Um dia após dizer que pode ter câncer de pele, Bolsonaro acusa imprensa de fake news

Depois de fazer exames e falar em 'possível câncer de pele', presidente associa caso a mentira

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Brasília

Um dia depois de afirmar que pode ter câncer de pele, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (12) em sua live semanal nas redes sociais que a imprensa fez fake news com o caso. 

"Como teve uma fake news também que eu estava com câncer. Hoje de manhã deve estar rodando por aí um vídeozinho, como sempre eu converso com a imprensa, hoje a imprensa preparou a primeira pergunta e eu respondi 'não vou responder nada porque vocês disseram que eu estou com câncer, eu vou para casa'", afirmou. "É mentira em cima de mentira", disse. 

O presidente Jair Bolsonaro ao sair do Palácio da Alvorada
O presidente Jair Bolsonaro ao sair do Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Nesta quarta-feira (11), o presidente disse a jornalistas no Palácio da Alvorada que tinha a possibilidade de ter um câncer de pele após passar por exames no Hospital da Força Aérea Brasileira, em Brasília. 

"Eu tenho pele clara, pesquei muito na minha vida, gosto muito de atividade, então a possibilidade de câncer de pele existe", afirmou. 

O presidente não soube explicar que tipo de exame foi realizado. "Não sei se vão fazer biópsia, me cutucaram, furaram, deram anestesia. Eu dormi. Eu tava tão cansado que eu deitei na maca e dormi", disse Bolsonaro. 

"Tem possível câncer de pele. Fizeram uma checagem em mim. Inclusive não é eu que peço, muitas vezes eles que me convocam e eu vou pra lá. Eu não sou dono mais de mim em muitas questões", completou.

Nesta quinta, o Palácio do Planalto disse que o presidente teve lesões da face e da orelha retiradas para exames. A nota divulgada não fez menção à possibilidade de câncer levantada por Bolsonaro. 

"Foram realizados alguns procedimentos como retirada de lesão verrucosa na face e na orelha, além de crioterapia em lesões no tórax e no antebraço, provocadas pelo excesso de exposição solar. O material segue para análise laboratorial, como é de rotina", afirma o texto divulgado pela Secom (Secretaria de Comunicação Especial) no início da tarde desta quinta. 

De acordo com o Planalto, a consulta dermatológica, realizada na tarde de quarta-feira (11), estava agendada previamente "com o objetivo de reavaliação de atendimento feito seis meses atrás".

Bolsonaro passou a manhã desta quinta no Palácio da Alvorada, sem agenda oficial. No início da tarde embarcou para Palmas, no Tocantins, para um evento da Caixa Econômica Federal.

Ao deixar o Alvorada, não quis dar declarações e ironizou declaração feita por ele mesmo na véspera sobre um possível câncer. "Pessoal, como estou com câncer eu não vou poder atender vocês, tá OK?"

Na live do começo da noite, o presidente também disse que não decidiu se vai sancionar ou não a parte do Orçamento sobre o fundo eleitoral para 2020 caso este traga um valor de R$ 2,5 bilhões. 

"Deixar bem claro, eu não toquei neste assunto. Essa imprensa não cansa de mentir. Aí um cara na ponta da linha quer saber: você vai vetar ou vai sancionar? Tem que ver o que vai acontecer lá", disse. 

Os deputados articulam uma redução do valor, que inicialmente seria fixado em R$ 3,8 bilhões. A ideia seria justamente evitar um veto presidencial. 

ENTENDA O CÂNCER DE PELE

Doença é o tumor mais frequente no Brasil

O câncer de pele é provocado pelo crescimento anormal das células que compõem a pele e é mais frequente em adultos brancos

Pode aparecer em qualquer parte do corpo (tanto na pele como nas mucosas), na forma de manchas ou pintas. Em pessoas negras, o câncer é mais comum na palma da mão e na planta do pé

Fatores de risco

  • Ter pele e olhos claros, cabelos ruivos ou loiros
  • Ter história familiar de câncer de pele
  • Exposição prolongada e repetida ao sol sem proteção, especialmente na infância e na adolescência
  • Uso de câmeras de bronzeamento artificial

Detecção
É preciso ficar atento a feridas que não cicatrizam e sangram ocasionalmente e a mudanças em pintas e manchas da pele

Uma regra adotada internacionalmente aponta sinais de perigo para o câncer:

A: assimetria em pintas ou manchas (uma metade é diferente da outra)
B: bordas irregulares, com contorno mal definido
C: cor variável, com presença de várias cores em uma mesma mancha ou pinta (preta, castanha, branca, avermelhada, azul)
D: diâmetro maior que 6 milímetros
E: evolução nas características (aumento de tamanho, mudança de formato ou de cor, por exemplo)

Em casos positivos, é necessário procurar um médico para avaliação. Pessoas com muitos fatores de risco podem ser submetidas a exames periódicos para análise dos sinais

Há dois tipos de câncer de pele:

1. O câncer de pele não melanoma (o mais comum e menos agressivo)

Tem baixa letalidade e se encontra nas camadas superiores da pele. Pode ser curado mais facilmente em caso de detecção precoce. Normalmente surge em área mais expostas ao sol, como rosto, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas

2. O câncer de pele melanoma (mais raro e mais grave)

Tipo menos frequente —corresponde a apenas 3% dos tumores malignos de pele--, tem pior prognóstico e mais alto índice de mortalidade. As chances de cura, porém, são altas em caso de detecção precoce, quando o câncer está na camada mais superficial da pele. Em geral tem aparência de pinta ou sinal em tons escuros que se modificam e podem sangrar

Tratamento

O tratamento vai depender do tipo do câncer. Pode incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia. No caso do melanoma, novos medicamentos chamados imunoterápicos apresentam altas taxas de sucesso terapêutico mesmo em caso de metástase (espalhamento para outros órgãos)

Fontes: Sociedade Brasileira de Dermatologia e Inca (Instituto Nacional de Câncer)

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem afirmou incorretamente que a Câmara articulava a aprovação de R$ 3,8 milhões para o fundo eleitoral em 2020 e que uma nova proposta prevê R$ 2,5 milhões. Os valores corretos são R$ 3,8 bilhões e R$ 2,5 bilhões, respectivamente. O texto foi corrigido.

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