Bolsonaro tem que sair da Presidência, afirma Janaina Paschoal

Após desdém de presidente com coronavírus, deputada diz que se arrependeu do seu voto

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São Paulo

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve sair do cargo após ter contrariado seu próprio ministro da Saúde e, em meio à pandemia de coronavírus, ter tocado em apoiadores durante manifestação a seu favor no domingo (15), em Brasília.

"Esse senhor tem que sair da Presidência da República, deixa o [Hamilton] Mourão [vice-presidente], que entende de defesa, conduzir a nação", pediu Janaina nesta segunda-feira (16), em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo.

A deputada também dirigiu críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por, na avaliação dela, não ter tomado medidas suficientes contra o coronavírus. "Se houver um colapso no sistema de saúde em São Paulo, o governador deve perder o cargo", completou.

Janaina afirmou que Bolsonaro cometeu crime contra a saúde pública ao estimular os atos de domingo e ao participar da aglomeração, já que ele próprio está sob suspeita de ter contraído a Covid-19. Embora o resultado de seu teste na semana passada tenha sido negativo, ele fará novos exames, e ao menos 12 pessoas que se encontraram com ele estão com a doença.

"Como um homem que está possivelmente infectado vai para o meio da multidão? [...] Ele está brincando? Ele acha que pode tudo? As autoridades têm que se unir e pedir para ele se afastar. Não temos tempo para um processo de impeachment."

Pelo Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, respondeu após a fala da deputada. "São 57.796.986 de brasileiros que votaram contra o sistema e a favor de Bolsonaro. A senhora tem todo o direito de se arrepender, não a criticarei por isso. Mas nunca se esqueça: a vontade do povo é (e continuará sendo) soberana."

Após ter sido cotada para ser vice de Bolsonaro na campanha de 2018, Janaina afirmou nesta segunda, pela primeira vez, que se arrependeu do seu voto no presidente.

Autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), a advogada e professora da USP teve mais de 2 milhões de votos em sua eleição para deputada estadual, um recorde nacional.

"Ele desrespeitou a ordem do ministro da Saúde. O que ele fez ontem é inadmissível, injustificável, indefensável", disse Janaina na tribuna.

Em outras ocasiões, a deputada foi crítica a Bolsonaro e nunca se considerou bolsonarista —mas até agora mantinha o apoio ao governo federal. Ela já afirmou, por exemplo, que pessoas próximas ao presidente alimentam visão conspiratória e que isso é prejudicial.

Também autor do pedido de impeachment de Dilma, o jurista Miguel Reale Júnior defende que o Ministério Público peça para que Bolsonaro seja submetido a uma junta médica para determinar se ele tem sanidade mental para ser presidente. Reale afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que Bolsonaro deve ser considerado inimputável por ter participado do ato em Brasília.

Em sua fala na Assembleia, Janaina afirmou que as autoridades têm que ter responsabilidade e voltou suas críticas a Doria e Bolsonaro.

"Isso é homicídio doloso. Quanto as autoridades têm o poder e dever de tomar providências para evitar um resultado danoso e assim não procedem, elas respondem por esse resultado. Isso vai ser atribuído ao governador do estado e principalmente ao presidente da República", afirmou ela.

Segundo Janaina, na quinta (12), ela pediu a Doria que suspendesse cerimônias, homenagens e inaugurações. "Ele riu na minha cara e disse que estava seguindo técnicos", disse ela.

No fim de semana, Doria tomou medidas mais restritivas, como suspensão de aulas e eventos, mas a deputada diz que isso não parece suficiente. "Ele continua fazendo inaugurações. Não pode mais, autoridade tem que dar a sinalização", disse.

Nesta segunda, Bolsonaro acusou a cúpula do Poder Legislativo de ter iniciado contra ele uma "luta de poder" e afirmou que seria um golpe de Estado isolá-lo. Em entrevista por telefone à Rádio Bandeirantes, ele disse que tem sido ameaçado "o tempo todo" e que não existem hoje elementos para a "abertura formal de um processo de impeachment contra ele".

"Não pode um chefe do Poder Executivo viver ameaçado o tempo todo", afirmou. "Seria um golpe isolar o chefe do Poder Executivo por interesses outros que não sejam os republicanos", afirmou.

Em uma referência a Fernando Collor e a Dilma Rousseff, presidentes que sofreram processos de impeachment, Bolsonaro disse que não foi acusado de corrupção nem cometeu irregularidades na área fiscal.

"Eu não abuso e não tenho qualquer envolvimento com corrupção. E terceiro fato: um impeachment só pode haver, no meu entender, se o povo estiver favorável a isso. Não existe nenhum ingrediente no tocante a isso daí."

Para o presidente, houve motivação política nas críticas feitas contra ele pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por sua participação em manifestação neste domingo, apesar das recomendações do Ministério da Saúde para evitar aglomerações.

"Nós estamos em uma briga pelo poder e vou ser fiel àquilo que eu sempre tive com a população brasileira. Não dá para querer jogar nas minhas costas uma possível disseminação do vírus", disse.

No domingo, Bolsonaro estimulou e participou de manifestações em diferentes pontos do país. Os atos tiveram gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Também houve pedidos de intervenção militar e AI-5 por parte dos manifestantes.

O presidente incentivou os atos desde cedo em suas redes sociais —foram ao menos 42 postagens sobre o tema. Sem máscara, participou das manifestações, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.

Na quinta, o presidente havia pedido que as manifestações fossem adiadas. Como a Folha mostrou, porém, apoiadores do presidente e líderes do bolsonarismo, como Olavo de Carvalho, continuaram as convocações.

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