Após tiro em senador, PMs em motim ainda ocupam quartel em Fortaleza

Viaturas com pneus murchos bloqueiam travessa que dá acesso a batalhão com maior concentração do grupo

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Maristela Crispim
Fortaleza

​Um dia depois de tiros atingirem o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE), em Sobral, durante motim de policiais militares no Ceará, ainda seguia ocupado nesta quinta-feira (20) um dos principais locais de reunião dos amotinados, o 18º BPM (Batalhão da Polícia Militar), no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza.

Dezenas de viaturas da PM e bombeiros, a maioria com pneus murchos, foram paradas de forma a bloquear as vias que dão acesso ao quartel, incluindo a travessa Seleta.

No local há água e comida estocadas e os policiais cobrem o rosto para evitar represálias, já que, de acordo com o artigo 149 do Código Penal Militar, eles não podem fazer greves ou movimentos semelhantes

PMs amotinados e familiares no 18° BPM do bairro Antonio Bezerra, em Fortaleza
PMs amotinados e familiares no 18° BPM do bairro Antonio Bezerra, em Fortaleza - Maristela Crispim/Folhapress

A quantidade de amotinados e familiares varia. Próximo ao horário de almoço, nesta quinta, muitos haviam deixado o 18º BPM para descansar, se alimentar e voltar pela tarde. Alguns ocultavam o rosto.

Líder do movimento, o ex-deputado estadual Cabo Sabino disse que o movimento ganhou mais adesões depois do que chamou de "ato irresponsável e insensato do senador licenciado Cid Gomes". Para ele, Cid "afrontou" e "tentou matar policiais, mulheres e crianças com uma retroescavadeira". 

Ele defendeu a reação dos PMs amotinados no episódio. "Os policiais que são treinados para defender vidas não poderiam ter outra reação a não ser defender mulheres, crianças e os próprios colegas".

Sabino e outras lideranças presentes no local, como Nina Carvalho, presidente da Associação das Esposas de Militares, dizem que não vão deixar o batalhão, mesmo considerando a chegada da Força Nacional confirmada pelo governo federal.

O Governo do Ceará confirmou que estão totalmente paralisados dois batalhões  —o do bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza, com a maior mobilização, e na cidade de Caucaia, na região metropolitana. 

Já em Sobral, palco dos disparos contra o senador licenciado, o cenário foi de desmobilização. Policiais desocuparam o 3º Batalhão da PM durante a madrugada, horas depois de Cid Gomes ter sido atingido por dois tiros. Eles ocupavam o local desde terça-feira. 

Sobral é a base eleitoral de Ciro Gomes e Cid, que apoiam o governador Camilo Santana (PT) e, nacionalmente, fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Cid foi governador do estado em momento semelhante de crise com a PM, em 2012.

Em vídeo gravado na UTI, o senador licenciado agradeceu à equipe do Hospital do Coração, em Sobral, onde está internado. Ele seria transferido para a enfermaria. 

A reportagem percorreu três batalhões da PM em Fortaleza ao longo desta quinta-feira (20). Um deles foi o 18°, no bairro Antonio Bezerra, na zona oeste, o único paralisado na capital —o segundo fechado no Ceará era o 19°, em Caucaia, na região metropolitana.

No bairro Papicu, na área leste no 22° BPM praticamente não havia movimento pela tarde. Apenas algumas motos da PM estavam no estacionamento. Na véspera, dez viaturas foram furtadas do local.

No Conjunto Ceará, ao sul da capital, o 17° BPM também estava praticamente sem operação. Segundo o comandante Ideraldo Belini, com 12 viaturas com pneus cortados e cinco levadas, o patrulhamento estava sendo feito pé, nos locais de maior aglomeração como praças e terminais, com apoio da Polícia Civil e Guarda Municipal.

A impressão em Fortaleza era de pouca presença de agentes de segurança. Pela tarde, no trajeto entre os batalhões de Papicu e conjunto Ceará, numa distância de 22 Km, a reportagem não viu nenhum veículo policial de patrulhamento nas ruas.

O que querem os PMs?
Pedem que o governo refaça a proposta de reestruturação salarial enviada na terça (18) para a Assembleia. O projeto de lei prevê aumento de salário para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022.

Os PMs demandam que o pagamento seja feito em apenas uma parcela e que seja apresentado um plano de carreira para a categoria

Quando o motim começou?
Na tarde de terça (18). Desde a madrugada de quarta (19), pessoas encapuzadas passaram a invadir quartéis. Em um deles, em Fortaleza, dez viaturas foram levadas.

Em outro, carros e motos tiveram os pneus esvaziados. Três policiais militares foram presos e 261 estão sendo investigados por participação nos atos

PMs podem fazer greve?
Não. Greve é proibida para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Corpo de Bombeiros

Qual o cenário político no estado atualmente? 
O principal pré-candidato da oposição à prefeitura de Fortaleza na eleição de 2020 é o deputado federal Capitão Wagner (Pros), ex-integrante da PM e que, entre 2011 e 2012, liderou greve dos policiais militares quando Cid Gomes era o governador.

Hoje, a prefeitura da capital é comandada pelo PDT de Ciro e Cid Gomes, com Roberto Cláudio, mas ele está em segundo mandato. Ainda não há um nome de consenso entre os governistas para a disputa. O governo é comandado por Camilo Santana (PT), aliado de Ciro e Cid Gomes.

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