pode ser cultuada no mundo todo. O papa pode deixar de lado a obrigatoriedade do segundo milagre em circunstâncias especiais
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