Descrição de chapéu Coronavírus

Congresso, governadores, Judiciário, empresários e até aliados reagem à fala de Bolsonaro; veja repercussão

Em pronunciamento nesta terça (24), Bolsonaro defendeu o fim do isolamento e a reabertura de escolas

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São Paulo

Governadores, empresários, políticos e influenciadores de diversas matizes políticas —incluindo aliados— estão entre os críticos do discurso que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) proferiu nesta terça-feira (24).

Em pronunciamento de quase cinco minutos, Bolsonaro defendeu o fim do isolamento, chamado por ele de confinamento em massa, e a reabertura de escolas e comércio. Se adotadas, as medidas irão na contramão de dezenas de países ao redor do mundo e de recomendações de especialistas.

Por rede social, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que "se [Bolsonaro] não calar estará preparando o fim". Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), considerou "grave a posição externada pelo presidente da República".

Pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, em cadeia nacional de rádio e televisão, sobre o enfrentamento à covid-19 - Reprodução

Até esta terça, 156 nações haviam fechado todas as suas escolas, segundo levantamento da Unesco.

Em um ataque à TV Globo e ao médico Dráuzio Varella, colunista da Folha, Bolsonaro afirmou que, pelo seu "histórico de atleta", caso fosse contaminado, "nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão".

A fala faz referência a um vídeo de Dráuzio de janeiro, com comentários do médico sobre a situação naquele momento.

Abaixo, veja os principais comentários sobre o pronunciamento.

"A pandemia do #covid19 exige solidariedade e co-responsabilidade. A experiência internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez. #FiqueEmCasa"
Ministro do STF, Gilmar Mendes

"A manifestação em cadeia de rádio e televisão do presidente da República contraria as determinações da Organização Mundial da Saúde. Nós continuaremos firmes, seguindo as orientações médicas, preservando vidas. Eu peço a você, por favor, fique em casa."
Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC)

"Não é gripezinha. Vou continuar trabalhando em defesa da vida. Olhar nos olhos das pessoas e dizer: estamos numa guerra. ACORDA. Temos que vencê-la. Chega de discurso vazio e delírios. Vamos trabalhar mais e mais. Responsabilidade. Todos contra o coronavírus. #FiqueEmCasa"
Governador da Bahia Rui Costa (PT)

"Pronunciamento de hoje mostra que há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República. Os danos são imprevisíveis e gravíssimos."
Governador do Maranhão Flávio Dino (PC do B)

"Estarrecido com o pronunciamento do presidente da República na noite de ontem em relação às medidas de isolamento (...), eu venho à público informar à população de Santa Catarina que no dia de hoje, 25 de março de 2020, nós iniciamos mais uma quarentena de 7 dias, por determinação de decreto deste governador."
Governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL)

“Ficamos frustrados com o posicionamento agressivo da Presidência da República, que deveria exercer o seu papel de liderança e coalizão em nome do Brasil. (...) Vamos continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência seguindo orientação de profissionais de saúde, capacitados para lidar com a realidade atual."
Carta conjunta de governadores do Nordeste

"A Federação brasileira, cooperativa por excelência, precisa contar com um comando geral organizado, sério e capaz de contemplar as diversas dificuldades que o país enfrenta; no entanto, não é, infelizmente, o que está acontecendo. As opiniões particularizadas do senhor presidente são contrárias a todas as recomendações científicas e técnicas que a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde estão orientando. (...)

Dessa forma, a CNM não concorda com as posições do Excelentíssimo Senhor Presidente da República e recomenda aos gestores locais que editem os Decretos de Calamidade Pública; que estabeleçam neles o regramento sobre o comportamento que deve ser adotado na sua comunidade e também as punições a serem aplicadas a quem descumprir o que foi estabelecido."
Confederação Nacional de Municípios

"Eu não ia voltar ao tema, mas o presidente repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia. O momento é grave, não cabe politizar, mas opor-se aos infectologistas passa dos limites. Se não calar estará preparando o fim. E é melhor o dele que de todo o povo. Melhor é que se emende e cale."
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)

"Neste momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque."
Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP)

"Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública."
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ)

"Bolsonaro faz um pronunciamento descolado da realidade, ataca a imprensa e insiste em dizer que o novo coronavírus é uma “gripezinha”. Hoje totalizamos 46 mortos!!! O Brasil não tem presidente da República!"
Líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ)

"Vimos em rede nacional um presidente desqualificado mentir, debochar e provocar um país que, apesar dele, luta bravamente e se une para enfrentar umas das maiores crises da história."
Deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ)

