Morre aos 56 anos Gustavo Bebianno, ex-ministro de Bolsonaro

Ele sofreu um infarto na madrugada deste sábado em seu sítio, em Teresópolis, e foi enterrado na cidade

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Rio de Janeiro e Brasília

O ex-ministro Gustavo Bebianno, 56, morreu na madrugada deste sábado (14). Segundo amigos da família, ele sofreu um infarto em seu sítio, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e morreu por volta das 5h30 em um hospital da cidade.

Retrato de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência do governo Bolsonaro, morto neste sábado (14) - Ricardo Borges/Folhapress

O corpo do ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro foi velado em uma capela vizinha ao seu sítio e foi enterrado na tarde deste sábado no Cemitério Municipal de Teresópolis.

Bebianno era pré-candidato à Prefeitura do Rio, pelo PSDB. Ele deixa a mulher e dois filhos.

“A cidade do Rio perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão. O Gustavo morreu de tristeza por tudo que ele passou. Agora é hora de confortar a esposa, os filhos e os amigos”, disse o empresário Paulo Marinho, amigo de Bebianno.

A pedido de Bolsonaro, Bebianno assumiu, em 2018, a presidência do PSL e a coordenação da campanha nacional à Presidência. Após a vitória nas urnas, ele foi anunciado como secretário-geral da Presidência.

Durante a campanha, se apresentava como faz-tudo. Costumava dizer que era ele o tesoureiro, o advogado e o assessor de imprensa do então candidato.

Bebianno foi o primeiro ministro demitido do governo Bolsonaro, em fevereiro de 2019, ao se tornar o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral. Desde a demissão, passou a ser uma voz crítica a Bolsonaro e à interferência de seus filhos.

O presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) lamentou a morte de Bebianno. "Lamento muito a morte precoce do Gustavo Bebianno. Tivemos um relacionamento muito respeitoso e ele sempre se mostrou correto e equilibrado no trato dos assuntos. Seria mais um bom quadro para a disputa na nossa cidade do Rio. Meus sentimentos aos seus familiares", disse.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, também se manifestou sobre o falecimento do ex-ministro. Nas redes sociais, ele disse que o ex-ministro "esteve conosco desde os primeiros momentos da campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro". "Eventualmente, a política nos afasta, mas não apaga jamais o bom combate que travamos juntos", escreveu.

Em notas, o PSDB e o governador paulista João Doria (PSDB) também lamentaram a morte de Bebianno.

"Com profundo pesar recebi a notícia da morte de Gustavo Bebianno. Seu falecimento surpreende a todos. O Rio perde, o Brasil perde. Bebianno tinha grande entusiasmo pela vida e em trabalhar por um País melhor. Meus sentimentos aos familiares e amigos nesse momento de dor", escreveu Doria, que chegou a Teresópolis no final da tarde para o velório.

Via redes sociais, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, se solidarizou com a família do ex-ministro e disse deixar no passado divergências com o antigo chefe da Secretaria-Geral da Presidência.

"Nesse momento, deixo no passado divergências. Manifesto meus sentimentos à família e desejo que ele esteja em paz, em um lugar melhor", escreveu Weintraub.

O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), lembrou a atuação de Bebianno nas últimas eleições.

"Bebianno teve um papel decisivo e foi fundamental para a eleição de 2018. Me apoiou em tudo, e sem ele, não teria chapa em São Paulo por impedimento da Justiça Eleitoral. Foi injustiçado e emotivo como era, ele agonizava a cada dia com a tristeza da execração pública não merecida. Meus pêsames a toda a família", afirmou o senador.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também lamentou a morte e descreveu Bebianno como "um homem leal, amigo e decente".

"Foi injustiçado, maltratado, ofendido. Ele pretendia provar, nos próximos meses, que sempre disse a verdade. Oro para que Deus o receba de braços abertos. Minha solidariedade à família", afirmou a deputada.

Até início da noite deste sábado, o presidente Jair Bolsonaro não havia se manifestado.

Formado em direito pela PUC-Rio, teve duas passagens por um dos maiores escritórios de advocacia do país, de Sergio Bermudes, de quem era amigo, mas não foi na advocacia que ganhou fama e destaque profissional.

Ele se queixava, por exemplo, do fato de nunca ter sido lembrado em reportagens por sua formação acadêmica. Contava ter três MBAs e um mestrado em finanças pela Universidade de Illinois, nos EUA.

