Aliados veem Huck mais distante de candidatura presidencial

Apresentador não tem demonstrado ânimo, embora alguns conselheiros digam que decisão só virá em 2021

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São Paulo

As últimas semanas têm sido de desânimo entre aliados de Luciano Huck. Eles veem o apresentador da Rede Globo como mais relutante do que nunca com o projeto de se candidatar a presidente em 2022.

Não é uma percepção unânime, mas sim majoritária, segundo a Folha ouviu de interlocutores e participantes do projeto de costura da pré-campanha do global.

Alguns adversários potenciais dizem, contudo, que tudo pode não passar de uma estratégia para retirar pressão de cima de Huck.

Desde que começou a se mexer mais ativamente, no ano passado, o apresentador foi alvo de insinuações virtuais e públicas, como a feita pelo presidente Jair Bolsonaro acerca das condições favoráveis com que ele comprou um jatinho com financiamento do BNDES à Embraer.

No campo dos desanimados, um dos principais conselheiros do apresentador afirmou que a complexidade da crise política, agora aliada à econômica sob o impacto da pandemia do novo coronavírus, tem feito o apresentador repensar sua intenção.

A cereja do bolo, segundo essa versão, foi o linchamento virtual do médico Drauzio Varella por ter protagonizado um quadro no Fantástico em que abraçava uma presa ​trans que havia matado uma criança.

Huck teme, dizem amigos, pela exposição que uma campanha eleitoral trará, especialmente sobre seus familiares.

A Folha procurou ouvir Huck sobre tudo isso, mas ele preferiu não se pronunciar. Sua assessoria afirmou que “entendemos que [falar sobre o tema] é assoprar brasa e reconhecer articulações inexistentes”.

Seja como for, a falta de apetite explícito é uma marca de Huck desde 2017, quando seu nome passou a frequentar o noticiário político como uma carta na manga do grupo usualmente associado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) —que sempre foi um incentivador de sua entrada na política.

O próprio FHC, que o lançara como “o novo” ao lado do então prefeito paulistano João Doria (PSDB) em uma entrevista então à Folha, sinalizou em nova conversa com o jornal em fevereiro que a falta de decisão de Huck três anos depois dificulta sua posição.

O apresentador desistiu de concorrer em 2018 por motivos financeiros e familiares, principalmente, mas também porque não se via preparado para assumir o Planalto.

A turbulência comandada por Jair Bolsonaro na cadeira, contudo, o fez retomar os planos. Formou uma troika com o ex-ministro da Fazenda Armínio Fraga e com o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e traçou uma rota de participação em seminários e eventos.

O auge dessa formação de uma persona política, ancorada também nos movimentos de renovação Agora! e RenovaBR, foi a circulação com discurso de presidenciável no Fórum Econômico Mundial, realizado no fim de janeiro em Davos (Suíça).

De lá para cá, Huck murchou. Houve relatos de insatisfações renovadas dentro do Agora!, devido à indecisão acerca de candidaturas de integrantes do movimento no pleito municipal de outubro.

Sua presença no grupo, fundado em 2016 e por ele integrado desde 2017, sempre foi controversa por seu protagonismo sobre o coletivo. Integrantes mais antigos do movimento não gostam de ver o Agora! como plataforma de candidatura.

Isso ocorreu, na avaliação de alguns deles, com Marina Silva. A ex-senadora formou a Rede como partido de sustentação de seu fracassado projeto presidencial em 2018.

Aliado do apresentador chegaram a realizar pesquisas para aferir se havia nomes de peso que poderiam representar um grupo político ao seu redor na eleição à prefeitura paulistana, mas não houve conclusões.

Essas idiossincrasias da realidade política também são fator de desestímulo para Huck, segundo um amigo pessoal dele.

Isso porque a popularidade do apresentador ainda não foi testada dentro de um arcabouço de política partidária. E, desde 2013, o Brasil é um campo fértil para a rejeição ao establishment tradicional, como a eleição de Bolsonaro atestou.

Em resumo, fica difícil para Huck se encaixar num partido, apesar de sua ligação próxima com políticos de extração centro-esquerdista ou mais à direita com verniz social no discurso.

Pesquisas recentes de parlamentares da região Nordeste testando suas bases para a eleição de outubro incluíam sondagens presidenciais, e Huck aparece bem no espectro antes monopolizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Não por acaso, por enquanto seu embrião de pré-campanha conta com apoio aberto somente do Cidadania, ex-PPS e ex-PCB, partido com baixíssima densidade eleitoral.

Mesmo entre alguns nomes da sigla, o que um dirigente chama de “nojinho de partido” de Huck e alguns aliados dificulta uma aceitação plena. A cúpula, contudo, segue firme como candidata a hospedeira.

Entre os partidários ainda entusiasmados, contudo, tudo não passa de boa tática. Aqui, eles empatam com os adversários: creem que Huck está buscando voar abaixo do radar para evitar desgaste, ante o turbilhão político pelo qual passa o país. Para eles, o apresentador só deveria se colocar no jogo em meados de 2021.

Segundo um desses aliados, a programação original visando 2022 segue firme. Huck inclusive falaria na Associação Comercial de São Paulo na segunda (16), mas o evento foi cancelado devido ao coronavírus.

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