"Os brasileiros deveriam anotar os nomes dos empresários, dos apresentadores de TV e dos políticos que, em meio a contaminações, mortes, velórios sem abraços, cremações isoladas... Tiveram a ousadia de dizer que estão acima dos demais... Que não são passíveis de contaminação..."
Deputada estadual de São Paulo Janaína Paschoal (PSL)

“O presidente dobrou a aposta do discurso lunático e colocou em xeque as políticas de isolamento defendidas pelo seu próprio ministro da Saúde (...) Em vez de propor soluções, preferiu atacar a imprensa, os governadores e fazer piada em rede nacional. Tragédia anunciada."
Deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP)

"738 mortes por coronavirus na Espanha nas últimas 24 horas. Essa doença não é uma “gripezinha”. Bolsonaro vive num mundo paralelo. Seu deboche demonstra sua irresponsabilidade e incapacidade de lhe dar com a crise. Enquanto isso, 46 mortes até aqui no Brasil."
Deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP)

"A resposta das instituições democráticas e lideranças políticas deve ser enérgica. Não é possível normalizar mais esse absurdo. (...) É momento de união, de nos somarmos aos esforços que realizam os governadores, de apoiarmos os profissionais da saúde e o SUS, de aprovarmos medidas no Congresso que defendam a vida e o emprego. O momento exige uma ampla convergência contra a insensatez de Bolsonaro. Requer uma ampla união em defesa da vida dos brasileiros e da democracia. Basta de Bolsonaro!"
Partidos de oposição

"Neste momento de perplexidade, caberia ao presidente da República estar falando à nação sobre ações voltadas a preservar empregos. Mas Jair Bolsonaro não ofereceu aos brasileiros qualquer saída para a crise. Não quis congregar, mas enfrentar gratuitamente muitos dos que lutam para minimizar o efeito da pandemia entre os brasileiros."
PSDB

"Combater o coronavírus deve ser a prioridade absoluta de todos os brasileiros e de nossos governantes. Porém, é fundamental que tenhamos medidas sendo pensadas e implantadas para que a população seja minimamente afetada por essa doença e pelas necessárias ações realizadas para combatê-la. Pelo mundo, estamos testemunhando nações, mais ricas e desenvolvidas, sofrendo com casos graves e sistemas de saúde sobrecarregados, impossibilitando o atendimento de todos os doentes que precisam de hospitais, cenário que devemos evitar aqui com todos os nossos esforços. O governo, o país, não podem parar. As medidas sanitárias se impõem, mas Saúde e Economia precisam atuar de forma conjunta, mediada. Vamos superar essa crise com os protocolos de saúde, e, simultaneamente, aplicando medidas econômicas possíveis e necessárias, no curto, médio e longo prazos, para preservar empregos e renda, especialmente dos mais vulneráveis, e empresas e investimentos. O Partido Social Democrático (PSD) seguirá atuando no Congresso Nacional em defesa das medidas necessárias para que o Brasil vença este vírus e supere esta crise."
Gilberto Kassab

"Obviamente, existe um ponto ótimo entre combater a epidemia e não deixar a economia implodir, para salvar o máximo de vidas. Ninguém sabe ao certo qual é esse ponto. O presidente Bolsonaro parece genuinamente buscar tal ponto, mas não esta comunicando isso da forma correta."
Influenciador bolsonarista Leandro Ruschel

"Se eu fosse redigir este discurso, eu não colocaria este trecho pelo simples motivo de que no Brasil os filhos da puta e os analfabetos abundam. E mais, incluiria também as principais medidas que o Governo JÁ TOMOU contra a crise, em vez de só falar de uma POSSÍVEL cura."
Influenciador bolsonarista Bernardo Küster

"Bolsonaro acerta ao falar da necessidade de evitar histeria e manter atividade produtiva; mas reescreve a importância que deu ao vírus no começo, e alfineta de forma desnecessária a mídia num momento de ser (ou ao menos bancar) o estadista. Podia ter lido meu texto de hoje."
Economista Rodrigo Constantino

"O Ministério da Saúde tem feito um excelente trabalho de como lidar com essa crise, seguindo o exemplo do mundo inteiro. Não há dúvidas de quem está com a razão."
Vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz

"A gente precisa exigir do presidente uma postura de líder da nação. Ele não apresentou essa postura ontem. Por mais que eu concorde com o direcionamento, de que a gente tem que evitar um colapso econômico, e essa é a mensagem que ele tentou passar, a forma como ele se comunicou não passou segurança à população."
Gabriel Kanner, presidente do grupo de empresários Brasil 200