Como exemplo da carreira de gestor, citava a experiência que teve no Jornal do Brasil de 1995 a 2001. Lá, atuou como diretor administrativo, jurídico e comandou o setor de recursos humanos. Em sua segunda passagem pelo escritório de Bermudes, de quem era amigo, também atuou como administrador.

Bebianno se aproximou de Bolsonaro em 2017, após série de tentativas de conhecer "o capitão" desde 2014. Na ocasião, fazia um trabalho de levantamento de bens para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, quando, por meio de um amigo, pediu para ser apresentado ao então presidenciável. Apresentou-se como fã e sempre se disse admirador do capitão, a quem sempre se referia com ares de devoção.

Como presidente do PSL nas eleições, Bebianno foi o homem forte da campanha vitoriosa de Bolsonaro e responsável formal pela liberação de verba pública para todos os candidatos do partido. Sua ligação próxima com o presidente o alçou a um ministério instalado dentro do Palácio do Planalto.

A crise que o derrubou começou após a revelação da Folha sobre as candidaturas laranjas no PSL.

Antes de deixar o cargo, Bebianno disse à colunista da Folha Mônica Bergamo que, fora do cargo, não pretendia atacar Bolsonaro, embora tivesse ali uma expectativa de que ele mirasse no vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que alavancou a crise no Planalto ao chamar Bebianno de mentiroso.

Carlos, que cuidava mais ativamente da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.

Antes dessa declaração, a Folha havia publicado que Bolsonaro, ainda internado no hospital Albert Einstein no processo de recuperação de uma cirurgia, se recusara a atender um telefonema de Bebianno para tratar do assunto dos laranjas.

À direita, Bebianno fala próximo ao ouvido direito de bolsonaro, usa a mão para tapar a boca. À esquerda, o presidente Jair Bolsonaro escuta enquanto olha para a frente
Caso dos laranjas do PSL levou à demissão de Gustavo Bebianno, o primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro - Mauro Pimentel/AFP

Bolsonaro endossou nas redes sociais os ataques do filho, inclusive de que Bebianno mentiu, e ainda afirmou, em entrevista à TV Record, que seu ministro poderia "voltar às suas origens” se fosse responsabilizado pelo caso dos laranjas. Na mesma entrevista, Bolsonaro anunciou que havia determinado a investigação pela Polícia Federal.

Além das críticas, Carlos Bolsonaro elevou a temperatura da crise ao divulgar um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno. A interferência de Carlos foi alvo de críticas de aliados e da ala militar do governo Bolsonaro, que agiu sem sucesso para tentar segurar Bebianno.

A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja. ​

Pessoas próximas recorrem à analogia de um "relacionamento quase que conjugal", tamanha a proximidade que Bolsonaro e Bebianno tiveram durante a campanha. Mas, mesmo tendo se tornado ministro palaciano, Bebianno já havia se distanciado do clã Bolsonaro entre o primeiro e segundo turno das eleições.

Ele seguia na presidência nacional do PSL, mas passou a evitar frequentar muito a casa do então candidato quando as divergências aumentaram com Carlos Bolsonaro. A piora na relação teve como pivô a comunicação de Bolsonaro.

Carlos foi quem criou a estratégia de uso intensivo das redes sociais. Ele ficou incomodado com o fato de não participar das gravações do programa eleitoral e da adoção de estratégias, o que ficou a cargo de um núcleo em torno de Bebianno.

Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, no Planalto, em janeiro deste ano
Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, no Planalto, em janeiro deste ano - Adriano Machado/Reuters

O distanciamento se aprofundou durante o governo de transição —entre novembro e dezembro de 2018. Apesar de ter sido homem forte da campanha de Bolsonaro, Bebianno demorou a ser oficializado ministro.

A escolha dele foi uma das únicas que não foram publicadas no Twitter de Bolsonaro, como ele fez com quase todos os ministros. Carlos também operou para esvaziar a Secretaria-Geral quando o pai decidiu que seu desafeto seria o titular da pasta.

Ele costurou para que saíssem do guarda-chuva da secretaria a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). Com isso, a pasta assumida por Bebianno ficou com uma atividade mais administrativa.

Um momento de grande estresse na relação com o presidente ocorreu quando Bebianno colocou em sua agenda oficial um encontro com o vice-presidente de Relações Institucionais da Rede Globo, emissora vista pelo núcleo familiar do mandatário como hostil ao governo.

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