Descrição de chapéu Coronavírus

Crise do coronavírus provoca embate de Bolsonaro com Doria e Witzel, rivais para 2022

Governadores apontam falta de diálogo e falhas do presidente, para quem eles tomam medidas extremas que não cabem aos estados

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Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os governadores dos dois estados mais afetados pelo novo coronavírus trocaram acusações nesta sexta-feira (20) sobre a responsabilidade de cada um no combate à Covid-19.

Os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmaram que Bolsonaro falha. Para eles, o presidente age com demora na resposta à crise sanitária causada pela doença.

O presidente, por sua vez, criticou medidas dos governos locais como fechamento de shoppings e, principalmente, o decreto de Witzel de restringir o transporte interestadual e voos no estado.

No final da noite, Bolsonaro disse em rede social ter assinado medida provisória "deixando claro ser de competência federal, observando critérios técnicos e responsáveis, a definição sobre fechamento, ou não, de aeroportos e rodovias/estradas federais".

Doria e Witzel se elegeram em 2018 impulsados pelo bolsonarismo. Eles, contudo, romperam com o atual presidente e hoje são considerados adversários políticos pelo Planalto, além de potenciais rivais na disputa pela Presidência em 2022.

O presidente da República, Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro - Isac Nóbrega - 20.mar.20/PR

As ações do governador do Rio foram tomadas por decreto. Elas, porém, dependem de aval de agências federais —que avisaram que o estado não tem competência para decidir sobre esses assuntos.

“Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas, que não compete a eles, [como] fechar aeroporto, fechar rodovias. Não compete a eles fechar shopping, etc, a feira dos nordestinos no Rio de Janeiro, que está para fechar”, afirmou Bolsonaro pela manhã, na saída do Palácio da Alvorada.

“Parece que o Rio de Janeiro é um outro país. Não é um outro país, isso aqui é uma federação. Temos de tomar medidas equilibradas, porque cada vez mais leva o pânico para a companhia aérea. O pessoal mais pobre daqui a pouco vai ter problema de saque”, afirmou.

As respostas de Witzel e de Doria foram rápidas.

"São os nossos hospitais que serão impactados, e o governo federal ainda em passo de tartaruga. Só fiz o decreto para que o governo tome ciência das medidas que precisam ser adotadas e, de uma vez, acorde”, disse Witzel à GloboNews.

“É necessário acabar com essa atitude antidemocrática e ouvir os governadores”, completou o governador fluminense.

Ele ainda se queixou da falta de diálogo com a administração central. “Nós [governadores] não temos diálogo com o governo federal. Não sou só eu. Os governadores, para se comunicar com o governo federal, precisam mandar uma carta”, disse Witzel ao RJTV, da TV Globo.

Doria foi na mesma linha. “Nós estamos fazendo aquilo que ele não faz: liderar o processo, a luta contra o coronavírus, estabelecer informações claras, não minimizar processos, compreender a importância de respaldo da informação científica, da área da medicina”, afirmou o tucano.

O governador paulista disse ainda que os governadores se reunirão na segunda-feira (23) para discutir medidas conjuntas. Segundo o tucano, Bolsonaro, “quando faz, faz errado”.

São Paulo e Rio são os dois estados mais golpeados pela pandemia do coronavírus no Brasil. Em São Paulo, são 396 casos confirmados e 9 mortes. No Rio, os números são 109 e 2, respectivamente.

No Brasil, segundo boletim do Ministério da Saúde desta sexta, eram 904 casos positivos do vírus. Já morreram no país 11 pessoas em consequência da Covid-19.

Bolsonaro vem se queixando de medidas restritivas tomadas por governadores que ele considera excessivas e que contribuem, na sua visão, para um estado de histeria e para danos na atividade econômica.

No começo desta semana, Bolsonaro afirmou: “Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia. [...] A vida continua, não tem que ter histeria”.

Apesar de se arrastar há dias, o descontentamento escalou com a decisão de Witzel de editar um decreto que determina o fechamento de divisas do estado e proíbe voos provenientes de locais com transmissão confirmada do Covid-19.

Para Bolsonaro, seu antigo aliado extrapolou funções que são exclusivas da União.

“Teve um estado do Brasil que só faltou o governador declarar a independência do mesmo. Com medidas, como fechando rodovias e aeroportos, que inclusive não são competência dele. Então vamos uniformizar isso, a economia não pode parar”, reiterou o mandatário, também nesta sexta.

“Mais ainda, produtos são produzidos para combater o coronavírus que têm de ser transportados por via aérea ou terrestre. Não pode cada governador tomar a decisão que ele ache a melhor.”

A ação de Witzel gerou preocupação no Planalto, que teme decisões semelhantes de outros entes subnacionais.

A Prefeitura de Guarulhos (SP), por exemplo, sugeriu o fechamento do terminal de passageiros do aeroporto da cidade, o maior do país.

Diante disso, auxiliares do presidente passaram a traçar um plano para evitar que outros entes da federação adotem, de forma independente, medidas que travem a circulação no país.

A principal apreensão é com os problemas logísticos que isso pode criar na manutenção do abastecimento do Brasil durante o período mais crítico de transmissão do novo coronavírus.

O assunto também entrou na pauta de Luiz Henrique Mandetta (Saúde). Ele reiterou nesta sexta que a epidemia de Covid-19 é um problema de sustentação nacional.

“Porque essa história de fechar aeroporto, de o estado A fechar para B, isso não pode ser descentralizado. Senão vai virar bagunça. Isso vai ter de ter um comando central”, afirmou o ministro.

Para evitar novas medidas de restrição de movimentação entre os estados, Bolsonaro deverá criar um órgão para disciplinar ações como o fechamento de divisas e de aeroportos.

Segundo relataram interlocutores à Folha, o Ministério da Infraestrutura deverá instituir um conselho do qual participarão também secretários estaduais de transportes.

A ideia é que o órgão seja uma forma de centralizar essas discussões no governo federal, para evitar que diferentes entes subnacionais tomem decisões sem coordenação com a União.

Ao criar o conselho, o Planalto também busca responder às críticas de que há pouco diálogo do governo central com os estados e municípios no combate ao coronavírus.

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