Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Oposição pede nova perícia em áudio do condomínio de Bolsonaro sobre caso Marielle

Reportagem da Folha mostrou que análise não avaliou possibilidade de arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de entregue às autoridades

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Brasília

Líderes da oposição protocolaram nesta segunda-feira (4) representação para que o Ministério Público do Rio de Janeiro realize nova perícia nos equipamentos de onde foram retiradas as gravações da portaria do condomínio do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que ocupa o mesmo posto no Senado, afirmam que o pedido busca afastar “qualquer suspeita de manipulação de prova considerada essencial para elucidar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes”.

Para Molon, é preciso se certificar de que a perícia seja feita pelo Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro, o que considera fundamental para que “fatores externos não interfiram na elucidação de um crime bárbaro, que acaba de completar 600 dias sem que o mandante tenha sido apontado pelas autoridades.”

Bolsonaro fala em transmissão ao vivo em rede social e nega envolvimento na morte de Marielle
Bolsonaro fala em transmissão ao vivo em rede social e nega envolvimento na morte de Marielle - Reprodução/Facebook

Reportagem da Folha da última quinta (31) mostra que a perícia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nas gravações não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de ser entregue às autoridades, aponta documento apresentado à Justiça.

Foi com base nessa análise que a Promotoria classificou como falsa a menção ao presidente feita pelo porteiro do condomínio Vivendas da Barra. As promotoras envolvidas no caso afirmam que foi o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle, quem autorizou a entrada de Élcio Queiroz, ex-policial militar também envolvido no crime.

Documento entregue à Justiça mostra ainda que as bases da perícia foram feitas a toque de caixa na quarta-feira (30), antes da entrevista coletiva sobre o caso.

Reportagem do Jornal Nacional do último dia 29 apontou que um porteiro (cujo nome não foi revelado) deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, Élcio Queiroz afirmou na portaria do condomínio que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal.

Pelo depoimento do porteiro apresentado pela emissora, ao interfonar para a casa de Bolsonaro, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio.

O funcionário relatou ter interfonado uma segunda vez para a casa de Bolsonaro, tendo sido atendido pela mesma pessoa, que afirmou saber que a casa 66 era o real destino do visitante. A planilha manuscrita de controle de entrada de visitantes, apreendida no dia 5 de outubro, registra a entrada de Élcio para a casa 58, do presidente.

Na última quarta-feira, a promotora Simone Sibilio afirmou que a investigação teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que ficou comprovado que a informação dada pelo porteiro não procede.

Segundo a Promotoria, há registro de interfone para a casa 65 (enquanto a casa de Bolsonaro é a de número 58), e a entrada de Élcio foi autorizada pelo morador do imóvel, Ronnie Lessa.

A mídia com a gravação foi entregue à Polícia Civil no último dia 7 de outubro pelo síndico do condomínio. Nela constavam arquivos referentes aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2018.

A entrega ocorreu dois dias depois de policiais terem feito busca e apreensão na portaria do Vivendas da Barra em busca da planilha de controle de entrada de visitantes.

No mesmo dia 7, o porteiro foi ouvido —ele foi reinterrogado dois dias depois, reafirmando o relato inicial, envolvendo Bolsonaro. O único objetivo da análise nos arquivos entregues pelo síndico foi confirmar se é de Ronnie Lessa a voz que autoriza a entrada do ex-policial militar Élcio Queiroz.

Os peritos usaram como base de comparação o interrogatório do PM aposentado dado à Justiça no caso Marielle no dia 4 de outubro.

O Ministério Público disse também não ser possível confirmar ainda nem mesmo se a gravação registrada na portaria é do mesmo porteiro que prestou depoimento.

No último sábado (2), sem apresentar evidências, Bolsonaro disse a jornalistas que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, manipulou a investigação para prejudicá-lo.

"Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, que eu desconfio, que o porteiro leu sem assinar [sic] ou induziram ele a assinar aquilo? Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo."

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