Substituto de Amoêdo no Novo critica Zema e diz não se arrepender de voto em Bolsonaro

Eduardo Ribeiro diz que a queda nas bolsas e alta do dólar são momentâneos e globais e afirma defender a liberdade de imprensa até final da vida

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Porto Alegre

Escolhido pelo diretório nacional do Novo para assumir o comando do partido, Eduardo Ribeiro, 31, diz que não se arrependeu de ter votado em Jair Bolsonaro.

Ele substituirá João Amoêdo, que deixou a presidência do partido na quinta-feira (5) da semana passada.

Ribeiro diz acreditar que a queda nas bolsas com alta do dólar é “momentânea e global”, defende a liberdade de imprensa “até o final da vida” e critica seu colega de partido, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, por ter concedido reajuste salarial de 13% para policiais do estado. "O aumento nem deveria ter sido proposto."

O catarinense, formado em farmácia e bioquímica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi presidente estadual da sigla e atuou na secretaria nacional do Novo.

Ribeiro também considera “bastante grave” Bolsonaro ter falado sobre suposta fraude na eleição de 2018 sem apresentar sem nenhuma prova —o presidente venceu a disputa tanto no primeiro como no segundo turno e não há indícios de fraudes.

“Até certo ponto é curioso colocar sob suspeita uma eleição que ele mesmo venceu. Ele tem que provar [o que falou] e mostrar essas provas o quanto antes. É isso que se espera agora”, diz.

Vestindo terno cinza e óculos escuros, Eduardo Ribeiro está no centro da fotografia, à frente de um painel com o símbolo do Novo. Ele fala ao microfone.
Eduardo Ribeiro, 31, substitui João Amôedo na presidência do partido Novo - Luiz Augusto Macedo/Divulgação

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, sancionou parcialmente o aumento para servidores da segurança. Qual opinião do senhor? Ele deveria ter proposto 41,7% anteriormente? O que pensa sobre o desfecho em 13%? Entendo que, inicialmente, o aumento nem deveria ter sido proposto. Também defendo que o veto deveria ser total. Mas o veto parcial é uma opção política dele. Nós, enquanto gestão partidária, não temos ingerência sobre as decisões políticas do governador.

Paralelo a isso, entramos com uma ação declaratória de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal para fazer com que todos os estados, incluindo Minas Gerais, passem a incluir inativos e pensionistas no balanço final [da folha de pessoal] para ficar de acordo com a Lei da Responsabilidade Fiscal. Fizemos pensando na saúde fiscal de todos estados e municípios.

Como o senhor avalia a desfiliação do vice-governador MG? Ele disse que o Novo deixa em “segundo plano as exigências da responsabilidade política” ao "manter-se à margem das coalizões". Nós não fomos ainda notificados oficialmente. Entendo como uma decisão pessoal dele e que a gente respeita. Entendo que zelar pelo nosso programa partidário e nos mantermos fiéis aos nossos princípios e valores é uma das nossas principais virtudes.

Como a crise em MG pode afetar a principal vitrine hoje do partido? A saída de Zema do partido está em discussão? Sabíamos desde o começo que o desafio em Minas Gerais seria colossal e que enfrentaríamos inúmeras dificuldades ao longo do caminho. Qualquer possibilidade de saída do Zema nunca foi objeto de discussão.

Como o senhor entrou no Novo? Conheci como muitas pessoas: pela internet. Foi em 2013 ou 2014. E assim como muitos, nunca quis me envolver com a atividade partidária. Busquei contato e conheci o que defendiam. Pensei: "Caramba, está aí! É isso o que eu penso".

Alguns parlamentares falaram em surpresa pela saída de João Amoêdo e de sua escolha. Como ocorreu esse processo? A condução do novo presidente é uma responsabilidade do diretório nacional. Sempre atuei em Florianópolis e fui presidente do Novo em Santa Catarina com o objetivo de montar o processo seletivo das candidaturas de 2018. O estado teve uma particularidade de ser o único que elegeu um deputado federal, Gilson Marques, sem ter candidato a governador e a deputado estadual naquela eleição.

Na convenção do ano passado, muito lisonjeado, aceitei participar e atuei na secretaria nacional e como diretor-executivo da Fundação Brasil Novo. Alguns dias atrás o João trouxe essa intenção de renunciar e oxigenar o partido. Daí a executiva nacional, em conjunto, decidiu que o meu nome seria o mais adequado para o momento.

O senhor votou no Bolsonaro. Está arrependido? Eu nunca votei no PT e nunca vou votar. Lutamos até o último momento para que as pessoas não optassem pelo voto útil para não chegar à situação em que chegamos, entre um ou outro [Bolsonaro e Haddad]. Mas tivemos que votar contra o PT. Também fui um deles. Não me arrependi. Acredito que tenha começado bem. Mas, infelizmente, nos últimos meses entendo que as pautas principais, como as reformas, ficaram de lado em detrimento de uma postura mais agressiva e voltada mais a uma narrativa ao invés de tentar construir junto com o Congresso.