"Entre a ignorância e a ciência, não hesite. Não quebre a quarentena por conta deste que será reconhecido como um dos pronunciamentos políticos mais desonestos da história."​
Presidente da OAB, Felipe Santa Cruz

"Decididamente, num momento em que se exige serenidade e liderança firme e responsável, com seu comportamento irresponsável e criminoso o presidente mostra não estar à altura do importante cargo que ocupa."
Associação Brasileira de Imprensa

"A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a público expressar sua profunda indignação com o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, proferido em cadeia nacional de televisão, na noite desta terça-feira, 24 de março. Em mais uma demonstração pública de sua descompostura e inépcia, o presidente atacou a imprensa e orientou o povo brasileiro a não seguir as recomendações das autoridades sanitárias do Brasil e do mundo, em relação à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Distinguindo-se dos principais líderes políticos do mundo, Bolsonaro agiu como um genocida, ao deixar evidente seu desprezo pela vida do povo brasileiro, em especial, da população idosa."
Federação Nacional dos Jornalistas

"As declarações demonstram desprezo não apenas pela saúde dos brasileiros, mas também a total ignorância do presidente da República em relação ao papel da mídia: levar à população informação embasada em fatos científicos e dados concretos, de maneira que as pessoas possam tomar as decisões que considerem adequadas —trabalho considerado essencial em decreto assinado pelo próprio Jair Bolsonaro no dia 20.mar.2020."
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo

"Em relação à pandemia de Covid-19 e o pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro em rede nacional na noite da última terça-feira, a Anistia Internacional afirma: saúde e vida são direitos humanos. Enfrentamos o que já se configura como uma das maiores crises da história, com esses dois direitos tão básicos e preciosos para nós ameaçados. As evidências científicas, as recomendações das autoridades sanitárias mundiais e os fatos mostram a gravidade da Covid-19 para a saúde e para os sistemas de saúde de todos os países. Somos 220 milhões de brasileiros e brasileiras. Imagine se nos infectarmos e precisarmos correr aos hospitais ao mesmo tempo, como aconteceu nos países mais afetados? É isso que o os governantes brasileiros devem priorizar evitar agora."
Anistia Internacional

"Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a COVID-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. (...) A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil"
Sociedade Brasileira de Infectologia

“Se a intenção foi acalmar, a reação da sociedade mostra que ele não alcançou seus objetivos. Você não traz esperança minimizando o problema, mas reforçando as soluções. Existe um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo. Enfrentá-lo é prioritário"
Associação Paulista de Medicina

"A permanência do Ministro da Saúde à frente da ação em situação de crise que vivemos é fundamental para o sucesso no combate interfederativo ao COVID-19, o qual estamos somente no início. O discurso do presidente da república, nesta terça-feira (24), absolutamente não representa os municípios brasileiros, como já se pronunciaram entidades de prefeitos. As declarações presidenciais colocam prefeitos e governadores como tomadores de decisões exageradas, ao passo que todas as medidas foram tomadas seguindo orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), além de colocar em risco a saúde de toda a população brasileira.

Além disso, o pronunciamento do Presidente da República desconsidera os imensos esforços da sociedade civil em manter distanciamento social, fechar estabelecimentos comerciais e serviços desacelerando a economia, tudo em defesa da vida, que é o bem maior de uma nação."
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

"O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) lamenta o pronunciamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite de terça-feira (24/3), incentivando a população a desconsiderar as diretrizes de isolamento social fundamentais para conter a pandemia de coronavírus (COVID-19). (...)

Em respeito aos 2,3 milhões de profissionais de Enfermagem, a todos os médicos, fisioterapeutas, farmacêuticos e outros profissionais de Saúde que se dedicam a garantir a assistência à população, enfrentando seus próprios receios em um momento de crise, pedimos à população brasileira que continue em casa. Sua atitude tem reflexos diretos na nossa segurança, e também na segurança dos policiais e trabalhadores de serviços essenciais, como limpeza urbana, que precisam continuar trabalhando. Vamos juntos vencer o vírus, achatar a curva de transmissão e evitar o colapso do sistema de Saúde."
Conselho Federal de Enfermagem

"Para a SBGG, qualquer decisão que abrande o isolamento da população, que não considere
orientações epidemiológicas e sanitárias, será extremante prejudicial para o combate ao
coronavírus (SARS-CoV-2) em todo o Brasil. Podendo, assim, acarretar em um número maior de
infectados e mortes. (...)

Seremos militantes do nosso posicionamento. Devemos manter o isolamento da população idosa
e de todas as outras medidas de contenção necessárias."
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

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