Foi imaturidade dos meninos, diz líder de motim sobre toque de recolher no CE

Homens encapuzados em carros da PM ordenaram que comerciantes fechassem as portas em Sobral

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Fortaleza

Pelo menos cem manifestantes, entre policiais militares e familiares, estiveram no 3º Batalhão da Polícia Militar de Sobral (CE) de terça-feira (18) a quinta-feira (20). Foi lá que o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado ao avançar sobre o portão dirigindo uma retroescavadeira.

Na tarde de quarta, pessoas encapuzadas em viaturas da PM haviam rodado o centro da cidade ordenando que comerciantes fechassem as portas. O vereador Sargento Ailton (SD), que está entre as lideranças do motim da Polícia Militar no Ceará, disse que quatro policiais foram responsáveis pela ação.

Grupo de homens encapuzados em carros da Polícia Militar ordenou que comerciantes do centro de Sobral, no Ceará, baixassem as portas na tarde desta quarta-feira (19) - TV Globo/Reproducao

"Foi um erro, imaturidade dos meninos. Eles disseram que pediram para que as portas fossem baixadas para evitar arrastões, já que não havia policiamento. Acharam também que fazendo isso as ruas ficariam vazias e poderia facilitar que o governador Camilo Santana voltasse a negociar", disse à Folha.

Ailton esteve com os policiais durante quase todo o tempo em que o quartel esteve tomado.

As duas viaturas utilizadas haviam sido deixadas no batalhão por PMs que haviam aderido à paralisação naquele momento. Os agentes que saíram nos veículos não teriam sido vistos pelos demais.

O governo investiga quem foram os autores da ação. O departamento de homicídios, por sua vez, apura quem atirou em Cid Gomes, alvejado duas vezes.

Atendido em Sobral, o senador foi transferido para Fortaleza. Seu quadro de saúde é estável.

Ailton diz que planejava conversar com Cid quando ele chegou ao local, mas afirma que houve agressividade. 

"Ele se aproximou do portão, fui falar com ele, ele deu o ultimato de cinco minutos, não aceitamos e ele puxou minha camisa. A confusão começou aí. Vi depois pedras e os disparos. Impossível na hora identificar quem atirou, muitos estavam de balaclava e são novatos", disse.

Vídeo do momento mostra pelo menos uma pessoa erguendo a mão entre a multidão e atirando —não se sabe se foi um dos tiros que atingiu Cid Gomes.

Grande parte dos PMs que tomaram o quartel em Sobral eram jovens, a maioria integrantes da Uniseg (Unidade Integrada de Segurança), que recebe soldados recém saídos da academia.

Essas unidades são divididas por regiões e têm como uma de suas funções realizar o patrulhamento em bairros. É o mesmo perfil de manifestantes em outras cidades cearenses.

A discussão sobre o salário dos soldados é o entrave no acordo entre governo e associações de policiais.

O projeto de lei enviado para a Assembleia na terça prevê aumento salarial de R$ 3.475 para R$ 4.500 até 2022, pago em três parcelas (março de 2020, de 2021 e de 2022). Os policiais querem pagamento imediato e criação de um plano de carreira.

"Qualquer movimento de militares tem um mesmo padrão e tem familiares envolvidos. As mulheres vão na linha de frente, para evitar problemas. Em Sobral, elas esvaziaram os pneus das viaturas [eram 14 no quartel]. A tomada foi tranquila, vários policiais aderiram. Mas a maioria é jovem, por isso em alguns momentos tomam atitudes imaturas como a de ir ao centro nas viaturas", disse Sargento Ailton.

A tática de levar as esposas com espécie de "escudo" foi usada em 2017, quando houve motim de policiais no Espírito Santo.

O prédio do 3º Batalhão da Polícia Militar de Sobral foi, até o início do século, uma cadeia pública. As instalações não oferecem grande conforto, e durante o período do protesto os policiais, esposas, irmãs, mães e crianças dormiram em colchões no chão.

"Mas não houve qualquer depredação, inclusive os pneus não foram rasgados, apenas murchos", disse Sargento Ailton.

Os PMs souberam da chegada de Cid Gomes após contato de outros manifestantes, que estão em Fortaleza. Segundo Ailton, ao menos três pessoas se machucaram na tentativa de invasão com o trator.

"Algumas mulheres passaram mal, e os maridos foram embora com elas. Outros acabaram indo embora desanimados e ficamos em poucos. Decidimos então deixar de forma voluntária o quartel, até para evitar qualquer problema com os companheiros [do Batalhão de Choque] que iriam até o local", disse o vereador, que é oposição na cidade ao prefeito Ivo Gomes (PDT), irmão de Cid e de Ciro Gomes. 

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