Comandante do Exército diz que coronavírus é maior missão 'da nossa geração'

Postagem foi feita pouco antes do pronunciamento de Bolsonaro minimizando a doença

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São Paulo

Na mesma noite em que o presidente Jair Bolsonaro fez criticado pronunciamento atacando governadores e imprensa, além de minimizar a crise do coronavírus, o Exército Brasileiro foi em direção diversa.

O comandante da Força, general Edson Leal Pujol, publicou no Twitter vídeo com mensagem dizendo que a crise atual "talvez seja a missão mais importante de nossa geração".

A postagem ocorreu às 19h05, uma hora e 25 minutos antes de Bolsonaro ir à rede de rádio e TV para criticar, entre outras coisas, o fechamento de escolas por parte de prefeituras e escolas. Pujol, por sua vez, falou sobre medidas em institutos militares. "Nos estabelecimentos de ensino, adotaram cuidados especiais para proteger instrutores e alunos", disse.

Como a Folha mostrou durante a tarde de terça (24), militares da ativa e integrantes do governo Bolsonaro estão preocupados com a condução da crise pelo presidente. A ala fardada inclusive agiu para colocar um freio de arrumação nas ações do chefe do Executivo, o aconselhando a moderar o tom com governadores, por exemplo.

Já o pronunciamento foi inspirado pela dita ala ideológica do governo, liderada pelos filhos do presidente e ministros ligados ao escritor Olavo de Carvalho, ora distante de Bolsonaro.

Parecia estar fazendo efeito até o pronunciamento da noite de terça, criticado universalmente por governadores e políticos, além de ser alvo de um novo panelaço contra Bolsonaro nas principais cidades do país.

Para ele, os trabalhadores militares, "sob coordenação do Ministério da Defesa", "diuturnamente estão dando exemplos de coragem e comprometimento contra os efeitos indesejáveis dessa doença".

O presidente Bolsonaro e o general Pujol, comandante do Exército, no Dia do Soldado de 2019
O presidente Bolsonaro e o general Pujol, comandante do Exército, no Dia do Soldado de 2019 - Pedro Ladeira - 23.ago.2019/Folhapress

Enquanto o presidente falou sobre uma suposta boa imunidade devido ao "histórico de atleta", apesar de ele fazer parte do grupo de risco (tem 65 anos, além de ter passado por diversas cirurgias recentes devido à facada que levou durante a campanha de 2018), o general enfatizou a prevenção.

"O momento exige união, organização e especial cuidado com nossa saúde e a daqueles que nos cercam", afirmou. Evocando o bordão do Exército, disse que "o braço forte atuará se for necessário, e a mão amiga estará estendida mais do que nunca a nossos irmãos brasileiros".

A fala do comandante não deve ser vista como individual. Ela sempre expressa a voz do Alto Comando do Exército, colegiado de generais de quatro estrelas, topo da carreira, que integram as principais unidades da Força.

Em pouco mais de um ano de governo, é a o mais eloquente indicador de algo que acontecia nos bastidores: a ativa tentando se distanciar do governo do capitão reformado do Exército.

A dita contaminação política-quartéis estava em ritmo acelerado, em especial com a entrada de oficiais-generais da ativa no ministério, mas essa postagem marca uma inflexão. Não é certa, contudo, a reação da ala militar que vinha tentando conter Bolsonaro até aqui após essa sinalização.

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