Candidatura Doria-2022 embaralha acordo do PSDB e sucessão em Campo Grande

Ordem da cúpula tucana para ter candidato próprio põe em risco apoio à reeleição do atual prefeito, do PSD

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Campo Grande

O plano do PSDB de turbinar uma candidatura presidencial em 2022, que hoje atende pelo nome de João Doria, respingou em um acordo fechado pelo partido para conquistar em 2018 o Governo de Mato Grosso do Sul.

Candidato à reeleição, o tucano Reinaldo Azambuja ganhou no ano passado um impulso com o apoio do prefeito da capital do estado, Marquinhos Trad (PSD). Em troca, prometeu trabalhar pela reeleição dele no pleito de 2020.

Só que o combinado subiu no telhado desde que o PSDB nacional, comandado por Bruno Araujo, aliado do governador paulista, determinou que a sigla tenha candidato próprio em todas as cidades do país com mais de 100 mil eleitores.

Os municípios com espaço próprio de propaganda eleitoral na TV e importância regional são considerados estratégicos pela cúpula para fortalecer o partido com vistas à sucessão de Jair Bolsonaro.

Capital de um estado importante para o agronegócio e com seus 604 mil eleitores, Campo Grande está, em tese, na lista de localidades onde a ordem é apresentar um nome competitivo para vencer ou ao menos propagandear os ideais tucanos.

A possibilidade de traição domina as rodas políticas locais desde meados de novembro, quando o PSDB divulgou a resolução com a imposição.

A legenda é forte no estado, onde comanda, além do Executivo, a Assembleia Legislativa e 45 prefeituras (de um total de 79 municípios).

De uma família tradicional de políticos, Marquinhos ainda não diz publicamente se é postulante à reeleição, mas aliados dão como certa a candidatura. O prefeito é irmão do senador Nelsinho Trad e do deputado federal Fábio Trad (ambos também do PSD).

O discurso oficial do PSDB é o de que o assunto só será discutido em 2020. "O PSDB é um partido de cumprir compromisso, e eu combinei com o prefeito Marquinhos que nós só vamos tratar de Campo Grande a partir de abril", afirmou Azambuja em evento da sigla há alguns dias.

O governador disse ainda ter certeza de que os pactos previamente acertados serão mantidos pelo partido.

A ordem da direção nacional da sigla, no entanto, foi a sinalização que faltava para líderes tucanos que têm vontade de concorrer em 2020 e já pressionavam que a sigla se afastasse de Marquinhos.

No tucanato sul-mato-grossense, os deputados federais Rose Modesto e Beto Pereira —que obtiveram votação expressiva na eleição de 2018— e o secretário estadual de Governo, Eduardo Riedel, são vistos como potenciais candidatos na capital.

"Na política, existem circunstâncias que fazem com que você necessite tomar decisões que muitas das vezes divergem das de algumas lideranças", diz Pereira sobre o risco de desonrar a palavra com o PSD.

​Azambuja já disse ver a resolução do PSDB como "uma diretriz", não uma camisa de força. Para o governador, a legenda terá sensibilidade para levar em conta acordos locais, caso o apoio ao atual prefeito se mostre o caminho mais viável.

A dez meses do pleito municipal, o tema rachou a executiva estadual tucana. Divisão semelhante se nota em relação ao nome de Doria para concorrer ao Palácio do Planalto daqui a três anos.

Em conversas privadas, membros do partido dizem achar difícil que o governador paulista consiga avançar sobre fatias do eleitorado como os brasileiros mais pobres e de fora do Sudeste.

Por outro lado, há a avaliação de que Doria é atualmente o mais bem posicionado dentro da agremiação para defender o PSDB na próxima disputa presidencial. São lembrados fatores como controle da máquina partidária e o fato de comandar o estado mais rico do país.

A possibilidade de um embate com o apresentador Luciano Huck (sem filiação), no entanto, é encarada por uma ala dos tucanos no estado como uma batalha dura, independentemente de quem seja o candidato do PSDB.

Presidente estadual do PSDB Mulher, Mara Caseiro discorda. "Penso que, para assumir um país, é preciso ter alguma experiência política anterior. Acho totalmente inviável o nome do Luciano Huck para presidente do Brasil. Não dá nem para discutir isso."

Integrante do primeiro escalão do governo Azambuja, à frente da Fundação de Cultura, ela diz que Doria é hoje o nome visto com mais simpatia dentro do partido.

"Gosto da linha dele, um olhar mais empresarial. Isso é importante neste momento. Precisamos de programas sociais, mas também de projetos de desenvolvimento para o nosso país."

Enquanto o PSDB discute seus rumos, outras forças no âmbito estadual se movimentam de olho no posto de Marquinhos Trad.

Como mostrou a Folha, o ex-senador petista Delcídio do Amaral, hoje filiado ao PTB, ensaia retorno ao cenário político e cogita disputar a Prefeitura de Campo Grande.

Depois de ser absolvido pela Justiça Federal da acusação de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, ele —que ficou 87 dias preso e foi libertado em 2016— costura articulações nos bastidores.

Delcídio dependeria de aval judicial para concorrer, já que teve os direitos políticos cassados quando perdeu o mandato no Senado. Agora crítico do PT, ele roda o estado para filiar novos quadros à sua atual sigla.

A aliados Delcídio diz não descartar a ideia de disputar a cadeira. O ex-senador tem trabalhado também para reaglutinar em torno de si movimentos sociais e líderes políticos que caminhavam com ele na época do PT.

André Puccinelli (MDB), ex-prefeito de Campo Grande e ex-governador do estado, também é cotado, embora negue a intenção. Outro que tem no currículo envolvimento em investigações sobre corrupção, ele foi preso em 2017 e em 2018. Agora está solto.

Apoiador de Jair Bolsonaro, o deputado estadual Capitão Contar trabalha sua pré-candidatura enquanto decide sua situação partidária —ele é do PSL, mas quer migrar para a Aliança pelo Brasil, sigla que começou a ser estruturada pelo presidente.

Com estilo conservador e retórica de combate à corrupção, o militar do Exército foi o mais votado para a Assembleia na eleição de 2018, com o apoio de 78 mil pessoas.

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