PF indicia seis suspeitos de hackear Moro e Lava Jato

Quatro estão presos preventivamente em Brasília e dois respondem em liberdade

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Brasília

A Polícia Federal concluiu, nesta quarta-feira (18), o relatório do inquérito que investigou a invasão das contas de Telegram do ministro Sergio Moro (Justiça), de procuradores da Lava Jato, como Deltan Dallagnol, e de outras autoridades.

Seis pessoas foram indiciadas, segundo a PF, sob suspeita de terem cometido os crimes de integrar organização criminosa, invadir dispositivo informático alheio e interceptar comunicação telemática ilegal.

As mensagens de Telegram obtidas com o hackeamento foram repassadas ao site The Intercept Brasil e geraram uma série de reportagens, inclusive em parceria com outros veículos, como a Folha. As mensagens puseram a Lava Jato sob escrutínio por indicarem uma possível combinação entre o então juiz Moro e procuradores de Curitiba.

Ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do Intercept, não é imputado nenhum crime. A PF aponta que o jornalista, em mais de um diálogo com os hackers, na condição de fontes, se mostrou cauteloso quanto a não participar da execução do crime.

A ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B), que fez a ponte entre o hacker e Greenwald, também não é apontada como suspeita.

"Na verdade Manuela d'Ávila foi também uma das vítimas dos ataques realizados pelos investigados, tendo sua conta no aplicativo Telegram invadida no dia 12/05/2019", diz o relatório, assinado pelo delegado Luís Flávio Zampronha. "Verifica-se que o interlocutor de Manuela invadiu e utilizou a conta do Telegram do senador Cid Gomes para fazer o contato inicial."

O relatório do inquérito da PF, que levou quase seis meses, não chega a eventuais mandantes da invasão do Telegram nem à possível motivação do crime. A PF informou que abrirá nova investigação para apurar possível crime de obstrução de investigações envolvendo organizações criminosas, com o objetivo de esclarecer essas questões.

Os suspeitos indiciados são Walter Delgatti Neto, apontado como o cabeça das invasões, Thiago Eliezer Martins Santos, especialista em informática que morava em Brasília, Luiz Molição, amigo de faculdade de Delgatti em Ribeirão Preto (SP), Gustavo Henrique Elias Santos, ex-DJ de Araraquara (SP), a mulher dele, a estudante Suelen Oliveira, e Danilo Marques, aprendiz de eletricista e amigo de Delgatti.

 

Desses, somente Suelen e Molição, que haviam sido presos em julho e em setembro, respectivamente, já foram soltos.

Suelen conseguiu um habeas corpus no TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Molição assinou acordo de delação premiada com a PF e pôde esperar o processo em liberdade. A delação foi homologada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, no início deste mês.

Os outros quatro estão presos preventivamente na Superintendência da Polícia Federal e na Papuda.

Todos os seis foram indiciados sob suspeita de integrar organização criminosa, ligados sobretudo por indícios de envolvimento em fraudes bancárias e com cartões de crédito —delitos que ainda não foram investigados detalhadamente, conforme o relatório policial.

Suelen, diferentemente dos demais, não foi indiciada pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio e interceptação de mensagens.

O advogado Ariovaldo Moreira, que defende Delgatti, Elias Santos e Suelen, afirmou em nota que o relatório apresentado corrobora o que a defesa tem sustentado desde o início da operação: que "a Justiça Federal de Brasília é incompetente [sem atribuição] para julgar os fatos ali narrados".

"Após meses de investigação, dezenas de pessoas ouvidas, todo material apreendido analisado por peritos e a única constatação narrada refere-se a crimes contra o sistema financeiro [fraudes bancárias], crimes esses que devem ser apurados pela Justiça Estadual de São Paulo", afirmou Moreira.

"Frisa-se que nada foi encontrado que justifique o encarceramento, entendendo a defesa não estarem presentes os requisitos da prisão preventiva, ou seja, a prisão foi ilegal e permanece ilegal."

A Defensoria Pública da União, responsável pela defesa de Danilo Marques, classificou a prisão dele como indevida e abusiva, pois só há indícios contra ele de fraudes bancárias, sem participação nos hackeamentos. Para a defensora pública federal Manoela Cavalcanti Barros, Marques está sendo penalizado porque não tem o que contar, pois desconhece as invasões. "Como na Lava Jato, as prisões têm sido usadas como maneira de pressão para fazer delação premiada", disse.

As defesas de Molição e Thiago Eliezer não comentaram o relatório da PF.

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