Moro diz que polícia da Bahia deve esclarecer morte de miliciano ligado a Flávio

Ministro citou apuração por governo do PT e não explicou por que deixou Adriano fora de lista dos criminosos mais procurados

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Brasília

Em audiência pública na Câmara, nesta quarta (12), o ministro Sergio Moro (Justiça) disse que cabe às autoridades da Bahia explicar as circunstâncias da morte de Adriano da Nóbrega, ex-capitão da PM apontado como chefe de milícia no Rio de Janeiro, no último domingo (9).

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Adriano, que é ligado ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), foi morto durante uma operação policial. O ex-capitão foi encontrado no município de Esplanada (BA) e, segundo a pasta, quando os policiais chegaram ao local, o ex-PM disparou e acabou ferido na troca de tiros. 

Moro aproveitou para citar o PT ao responder a uma provocação de Henrique Fontana (PT-RS), que pediu a ele proteção para Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. "Essa pessoa foi morta nesse confronto com a polícia. E veja: não estou criticando a polícia, não sei a circunstância [da morte], isso vai ser apurado. Mas é a polícia do estado governado pelo Partido dos Trabalhadores. Quem tem que prestar esses esclarecimentos é lá."

O ministro falou sobre o caso na comissão especial da Câmara sobre a PEC (proposta de emenda à Constituição) que determina o cumprimento da pena após condenação em segunda instância, em sessão que durou cerca de quatro horas.

O ministro da Justiça Sergio Moro em sessão solene no STF - Pedro Ladeira - 3.fev.2020/Folhapress

Ele foi questionado sobre a ausência do nome de Adriano da lista dos criminosos mais procurados do Brasil divulgada pelo Ministério da Justiça há duas semanas. À época, a pasta justificou que Adriano não respondia a acusações interestaduais, porém, a relação incluía outros dois milicianos do Rio.

"Essa pessoa específica [Adriano] não entrou e se vê que nem sequer era necessário porque essa pessoa foi encontrada poucos dias depois pela polícia do estado da Bahia. E aí, lamentavelmente, nas circunstâncias que vão ser esclarecidas pela polícia daquele estado, acabou sendo vitimado", disse Moro. 

"Uma lista dos mais procurados não é uma lista de todos os procurados e havia razões específicas para essa pessoa não ser incluída", continuou Moro, sem dar detalhes sobre os motivos pelos quais ele não entrou na relação.

Além de ser acusado de comandar a mais antiga milícia do Rio, o ex-capitão também era suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete da Assembleia Legislativa do Rio do hoje senador Flávio Bolsonaro e foi condecorado pelo parlamentar quando ele era deputado estadual.

O miliciano estava foragido havia mais de um ano. O advogado dele, Paulo Catta Preta, afirma que o ex-capitão dizia temer ser alvo de uma "queima de arquivo".

Ao final da audiência, Moro foi alvo de críticas do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que o acusou de ser "capanga de milícias" e da "família Bolsonaro".

O parlamentar insinuou que o ministro teria interferido nos trabalhos da Polícia Federal, que isentou Flávio da suspeita de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica em inquérito eleitoral que investiga as negociações de imóveis feitas pelo filho mais velho do presidente e sua declaração de bens na eleição de 2018.

O resultado da PF contraria apuração da Promotoria do Rio, que investiga Flávio por esses crimes no bojo das investigações do esquema de "rachadinha" —em que funcionários dão parte de seu salário ao parlamentar— no seu gabinete na Assembleia do Rio.

Moro respondeu a Braga o chamando de "desqualificado para o exercício do cargo de deputado" e disse que "não há fato que possa ser invocado dizendo" que ele protegeu alguém.

Moro e Braga foram repreendidos pelo presidente da comissão, Marcelo Ramos (PL-SP), pelas ofensas, mas houve um princípio de tumulto no colegiado.

O deputado Delegado Éder Mauro (PSD-BA) saiu em defesa de Moro e bateu boca com Braga. Ambos precisaram ser contidos por seguranças.

Segunda instância

Mais cedo, Moro disse que não se opõe à previsão de o cumprimento da pena após condenação em segunda instância valha para processos na esfera cível, desde que também se aplique a norma a casos criminais.

"Se houver maioria suficiente no Parlamento para aprovar [a regra] para os casos criminais e cíveis, sou favorável. Não podemos ter medo da Justiça", afirmou Moro.

O ministro disse, porém, que se não for possível aprovar a regra para casos cíveis, que ela seja aprovada ao menos para os criminais.

A proposta que está em análise pela Câmara leva o trânsito em julgado —momento em que não há mais chances de recurso— para a segunda instância, quando os casos passam a ser analisados por mais de juiz em um colegiado.

Para isso, a ideia dos deputados é acabar com a figura dos recursos extraordinários e especiais, que são impetrados ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), respectivamente, e os transforma em ações autônomas.

A regra é polêmica porque atinge os casos tributários e anteciparia, por exemplo, o pagamento de precatórios e dívidas pela União, estados e instituições financeiras quando condenados pela Justiça.

"Não importa a cor do gato, o importante é que pegue o rato", disse. "A minha ponderação é que ela (a regra do cumprimento da pena) é mais relevante para os casos criminais. Então, se não houver condições políticas de se aplicar a todos (os ramos do direito), que se aplique aos criminais."

Na audiência, o ministro defendeu que nos casos criminais, a lei valha para todos os processos em curso.

 "Tem que valer para todos os casos pendentes, independentemente da fase que se encontram —deveria valer para todo mundo— mas, claro, é um cálculo que deveria ser feito pelo Parlamento", afirmou.

Por essa tese, a regra seria aplicada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi solto em novembro do ano passado após o Supremo Tribunal Federal decidir que o cumprimento da pena não é obrigatório antes do trânsito em julgado. Lula passou 580 dias presos após ser condenado pelo TRF-4 no caso do tríplex de Guarujá.

Moro voltou a criticar a decisão do STF. "Acho que o Supremo errou na mudança da jurisprudência, com todo o respeito."

 
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