Lula e Dilma rebatem levantamento da Folha sobre declarações falsas e imprecisas do petista

Segundo assessores do ex-presidente, jornal distorce, falseia e defende a censura da Globo em caso de mensagens da Lava Jato

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São Paulo

Em texto assinado por dois de seus assessores, o ex-presidente Lula (PT) rebateu neste domingo (2) levantamento divulgado um dia antes pela Folha que apontou uma série de declarações falsas e imprecisas do petista desde que ele deixou a prisão, em novembro do ano passado. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também fez críticas ao jornal.

O texto divulgado no site de Lula é assinado por José Chrispiniano e Ricardo Amaral. Nele, eles criticam, entre outras coisas, o ponto do levantamento que trata da cobertura da TV Globo em relação às mensagens da Lava Jato, obtidas pelo site The Intercept Brasil e divulgadas por outros veículos de imprensa, como a Folha.

O teor das mensagens colocou em xeque a imparcialidade dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e do então juiz federal Sergio Moro, responsável pela condenação de Lula no caso do tríplex de Guarujá (SP), que, após ser confirmada em segunda instância, deixou o petista 580 dias na prisão.

Segundo o levantamento da Folha, Lula deu uma declaração falsa ao dizer que a emissora "só teve coragem de citar o Intercept duas vezes": quando surgiu o nome do apresentador Faustão nas mensagens e depois quando apareceu uma citação ao jornalista Roberto D'Ávila.

Lula também errou, segundo mostrou o levantamento, ao declarar que a Globo não fez sequer uma reportagem sobre a denúncia do Ministério Público contra o jornalista Glenn Greenwald, fundador do Intercept.

Os diálogos dos procuradores da Lava Jato foram alvo de reportagens da emissora, como no Fantástico, quando da revelação das primeiras mensagens. A denúncia do Ministério Público contra Glenn também foi noticiada pela emissora, com destaque no Jornal Nacional.

Neste domingo, os assessores de Lula escreveram que a "Folha de S.Paulo deveria informar-se melhor, lendo suas próprias reportagens, antes de advogar a censura praticada pela Rede Globo, como fez na manchete falsificada deste primeiro fim de semana de fevereiro de 2020".

"Não há outra palavra para definir a cobertura da Globo sobre a Vaza Jato como um todo, e não apenas no breve período que a emissora selecionou para disfarçar sua parcialidade e que a Folha empurrou aos leitores, sem checar, defendendo quem a censurou."

E completam: "A Globo censurou [a reportagem] 'Conversas de Lula mantidas sob sigilo pela Lava Jato enfraquecem tese de Moro' (8/9/19). A Folha mostrou, e a Globo não, que Moro e a força-tarefa esconderam, do STF e do país, conversas nas quais Lula explicava a razão de assumir a Casa Civil de Dilma Rousseff, em março de 2016 —e não era para buscar foro privilegiado, mas para salvar o governo e consertar a economia." 

Segundo o texto, publicado no site do ex-presidente Lula, "a Folha quer igualar Lula a Bolsonaro porque o ex-presidente diz que o atual tem razão em algumas queixas sobre a imprensa". "É um reducionismo desonesto. Lula não ameaçou cassar concessões, não fez retaliação econômica. Denunciou o mau jornalismo do qual todos podem ser vítimas".

Reportagem da Folha publicada no ano passado mostrou que a hostilidade à imprensa aproxima Bolsonaro e Lula, que inclui desde apelidos pouco lisonjeiros para os meios de comunicação a tentativas concretas de controle sobre a mídia.

Lula, por exemplo, liderou o projeto de criar um Conselho Federal de Jornalismo, que chegou a ser enviado ao Congresso em 2004. A iniciativa acabou derrubada pelos deputados, após uma série de críticas. 

O petista ainda ameaçou expulsar o então correspondente do jornal americano The New York Times no Brasil, Larry Rohter, irritado com uma reportagem sobre seus hábitos etílicos. Novamente, foi obrigado a recuar após intensa pressão.

Os jornalistas e assessores de Lula também criticam a inclusão no levantamento de declarações recentes do ex-presidente sobre a Petrobras, o impeachment de Dilma e o ideólogo Olavo de Carvalho.

Solto devido à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo a qual uma pessoa só pode começar a cumprir pena após esgotados todos os recursos, Lula segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa e impedido de disputar eleições. O petista foi condenado em segunda instância nos casos do tríplex de Guarujá e do sítio de Atibaia —no caso do tríplex, a condenação também foi mantida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). 

Para assessores, declarações sobre Olavo não merecem checagem

Os assessores de Lula também criticam a Folha por ter checado uma declaração do ex-presidente sobre o ideólogo Olavo de Carvalho, próximo a Bolsonaro e seus filhos.

Levantamento mostrou uma declaração distorcida de Lula sobre Olavo. O petista disse que o atual governo "tem como indutor cultural um homem que acredita que a Terra é plana e que agora parece que vai ter um programa na TV pública".

Mas, apesar de Olavo ter dito que não encontrou nada que refute experimentos “que mostram a planicidade das superfícies aquáticas”, ele não se define como um terraplanista.

"É simplesmente ocioso checar, como faz a Folha, se um picareta como Olavo de Carvalho acredita mesmo que a terra é plana ou tem apenas dúvidas a respeito", afirmaram os assessores.

"Fato relevante é a destruição do ensino público, do meio ambiente e da soberania nacional por obra dos pupilos que ele nomeou no desgoverno de Bolsonaro. Lula distorceu Olavo? Olavo distorce a inteligência. E a Folha distorce o conceito de checagem de dados —que seria importante contribuição do jornalismo frente à pandemia de mentiras— porque precisa desqualificar Lula."

Impeachment de Dilma

A ex-presidente Dilma também reagiu neste domingo (2) ao levantamento da Folha. Ela concentra suas críticas ao ponto em que é tratado como distorcida a declaração do ex-presidente Lula segundo a qual “até hoje não foi julgado o caso da Dilma na suprema corte. Até hoje não mostraram o crime que a Dilma cometeu.”

O levantamento lembrou que, em 2015, Dilma atrasou repasses a bancos estatais para o pagamento de programas como o Bolsa Família e subsídios agrícolas, manobra conhecida como pedalada fiscal.

O artifício, que permitiu ao governo gastar mais do que poderia com seus próprios recursos, é um crime de responsabilidade. Desde 2016, ano de seu impeachment, a ex-presidente move um processo no STF para anular o seu afastamento.

"O que a Folha publica é uma monstruosa falsidade. Confessa sua cumplicidade com o golpe de Estado de 2016. Vamos à verdade: impeachment sem crime de responsabilidade é golpe", afirma Dilma.

"As alegações que embasaram meu julgamento no Senado carecem de base jurídica e administrativa. Possivelmente, essa é uma das razões para o STF não ter dado sequência a meu julgamento. Importante ponto, solenemente ignorado pela Folha, e destacado por Lula, é que o processo persiste sem ter sido analisado e, portanto, não há veredito jurídico para o caso, e a Folha não pode se arvorar a emiti-lo, se erigindo em quarta instância do Judiciário."

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