Descrição de chapéu Lava Jato

Médicos, ex-deputado e Palocci socorreram colegas em cadeia da Lava Jato

Ex-ministro do PT e Pedro Corrêa mantinham equipamentos e uma pequena farmácia nas celas

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São Paulo

Roberto Prisco Ramos, ex-diretor da Odebrecht Óleo e Gás preso na fase Xepa (2016) da Lava Jato, começou a se queixar durante a noite de fortes dores de cabeça e mal-estar, na cela em que cumpria prisão temporária na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Os colegas perceberam que ele suava muito e decidiram chamar o agente penitenciário de plantão. Na sede da PF, porém, o carcereiro não fica o tempo todo no corredor em frente às celas. Os presos berravam, mas o agente não ouvia. Naquele momento, ele corria na esteira com fones de ouvido e com a TV ligada.

Prisco Ramos sofria, segundo laudos médicos, de “grave hipertensão lábil, reativa a estresse emocional”, que é o aumento brusco e acentuado da pressão arterial causado por uma carga de estresse emocional, um quadro que pode levar a um ataque cardíaco ou a um acidente vascular cerebral.

Para piorar, ele ainda havia sido diagnosticado com câncer de próstata. À medida que o tempo passava, o executivo piorava. Quando, enfim, o agente percebeu a gritaria na carceragem, ele correu para soltar Pedro Corrêa —ex-deputado ​pelo PP e médico— para que este pudesse prestar socorro ao vizinho de cela.

 O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ex-deputado federal Pedro Corrêa
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ex-deputado federal Pedro Corrêa - Rodolfo Buhrer /Reuters e Reprodução

O ex-parlamentar, condenado a 20 anos e 7 meses por corrupção, primeiro conferiu a pressão arterial do executivo da Odebrecht. O medidor anotou 23 por 15. Era uma marca muito acima da considerada ideal, que gira em torno dos 12 por 8. Pedro Corrêa então pediu água aos agentes. Fez o colega tomar três comprimidos de Isordil para baixar a pressão e uma cápsula de ansiolítico para acalmá-lo.

“Chame o Samu, o homem não está bem”, disse ao carcereiro. A intervenção do ex-deputado ajudou a estabilizar o quadro até a chegada ao hospital.

Na cadeia, Pedro Corrêa voltou a exercer a medicina, o que não fazia desde que saíra da faculdade. Antonio Palocci, ex-ministro em governos do PT e que também é médico, fez o mesmo após ser preso, condenado a 9 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Os dois medicavam colegas e socorriam os que passavam mal.

Os casos dos atendimentos dos dois médicos condenados na Lava Jato estão no livro “A Elite na Cadeia – O dia a dia dos presos da Lava Jato”, escrito pelo jornalista Wálter Nunes, repórter da Folha.

A obra, da editora Objetiva e que chega às livrarias no próximo dia 22, retrata o cotidiano na prisão dos principais alvos da maior operação de combate à corrupção do país.

Nas 278 páginas estão episódios envolvendo também o ex-presidente Lula, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-governador Beto Richa e vários outros personagens célebres presos pela Polícia Federal.

As histórias se passam nas duas prisões do Paraná que abrigam presos da Lava Jato. Além da sexta galeria do Complexo Médico Penal, em Pinhais, também é palco de histórias do livro a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, onde ficam delatores da operação, e a cela especial onde o ex-presidente Lula cumpriu pena de abril de 2018 até a última sexta (8).

Tanto Corrêa quanto Palocci ficaram períodos nesses dois lugares. Em ambos, fizeram da cela uma pequena farmácia com remédios para atender os colegas. Recebiam demandas corriqueiras. Palocci deu um colírio para aliviar uma ardência no olho de Eduardo Cunha e receitou um remédio que faria nascer cabelo em Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. No caso de Duque, não funcionou.

 
 

Mas com tantos presos de idade avançada e com histórico de problemas de saúde, a rotina dos médicos da Lava Jato não era assim tão calma.

Pedro Corrêa e Palocci tiveram que lidar com uma intoxicação medicamentosa grave de Branislav Kontic, que assessorou o ex-ministro da Fazenda e foi para a cadeia com ele. Bani, como era conhecido pelos petistas, tentou se matar tomando uma cartela de ansiolíticos. Foi socorrido por Corrêa.

Quando os socorristas da ambulância chegaram para levar Brani para o hospital, foram recebidos pelo ex-deputado, que orientou sobre o que havia acontecido e entregou a eles a cartela de comprimidos vazia. Ajudou em muito o trabalho dos médicos.

Fato é que o próprio Pedro Corrêa também saiu da prisão por causa de uma indicação médica. No início de 2017, ele passou a sofrer com dores que descrevia como alucinantes, causadas por uma hérnia de disco que comprimia o canal raquimedular.

O ex-deputado já quase não andava mais. Em março, saiu da cadeia para fazer uma cirurgia que imobilizou os discos L4 e L5 da sua coluna.

De lá, não voltou mais para a prisão no Paraná. Uma decisão permitiu que ele fosse para o Recife, cumprir o resto da pena em casa. Já Palocci saiu em 2018, mas por ter fechado um acordo de uma delação premiada. Também já está em casa, de tornozeleira eletrônica.

A Elite na Cadeia

  • Preço R$ 49,90 (278 págs.)
  • Autor Wálter Nunes
  • Editora Objetiva
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