Primeiro alvo de hackers foi Eduardo Bolsonaro, diz relatório da PF

Perícia aponta para invasão do Telegram do deputado, de seu irmão Carlos e do presidente Jair Bolsonaro em março

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Brasília

A Polícia Federal concluiu, em relatório da última quarta-feira (18), que os suspeitos de hackear contas de Telegram de autoridades, como o ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Lava Jato, iniciaram as invasões pelos celulares da família Bolsonaro, em março deste ano, diferentemente do que afirmou o principal investigado.

Em depoimento à PF, Walter Delgatti Neto disse que seu primeiro alvo foi um promotor de Justiça do interior de São Paulo, Marcel Bombardi, com quem ele havia se desentendido por causa de uma acusação antiga.

No entanto, segundo a PF, "verificou-se que as declarações prestadas [por Delgatti] não correspondem à verdade".

O Instituto Nacional de Criminalística fez uma linha do tempo, colocando as invasões em ordem cronológica para tentar auxiliar a polícia a chegar na motivação das interceptações.

"A linha de tempo estabelecida pelo laudo [...] permite afirmar que a primeira autoridade pública que sofreu invasão de seu aplicativo foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro [PSL-SP], conforme chamada registrada às 03h36 do dia 02/03/2019", diz a polícia.

A investigação aponta que o suspeito obteve os dados e os telefones pessoais de Eduardo por meio de uma consulta a um site chamado CheckBusca e que, a partir da agenda de contatos do deputado, foram feitas as invasões seguintes.

Após entrar no Telegram de Eduardo, o suspeito teria entrado no do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), às 4h19 do mesmo dia, no do presidente Jair Bolsonaro, às 5h06, e daí por diante.

As vítimas seguintes teriam sido, ainda conforme a PF, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

O coordenador da Lava Jato em Curitiba, procurador Deltan Dallagnol, por sua vez, teve a conta hackeada em 26 de abril deste ano, segundo a investigação. 

Já o promotor Bombardi, que, segundo Delgatti, teria sido o primeiro alvo, só teve o Telegram invadido em junho.

A PF afirma que há indícios de que o grupo suspeito tinha o objetivo de interferir nas investigações feitas pela Lava Jato, o que será apurado em novo inquérito a ser instaurado.

Pelo relatório policial, algumas vítimas tiveram suas conversas copiadas, outras eram monitoradas em tempo real, sem que seus diálogos fossem salvos, e outras já haviam desativado o Telegram. Não há detalhamento de quais autoridades compõem cada grupo.

A perícia detectou que os suspeitos fizeram 6.508 ligações para 1.330 números. As ligações eram a brecha encontrada para entrar no Telegram.

"Ainda estão sendo realizadas diligências visando a identificação de todas as vítimas dos ataques", diz o relatório.

Na modalidade de monitoramento dos diálogos em tempo real, houve 126 vítimas, 99 tendo as conversas captadas quando a PF deflagrou em julho a Operação Spoofing.

Já os que tiveram conversas extraídas e salvas 48 —entre eles o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (MDB) e o empresário Abilio Diniz.

Ainda de acordo com o relatório policial, foram repassadas 952.753 mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, que, a partir do material, publicou uma série de reportagem, inclusive em parceria com outros veículos, como a Folha.

A PF indiciou seis suspeitos: Delgatti, apontado como o cabeça das invasões; Thiago Eliezer Martins Santos, especialista em informática que morava em Brasília; Luiz Molição, amigo de faculdade de Delgatti em Ribeirão Preto (SP); Gustavo Henrique Elias Santos, ex-DJ de Araraquara (SP); a mulher dele, a estudante Suelen Oliveira; e Danilo Marques, aprendiz de eletricista e amigo de Delgatti.

Cabe ao Ministério Público Federal decidir se denuncia os indiciados.

A PF apontou suspeitas dos crimes de organização criminosa, invasão de dispositivo informático alheio e interceptação de comunicação telemática ilegal.

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