PF prende secretário nacional de Justiça da gestão Temer em nova etapa da Lava Jato

Astério Pereira dos Santos e outras seis pessoas foram detidas no Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro

A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira (5) o secretário nacional de Justiça do governo Michel Temer, Astério Pereira dos Santos no Rio.

Essa é uma nova etapa da Operação Lava Jato, e outras sete pessoas foram presas até o momento. .

Foram nove mandados de prisão, seis em caráter preventivo e três prisões temporárias. A PF ainda não informou o nome de todos os presos.

Astério Pereira dos Santos, em foto de arquivo - Marco Antonio Rezende - 9.fev.2003/Folhapress

Astério é suspeito de lavagem de dinheiro e de ter facilitado a fuga do empresário Arthur Cesar Soares Filho, conhecido como Rei Arthur.

Soares está foragido desde 2017 e é acusado de atuar na compra de votos para a escolha do Rio como sede dos jogos Olímpicos de 2016.

Procurador aposentado do Ministério Público do Rio, Astério foi secretário de Administração Penitenciária do governo de Rosinha Garotinho. A PF também cumpre mandado de prisão do filho de Astério.

Segundo a PF, são alvos da investigação pessoas físicas e jurídicas suspeitas de participação em uma suposta rede de pagamentos de propina relacionada às atividades da SEAP (Secretaria Estadual de Administração Penitenciária) do Rio de Janeiro.

"Tal rede seria organizada por empresários e agentes públicos com apoio de 2 escritórios de advocacia. Entre os agentes públicos envolvidos há um ex-procurador de Justiça, e o esquema beneficiaria integrantes do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro”, diz nota da PF.

Ainda segundo a PF, “o dinheiro recebido por meio desse esquema de corrupção estaria sendo dissimulado por meio do uso de pessoas jurídicas, laranjas e familiares dos envolvidos”.

Entre os alvos da operação, está um delegado da Polícia Civil, que ainda não foi preso.

Secretário Nacional de Justiça entre março e novembro de 2017, Astério é suspeito de facilitar a fuga de Arthur Soares ao alertá-lo sobre existência de um pedido de prisão contra ele apresentado pelo Ministério Público Federal.

Em delação, o empresário Ricardo Rodrigues, sócio do foragido, conta que estava, em Lisboa, ao lado de Arthur Soares, no dia 25 de agosto de 2017, quando este recebeu um telefonema do Brasil. Alarmado, Arthur Soares precipitou uma viagem aos EUA, onde permanece até hoje. Dez dias depois desse telefonema, Arthur Soares foi alvo de uma operação.

Ainda segundo o relato de Ricardo Rodrigues, Arthur Soares teria afirmado obter informações do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, subordinado à secretaria que era ocupada por Astério.

A relação de Astério Pereira e Arthur Soares é também descrita em acordo de colaboração firmado pelo ex-presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado do Rio) Jonas Lopes Filho e de seu filho Jonas Lopes de Carvalho Neto.

Em seus depoimentos, pai e filho apontaram Astério e o amigo Carlson Ruy Ferreira —também preso nesta quinta-feira— de serem os reais sócios da empresa Denjub, fornecedora de alimentos para presídios, quando os dois estavam à frente da Seap.

Secretário de Administração Penitenciária entre 2003 e 2006, Astério nomeou Carlson como diretor-geral de administração de finanças da pasta. Sob o comando da dupla, a SEAP contratava os serviços da Denjub.

Segundo o Ministério Público, Carlson e Astério também atuaram no pagamento de vantagens indevidas à organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho.

Os dois teriam organizado, por exemplo, esquema de pagamento de propina a conselheiros do TCE, valendo-se de recursos de um fundo especial do tribunal, no total de R$ 160 milhões, que foram repassados para fornecimento de alimentos para presídios.

Além de Astério, Carlson e seus filhos, foram presos suspeitos de colaborarem com o esquema de lavagem de capital, atuando como laranjas.

Hoje aposentado, Astério é o terceiro integrante do Ministério Público do Rio a ser preso em decorrência de envolvimento com esquema encabeçado pelo ex-governador Sérgio Cabral.

Ex-procurado-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes foi preso no dia 8 de novembro e solto em dezembro. Ele é réu em ação penal sob suspeita de receber mesada da R$ 150 mil de Sérgio Cabral.

Segundo denúncia, Flávio Bonazza recebia R$ 60 mil mensais de empresas de ônibus para atuar em benefício do setor.

Astério é também o primeiro integrante do secretariado dos Garotinho a ser preso no âmbito da Operação Lava Jato.

Na operação de hoje, batizada de Titereiro, foram apreendidos R$ 218 mil em dinheiro vivo, sendo R$ 118 mil em uma sala ocupada por Astério dentro de um escritório de advocacia e R$ 100 mil no cofre de um posto de gasolina pertencente a dois investigados.

Em nota, o advogado de Astério, Fernando Fernandes, diz que seu cliente "manteve vida exemplar, tendo prestado enorme serviço à sociedade como oficial, procurador de Justiça e secretário de Justiça".

"Ele acredita na Justiça e tem segurança que com os esclarecimentos prestados o processo provará que a denúncia parte de informações inverídicas. Importante ressaltar que a denúncia do Ministério Público não precedeu de nenhuma investigação anterior da Polícia Federal e foi ato exclusivo do MP sem bases probatórias", afirma o advogado.

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