Como o senhor avalia a relação de Bolsonaro com o Congresso?
Pode melhorar muito. A gente sabe que política tem seu tempo. É até bom que seja assim. Mas é importante que o diálogo prevaleça. E, principalmente, que a gente respeite as instituições. Não existe caminho para a política fora das instituições. Não se pode incitar nada além do que existe, incitar nada fora das instituições.

O presidente chegou a chamar inicialmente a população para ir às ruas no próximo dia 15. O que o senhor pensa sobre esse movimento?
Me parece que tem pautas difusas, parece algo confuso. Não vou participar. Acredito que precisamos dar atenção e prioridade às reformas, administrativa e tributária, o que só se consegue através do diálogo com o Congresso e Poderes Institucionais. O Novo ainda não estabeleceu nenhuma orientação para os filiados.

Bolsonaro tem feito uma série de ataques à imprensa. O que o senhor pensa dessa postura?
Primeiramente nós do Novo defendemos a liberdade de imprensa até o último momento de nossas vidas. Não existe democracia sem imprensa livre. A imprensa exerce papel excepcional, inclusive do ponto de vista investigativo. Como políticos, precisamos estar prontos para responder todos questionamentos da imprensa. Responder de forma educada, inclusive. É isso que esperamos dos eleitos.

​​A economia, sob o comando do ministro Paulo Guedes, está no caminho correto ou precisa de mudanças?
Os resultados demoram para vir. O caminho traçado foi muito bom. Esperávamos que algumas reformas, como as que estão em pauta para o ano, já estivessem entregues e que já estivéssemos trabalhando sobre elas. Quanto mais demora, mais difícil fica. Já perdemos muito tempo nos últimos governos. Precisamos acelerar.

O Novo defende muito que essas reformas tramitem para que a gente consiga sair dessa situação. Estamos no rumo certo, é uma questão de celeridade e prioridade do governo para focar no essencial da nossa agenda, as reformas administrativas e tributárias.

Qual o limite para ser liberal diante de um cenário de bolsas caindo, dólar alto e oscilações no petróleo?
Defendemos, enquanto instituição, que o Estado não deve interferir na economia. A crise é momentânea e global. A nossa posição será sempre de liberdade econômica e de não intervenção na economia.

O foco do Estado deveria ser condensar sua própria estrutura para que a economia possa ser livre. O Estado deve focar no essencial, nas necessidades básicas da população, como saúde, educação e segurança pública, institucional e jurídica. Mas não atuar diretamente na economia. Defendemos a abertura de mercado, a saída da gestão de empresas, deixar a economia para o mercado.

Os liberais têm sido criticados por não se colocarem contra ataques a minorias e democracias, desde que o mercado vá bem. O senhor concorda?
Não concordo. A liberdade precisa prevalecer. Na questão social, o Novo defende que o estado deva garantir uma malha de proteção para os mais pobres, aqueles na miséria, mas sempre entregando uma porta de saída [para o auxílio do estado]. Não pode ser uma forma de dependência das pessoas. Defendemos a liberdade de imprensa. A liberdade de expressão é a mãe de todas liberdades. Vamos sempre defender o direito das pessoas falarem o que os outros não querem ouvir.

Bolsonaro colocou em dúvida, sem apresentar provas, o resultado da eleição de 2018, que venceu tanto no primeiro e segundo turno. O que o senhor pensa sobre essa atitude?
É grave, bastante grave. Até certo ponto é curioso colocar sob suspeita uma eleição que ele mesmo venceu. Ele tem que provar [o que falou] e mostrar essas provas o quanto antes. É isso que se espera agora.

Como o Novo planeja as eleições municipais, de prefeitos e vereadores, deste ano?
Teremos candidatos em 44 cidades, destas, 35 terão candidato a prefeito, que passaram por processo seletivo. Há mais de 1.400 inscritos no processo seletivo para postulantes a vereador e cem pessoas para fazer essa seleção, de forma descentralizada.

Qual sua avaliação sobre a democracia brasileira atualmente?
Sempre podem melhorar, mas as instituições são fortes. Precisamos ressaltar, sempre, que não existe caminho fora das instituições. Para mudar a realidade, temos que respeitar o modelo democrático. Por isso criamos um partido. Só existe uma forma [de mudança], que é ter políticos eleitos e, para isso, preciso de um partido, preciso seguir as regras estabelecidas no jogo.

RAIO-X

Eduardo Ribeiro, 31, formado em farmácia e bioquímica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e tem uma consultoria na área de saúde complementar, orientando hospitais e clínicas sobre planos, cartões e benefícios. Foi escolhido presidente do Novo pelo diretório nacional do partido.

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