Panelaços na periferia de São Paulo são tímidos, mas movimentam bairros

Regiões tiveram manifestações contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro

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Agência Mural
São Paulo

“Janela tá ok, apito tá ok, panela tá ok, é hoje que ele paga todo mal que ele nos fez”, o post de um morador de Suzano, na Grande São Paulo, convocava moradores para o panelaço desta quarta-feira (18) contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O post era do poeta e professor Vandei Oliveira, 42. Na avaliação dele, o protesto era um termômetro da rejeição ao presidente na Grande São Paulo e nas periferias. “Suzano teve 73% de votos para o Bolsonaro e não tem experiência desse tipo de manifestação. É uma expectativa”.

No entanto, a noite foi tímida em boa parte das periferias. Houve atos, mas as panelas ainda não se tornaram uma forma de protesto fora do centro da cidade.

Panelaço em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

Correspondentes da Agência Mural em 21 bairros periféricos da capital e em dez cidades da Grande São Paulo acompanharam a movimentação nos horários marcados para o protesto. Em 22 localidades (70%) não houve panelaço.

Onde houve barulho, os gritos, panelas e buzinaços começaram por volta das 20h15, em geral contra o governo federal. Houve protestos contra o presidente em Artur Alvim, Penha e Cohab José Bonifácio, na zona leste, Paraisópolis, Vila Guarani, Jabaquara, Parque das Árvores e Guarapiranga, na zona sul

A favor do presidente, foram registrados gritos em Vila Guilherme, Pirituba, Vila Medeiros, Vila Guarani, e uma corneta solitária em Osasco, na Grande SP.

Em Pirituba, houve panelaços a partir das 20h26, com gritos de fora Bolsonaro e "miliciano bandido". Logo mais, às 21h, também houve protestos com a entoação do nome do presidente e de "mito".

Outro bairro com gritos tanto a favor quanto contra o presidente foi a Vila Guilherme, na zona norte. A região de muitas casas e poucos prédios teve manifestação menor, mas houve quem soltasse fogos de artifício. De um lado, alguns batiam panela, do outro, alguns respondiam. Às 21h, gritos de "mito" e "chupa, comunista" marcaram o "contra-protesto".

No Piqueri houve muito barulho. O grito mais ouvido foi "fora, Bolsonaro". Um bolsonarista, retrucava: "petistas do caralho.".

O mesmo tipo de situação ocorreu na Vila Carlota, na Penha, na zona leste, com panelaço com gritos de "fora Bolsonaro" e alguns apoiadores rebatendo com "vai dormir, petralha".

Em Paraisópolis, alguns moradores de um dos conjuntos habitacionais bateram panelas gritando "fora, Bolsonaro", enquanto outros entoaram um “Lula livre”.

No Monte Kemel, na zona oeste de SP, houve panelas batidas, assim como na Vila Guarani, no distrito do Jabaquara, na zona sul. No último, os gritos pareceram se dividir a favor e contra o presidente, enquanto as crianças brincavam com um "chupa Corinthians".

No Jabaquara, na avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, rolou um buzinaço.

Os protestos ocorreram no momento em que a crise com a propagação do coronavírus chega no momento mais crítico, e há questionamentos quanto a conduta do presidente sobre a gravidade do problema.

"No prédio vizinho as pessoas estavam batendo panela e gritando. Aqui no meu só eu bati. Mas fiquei pensando que não é um bom momento para o país se tiver um impeachment agora, apesar de não concordar em nada com as ações do governo", afirma Jerlica Fernandes, 36, moradora do bairro Guarapiranga.

Professor de história, Raimundo Justino da Silva, 39, mora na Vila Ré, zona leste da capital. Ele foi um dos manifestantes nas janelas.

Ele diz não acreditar na capacidade do governo federal de cuidar do país. "Isso já era um sentimento anterior. A chegada da pandemia apenas ratifica essa posição", afirmou. "Não gostamos da ideia da retirada de um chefe de Estado, mas pensamos que nesse caso passamos de todos os limites".

Justino avalia que seu bairro tem um grande número de idosos e que sempre se comportou de maneira conservadora. "Espero que um ou outro morador que fuja desse perfil tenha a mesma coragem que estamos tendo com essas ações", completa.

GRANDE SP

Na Cohab 5, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, as ruas estavam silenciosas e com fluxo normal para uma quarta-feira à noite. O único barulho das 20h às 22h era da risada das crianças correndo pelo pátio dos prédios.

Muitos dos moradores do bairro não estavam sabendo que haveria panelaços. A diarista Tânia Vieira Afonso, 44, era uma delas. “Não estava sabendo nada sobre o panelaço. Eu vi que teve em São Paulo, mas aqui não deu para ouvir nada de gente batendo panela”.

Ela afirma que, caso soubesse, participaria do protesto contra o governo federal. “Se o pessoal da Cohab soubesse disso, iriam aderir. Eu não tô gostando do mandato do Bolsonaro não, nadinha. Principalmente daquele episódio dele, no meio do coronavírus, abraçando todo mundo”.

Ela se referia à atitude do presidente de participar de uma manifestação em Brasília, no último domingo (15). O ato tinha como pautas a defesa do governo e críticas ao Congresso e ao Legislativo.

Opinião semelhante tem a publicitária Renata de Campos Arashiro, 38, que fazia as unhas em um salão do bairro. “Eu não sabia sobre os panelaços, mas acho que se as pessoas soubessem iriam aderir, porque muitas que eu conheço estão insatisfeitas”.

O músico e porteiro Rafael Alves e Silva, 37, sabia que haveria uma manifestação contra o governo, mas pensou que seria na rua. “Eu fiquei sabendo pelas redes sociais, não sabia que o nome era ‘panelaço’. Vi só que era para galera sair na rua, mas ninguém vai, né?”

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