Companhia das Letras publica anúncio em defesa da liberdade de imprensa

Iniciativa é reação à sequência de ataques do presidente Bolsonaro a veículos jornalísticos

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São Paulo

O grupo Companhia das Letras publicou um anúncio na Folha em que manifesta apoio à liberdade de imprensa. A peça de publicidade saiu na versão impressa do caderno Ilustrada neste sábado (23).

Formada por 17 selos, a empresa é o maior grupo do mercado editorial brasileiro.

A iniciativa é uma reação à sequência de ataques contundentes do presidente Jair Bolsonaro e de políticos próximos a ele a veículos jornalísticos, como a Folha e o jornal O Globo.

Funcionário do Centro Tecnológico Gráfico-Folha, na região metropolitana de São Paulo
Funcionário do Centro Tecnológico Gráfico-Folha, na região metropolitana de São Paulo - Mateus Bruxel - 2.dez.10/Folhapress

"Jornaleco não vive sem mentir", disse Bolsonaro sobre a Folha na última quarta (20) em rede social. Ele se referia a reportagem do jornal que mostrava que o orçamento do Bolsa Família para este ano é insuficiente para pagar o 13º aos beneficiários, segundo análise de técnicos do Congresso.

O anúncio apresenta sete frases de autores que têm livros publicados pela Companhia. Todos tratam da importância de uma imprensa livre. Entre eles, estão a romancista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie e o professor israelense de história Yuval Noah Harari.

Uma das frases é do dramaturgo americano Arthur Miller (1915-2005): “Um bom jornal, penso eu, é uma nação falando consigo mesma”.

De acordo com Luiz Schwarcz, presidente do grupo, “os jornais estão sofrendo uma intimidação por parte de agentes do Executivo e do Legislativo. O anúncio é uma resposta a essa situação”.

Para ele, é natural que o governo se contraponha a textos publicados pela imprensa, mas deve fazer isso “de modo sereno, com fatos, em um embate de ideias. E não com intimidação”.

“Esse comportamento dos agentes do poder impõe um risco à liberdade de expressão. A consequência depende da reação dos veículos que são agredidos. A Folha e O Globo têm reagido com dignidade”, afirma o editor. “Mas pode haver situações em que essa intimidação funcione. Por ora, não é o que acontece e torço muito para que não ocorra.”

Schwarcz também demonstra preocupação com as obras literárias, que podem ser prejudicadas pelo que chama de “práticas extremamente perigosas”.

É o caso da moção de repúdio ao livro “Um Útero É do Tamanho de um Punho”, de Angélica Freitas, apresentada pelo deputado estadual Jessé Lopes (PSL-SC), em setembro. Segundo o parlamentar, a obra estimula a “ideologia de gênero”.

Lançado pela Companhia em 2012, o livro de poemas virou assunto na Assembleia Legislativa do estado porque passou a integrar a lista de obras obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) e da Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS).

Por enquanto o livro está mantido na lista. As universidades têm autonomia para escolher as obras que exigem para o vestibular.

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