Descrição de chapéu Coronavírus

Após panelaço e perda de apoio, Bolsonaro modula discurso sobre coronavírus

Depois de se referir à pandemia como uma "fantasia", presidente reconheceu que a situação é grave

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Brasília

Um dia após ter sido alvo de um panelaço por sua postura diante da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro modulou o seu discurso público e passou a reconhecer que a situação é grave.

Questionado pelos jornalistas sobre sua participação em manifestações do último domingo (15), contudo, não demonstrou arrependimento.

Na tentativa de mostrar que mudou de posição, o presidente reservou a sua agenda pública nesta quarta-feira (18) a reuniões e eventos sobre o assunto e promoveu entrevista à imprensa na qual enumerou iniciativas que têm sido feitas para evitar o alastramento da doença.

O presidente Jair Bolsonaro concede entrevista usando máscara ao lado de ministros
O presidente Jair Bolsonaro concede entrevista usando máscara ao lado de ministros - Pedro Ladeira/Folhapress

Em suas declarações, Bolsonaro continuou a defender a necessidade de que o país não entre em "histeria" diante do aumento de casos de contágio, mas ressaltou que a curva de de infecção preocupa.

"O que nos buscamos é estender, alongar o prazo daqueles que terão o vírus. O objetivo é alongar o prazo porque o nossos sistema de saúde não tem condições de acolher uma quantidade considerável de atender pessoas, em especial idosos", disse.

Bolsonaro também disse que não há clima para protestos nas ruas.

"É grave e é preocupante, mas não devemos entrar no campo da histeria ou da comoção nacional", afirmou. "Não há clima para alguém pensar em manifestação. A realidade vai chegando aos poucos", disse.

Em um contraponto aos ataques que desferiu desde a semana passada contra o Poder Legislativo, Bolsonaro passou agora a fazer fez elogios públicos ao Congresso e convocou uma reunião com os presidentes da Câmara e do Senado. Nenhum dos dois, porém, compareceu.

O senador Davi Alcolumbre foi diagnosticado com coronavírus e está em isolamento. Já o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que tinha a agenda cheia e pediu que o governo apresentasse uma pauta mais concreta para o encontro.

"Nós externamos toda a nossa preocupação. Estamos tendo apoio incondicional por parte da Câmara e do Senado em todas as medidas necessárias", disse o presidente.

Nas últimas semanas, o gabinete digital do Palácio do Planalto identificou, segundo auxiliares presidenciais, críticas até mesmo entre perfis de direita à postura do presidente de minimizar a crise de saúde.

A desmobilização nas redes sociais se somou aos panelaços promovidos na noite de terça-feira (17) em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Segundo deputados aliados, o tamanho da manifestação surpreendeu o presidente.

Na tentativa de responder a uma nova mobilização marcada para esta quarta-feira, o presidente convocou um panelaço a favor do seu governo durante a entrevista coletiva e por meio de suas redes sociais. Em uma estratégia para tentar esvaziar o protesto contra ele, marcou para horário semelhante.

Apesar de ter baixado o tom, Bolsonaro continuou a prestigiar o diretor-presidente substituto da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, em detrimento do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta​.

Barra foi chamado para discursar antes de Mandetta e foi elogiado pelo presidente.

Barra foi fortemente criticado por servidores da Anvisa por ter participado de manifestação ao lado de Bolsonaro no último domingo, em frente ao Palácio do Planalto.

Durante o ato, o presidente descumpriu as recomendações do Ministério da Saúde, de evitar aglomerações e que as pessoas tenham contato entre si. Bolsonaro apertou a mão e cumprimentou uma série de apoiadores, além de ter tirado selfies e segurado telefones celulares e devolvido a seus donos.

O presidente tem cobrado Mandetta a adotar um discurso mais afinado ao do Palácio do Planalto no combate à pandemia, a exemplo de Barras. Para ele, o tom adotado pela saúde tem gerado histeria.

Nesta quarta-feira, o ministro cedeu à pressão do presidente e defendeu, nas redes sociais, que não se crie um clima de desespero.

"Não podemos deixar isso se transformar em histeria e desespero! Calma, serenidade, prevenção e ações eficazes são armas importantes para superarmos o coronavírus", escreveu.

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