Empresário sugere a CPMI que terceirizada deletou registros digitais da campanha de Bolsonaro

Sócio-proprietário da empresa AM4 integrou a equipe de transição do governo em 2018

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Brasília

O sócio de uma empresa de serviços digitais sugeriu nesta quarta-feira (4) à CPMI das Fake News que a Yacows, empresa que fez disparos em massa nas eleições de 2018, deletou os registros relacionados à campanha do presidente Jair Bolsonaro.

Marcos Aurélio Carvalho, sócio-proprietário da empresa AM4 e amigo do ex-presidente do PSL Gustavo Bebianno, integrou a equipe de transição do governo por um dia em 2018 até ser exonerado após críticas do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente.

Ele foi convocado para explicar a participação da AM4 na campanha eleitoral do presidente. A empresa recebeu R$ 650 mil pelos serviços, segundo a prestação de contas à Justiça Eleitoral.

À época do governo de transição, o empresário Marcos Aurélio de Carvalho (com a mala), ao lado de integrantes do governo Bolsonaro
À época do governo de transição, o empresário Marcos Aurélio de Carvalho (com a mala), ao lado de integrantes do governo Bolsonaro - Pedro Ladeira/Folhapress

Um dos gastos realizados pela AM4 foi a contratação da plataforma da Yacows, chamada Bulk Services, para fazer disparos de WhatsApp para o então candidato presidencial. Segundo Carvalho, as mensagens eram dirigidas a um cadastro de doadores do PSL e se limitavam a informar uma troca de telefone.

Em outubro de 2018, foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha de Bolsonaro, horas depois da publicação de reportagem da Folha sobre o assunto.

Folha revelou, em outubro de 2018, que empresários usaram a Yacows e pelo menos outras três empresas para disseminar mensagens com conteúdos apócrifos contra campanha do então candidato petista Fernando Haddad.

A AM4 não estava citada entre as empresas que fizeram disparos bancados por empresários. Em seu depoimento à CPMI, o dono da AM4 afirmou que as informações da reportagem da Folha estavam corretas em relação a sua empresa.  

Nesta quarta, falando a deputados e senadores, Carvalho negou que a AM4 tenha apagado as mensagens e, em seguida, entregou à comissão imagens das telas com o conteúdo disparado pela campanha de Bolsonaro.

“Vários clientes dessa plataforma tiveram registros apagados. Acho que a empresa viu a reportagem [da Folha], deve ter feito alguma coisa errada para alguém e de ter saído lá deletando”, afirmou.

Ele afirmou que Lindolfo Alves Neto, um dos sócios da Yacows, poderia ter uma cópia do material em backup. Em depoimento à CPMI em fevereiro, Lindolfo isse desconhecer quem apagou as mensagens.

O dono da AM4 também contradisse outra informação dada por Lindolfo à CPMI.

Segundo Carvalho, a AM4 contratou um crédito para disparo de mensagens para 20 mil destinatários e o utilizou duas vezes, alcançando mais de 9.000. Lindolfo, em seu depoimento, afirmou que cerca de 900 pessoas haviam recebido as peças de campanha.

Ex-funcionário de empresa de disparos em massa, Hans Nascimento (à dir.) presta depoimento nesta terça (11) na CPMI das Fake News
Ex-funcionário de empresa de disparos em massa, Hans Nascimento (à dir.) presta depoimento nesta terça (11) na CPMI das Fake News - Jane de Araújo/Agência Senado

Carvalho negou ainda que qualquer advogado da AM4 tenha participado da rescisão trabalhista do ex-funcionário da Yacows Hans River Rio do Nascimento, ao contrário do que afirmou o depoente à CPMI.

Durante a sessão do dia 19 de fevereiro, o sócio da Yacows afirmou que representantes da AM4 participaram da audiência trabalhista que selou o acordo com Hans River.  

“Agora pretendemos entrar com uma ação judicial contra a Yacows, acrescentando a afirmação absurda que eles fizeram de que havia um advogado da AM4 lá. Isso é uma loucura, isso é falso”, afirmou.

“O tal do Hans River falava da gente sem saber qual era o nome direito. Falou que [o advogado] estava, depois que não estava. Foi muito confuso. Ambos deverão ser processados por falso testemunho."

O dono da AM4 afirmou ainda nunca ter acessado as contas pessoais das redes sociais de Bolsonaro e afirmou que elas eram gerenciadas por Carlos Bolsonaro. “Nunca tivemos acesso a essas senhas”, disse.

Em dezembro de 2018, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos. 

Imagens enviadas por Hans e exibidas na CPMI na semana passada indicam que a Yacows realizava disparos ilegais de mensagens pelo WhatsApp.

As imagens mostram caixas contendo chips de celulares em cima de mesas da empresa, vários aparelhos conectados a um computador e com o WhatsApp Web aberto, além de fotos de monitores com registros de sistemas internos da companhia.

Em uma das imagens, é possível ler o início da frase “Urgente: Marcelo Odebrecht delata Fernando Haddad” nas mensagens sendo disparadas de celulares. 

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