Descrição de chapéu Folha Mulher Governo Bolsonaro

Manifestações do Dia da Mulher ganham tom de resposta a ato pró-Bolsonaro

Marchas deste domingo devem abrir série de mobilizações da oposição no mês de março

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São Paulo

O tom político das marchas do Dia Internacional da Mulher ganhou uma dimensão inédita neste ano, com o presidente Jair Bolsonaro no alvo de manifestantes que irão às ruas de todos os estados neste domingo (8).

Além de questões diretamente ligadas à causa da mulher, as convocações para os protestos incorporaram nos últimos dias a bandeira do respeito à democracia e à Constituição, em contraponto a reivindicações de viés autoritário esperadas para o ato pró-governo do dia 15.

Temas como fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) e pedido de intervenção militar são previstos para a mobilização bolsonarista. Os grupos por trás da convocação negam estimular essas pautas, mas dizem não ter como controlar os participantes.

Na capital paulista, onde o protesto das mulheres envolve mais de 80 entidades (entre coletivos feministas, movimentos sociais e siglas de esquerda), as organizadoras pretendem atrair 60 mil pessoas, mesmo tamanho do público estimado no ano passado. A concentração será às 14h, na avenida Paulista.

O ato começou a ser preparado em janeiro, já com o tema "Mulheres contra Bolsonaro". Segundo líderes, a ênfase no nome do presidente se impôs por causa das ações contrárias a demandas históricas do movimento, como igualdade de gênero, combate à violência doméstica e descriminalização do aborto.

O protesto se soma a outros dois de oposição ao governo marcados para este mês: o do dia 14, que pedirá esclarecimentos sobre a morte de Marielle Franco na data em que o assassinato faz dois anos, e o do dia 18, organizado inicialmente por melhorias na educação e nos serviços públicos.

A terceira mobilização, programada para ser o ápice da onda de levantes, acabou sendo "turbinada". Haverá gritos pelo impeachment de Bolsonaro e paralisações de servidores contra a reforma administrativa. O mote da ocasião, "ditadura nunca mais", quer ressaltar a defesa de pilares democráticos.

O período está sendo chamado de "março de luta" por siglas de esquerda e frentes críticas ao governo federal. E a abertura será com o #8M, forma como o ato das mulheres é divulgado nas redes sociais.

Na sexta-feira (6), entidades divulgaram um manifesto que acentuou o tom de oposição do #8M. A carta propõe união "contra o governo Bolsonaro e pela vida das mulheres", em uma espécie de reedição dos atos Ele Não —que na eleição de 2018 reuniram milhares de pessoas no Brasil e no exterior.

"O movimento de mulheres vai às ruas pedir o fim desse governo e lutar contra os desmandos e desmontes praticados por Bolsonaro. Não admitimos as tentativas autoritárias do presidente e seus apoiadores de acabar com as condições democráticas no nosso país", afirma o documento.

O texto descreve o governo como "conservador, reacionário, racista, machista, xenófobo e LGBTfóbico". E o relaciona a cortes em programas sociais e a medidas econômicas que afetam a população feminina. As reformas da Previdência e trabalhista são mencionadas como ameaça a direitos.

Ainda no comunicado, violência e machismo aparecem como problemas urgentes a serem enfrentados. "Marchamos contra a opressão histórica que silencia mulheres de diversas formas e [...] que nos mata todos os dias."

O manifesto é assinado pela Marcha Mundial das Mulheres, Movimento Mulheres em Luta, CUT (Central Única dos Trabalhadores), Central Sindical e Popular Conlutas e MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), entre outros grupos, além de legendas como PSOL, PT, PDT e PSTU.

Para a organização, uma escalada de medidas antidemocráticas de Bolsonaro nas últimas semanas impulsionou a reação. Entre os motivos estão o insulto de cunho sexual à jornalista da Folha Patrícia Campos Mello e o endosso do presidente, por meio do WhatsApp, ao ato de seus apoiadores.

"O #8M será também uma alavanca para o 18 de março", diz Erika Andreassy, enfermeira que faz parte do Movimento Mulheres em Luta e é uma das articuladoras do protesto na capital paulista.

Segundo ela, o ato deste domingo faz "parte do calendário de luta da classe trabalhadora contra a ofensiva de Bolsonaro, reafirmando a defesa das liberdades democráticas como um dos temas centrais e a necessidade de seguir em unidade para derrotar o governo e seus ataques".

A descrição no Facebook do evento de São Paulo destaca o lema: "Por nossas vidas, democracia e direitos! Justiça para Marielle, Claudias e Dandaras!", em referência a mulheres que protagonizaram casos emblemáticos de violência. Até sexta-feira (6), a página exibia mais de 4.500 presenças confirmadas.

"Tudo o que a gente discutiu no [ato] Ele Não se manteve ou até piorou com a eleição do Bolsonaro. Por isso queremos o fim desse governo", afirma a assistente social Sônia Coelho, que é coordenadora da Marcha Mundial de Mulheres e está engajada na mobilização.

Na visão dela, o foco no presidente não ofusca as reivindicações originais do 8 de março. "A gente relaciona os retrocessos do atual governo diretamente à situação perversa enfrentada pelas mulheres. O Bolsonaro esfacela a democracia e busca no autoritarismo respostas para os problemas."

As convocações em outros estados também fazem alusão, já no título, ao conteúdo antigoverno. Expressões como "luta contra o fascismo", "por democracia e contra a retirada de direitos", "ele não" e "fora Bolsonaro" são usadas na Bahia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

A marcha na capital fluminense ocorrerá na segunda-feira (9), a partir das 17h, na Candelária, sob o mote: "Um Rio de coragem feminista contra a violência e os governos fascistas".

Na terça-feira (3), em nota conjunta na qual se definem como os partidos de oposição ao governo, PSB, PT, PDT, PSOL, PC do B, Rede, PV e UP se comprometeram a incentivar as manifestações de março e participar delas.

As legendas afirmaram que "a situação política, econômica e social do país é cada dia mais grave" e que Bolsonaro "afronta sistematicamente a Constituição e a democracia".

Protestos em março

Dia 8 (domingo)  Mulheres irão às ruas em atos pelo Dia Internacional da Mulher, com ênfase nas críticas a Bolsonaro, associado pelos movimentos a retrocessos nas questões femininas

Dia 14 (sábado)   Manifestações pedirão esclarecimentos sobre o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, que completará dois anos na data

Dia 15 (domingo)   Simpatizantes do governo Bolsonaro farão atos em apoio ao presidente, mas também são esperados ataques ao Congresso e ao Supremo, com pedidos de fechamento de ambos

Dia 18 (quarta-feira)  Ato convocado inicialmente em defesa da educação pública ganhou o reforço de centrais sindicais e envolverá paralisações de servidores e pressão por impeachment de Bolsonaro

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