No Rio, Doria filia desafeto de Bolsonaro ao PSDB e diz que seu governo 'não é conflito'

Governador acolhe ex-ministro Bebianno, para quem presidente busca 'pretexto' e democracia está em risco

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Rio de Janeiro

O governador de São Paulo, João Doria, viajou neste domingo (1º) ao Rio de Janeiro para filiar ao PSDB o ex-ministro Gustavo Bebianno, que comandou o PSL na campanha de 2018 e se tornou desafeto do presidente Jair Bolsonaro.

Potencial candidato tucano à Presidência da República em 2022, Doria abonou pessoalmente a ficha de Bebianno, que critica os filhos do presidente e diz nunca ter visto tanta ignorância política no governo.

Ao acolher Bebianno, Doria afirmou que o ex-aliado de Bolsonaro “agora está na direção certa”. “Agora a direção é a certa, a correta, a veloz, aquela que vai acelerar o Brasil”, discursou.

Já Bebianno disse que "nossa democracia está em risco" e que Bolsonaro "pensa única e exclusivamente em sua reeleição, contrariando um discurso de campanha".

"Tudo que o presidente quer é um pretexto para adoção de medidas autoritárias, que não serão aceitas pela maioria do país. O presidente precisa parar com essas ideias autoritárias", afirmou o ex-ministro. 

O presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, durante a solenidade de Passagem do Comando Militar do Sudeste em julho deste ano
O presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, durante a solenidade de Passagem do Comando Militar do Sudeste em julho deste ano - Marcos Corrêa - 3.jul.19/Divulgação Presidência da República

Doria já tinha acolhido no PSDB Paulo Marinho, também coordenador da campanha do presidente e suplente do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).

O governador paulista não mencionou o presidente em seu discurso, mas fez questão de comparar sua administração com a do governo federal. Doria disse que não demitiu seus colaboradores nem perde tempo com bobagens. “É atitude. Não é conflito. Não é mutilação”, discursou.

Doria, que subiu em uma cadeira para encerrar seu discurso, disse também que “São Paulo vai crescer mais que o dobro do Brasil”.

O governador esteve no evento do PSDB no Rio horas após ao menos nove pessoas morreram pisoteadas na madrugada em um baile funk na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo.

Segundo registro policial, as vítimas foram pisoteadas depois de uma "ação de controle de distúrbios civis" —​ou seja, para dispersão do baile— feita pela Polícia Militar usando "munições químicas".

Nas redes sociais, Doria afirmou lamentar profundamente as mortes e que determinou ao secretário da Segurança Pública apuração "para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio".

Soldado no caminho

Coordenador da campanha Bolsonaro à Presidência e seu ex-ministro, Bebianno se colocou à disposição do projeto político de Doria. Declarando-se um civil de coração verde-oliva, ele disse que “jamais abandona um soldado no caminho”.

Foi uma referência à sua exoneração do governo Bolsonaro. Bebianno presidia o PSL nas eleições presidenciais do ano passado e, nomeado secretário-geral da Presidência, foi exonerado do cargo por Bolsonaro em fevereiro deste ano, em meio à crise gerada após a revelação pela Folha do uso de candidaturas de laranjas pelo partido.

Bebianno nega envolvimento e queixa-se de ter sido abandonado por Bolsonaro sem direito à defesa. Ele diz que nem sequer foi investigado.

O ex-ministro atacou dois filhos do presidente —vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)— dizendo não imaginar que eles pudessem ter assumido um protagonismo tamanho na República. "Dois seres inexpressivos comandando as diretrizes do pais de forma oficiosa. Um nível de burrice nunca antes visto", afirmou.  

Bebianno comentou ainda as declarações na semana passada do ministro Paulo Guedes, que disse não ser possível se assustar com a ideia de alguém pedir um AI-5, ato que marcou a ditadura militar, no caso de protestos violentos pelo país. 

"Achei uma fala desastrada. Há duas possibilidades. A possibilidade de ele ter dado uma derrapada. 
A outra hipótese é que essa conversa esteja sendo objeto constante das pautas do Palácio do Planalto. Pode ter sido um ato falho: de tanto ouvir isso dentro do Palácio, acabou se manifestando. Mas eu não acredito que o ministro Paulo Guedes compactue com esse tipo de loucura", disse.

"O Brasil vem se conscientizando pouco a pouco do grave momento político que estamos atravessando hoje. Gravíssimo", completou Bebianno. 

Mestre-de-cerimônias da solenidade —um almoço oferecido com apoio do PSDB nacional—, o presidente estadual do partido, Paulo Marinho, deu a palavra ao general Santa Rosa, que pediu exoneração da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro por divergências internas.

“Bebianno é extremamente leal. Por isso a equipe dele está toda aqui”, afirmou o general.

Caminhando entre mesas dispostas no centro de convenções de um hotel do Rio, Doria deu sinais de que já prepara um discurso para a hipótese de deixar o Palácio dos Bandeirantes para disputar a Presidência em 2022.

Afirmando que o país não suporta mais testes, o tucano disse que, se não tivesse deixado a prefeitura da capital paulista para concorrer ao governo estadual, Márcio “Cuba” (uma alusão ao ex-vice-governador Márcio França, do PSB) seria apoiado pelo PSDB ao Governo de São Paulo.

Situando-se no “centro liberal”, Doria lembrou sua eleição à prefeitura. “Impus ao Lula e ao Fernando Haddad uma derrota que eles não esquecem”, afirmou o governador, após dizer que Lula e muitos petistas não sabem trabalhar duro.

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