Vimos que Moro não tem liberdade para trabalhar, diz Alvaro Dias

Para senador, ministro se desgasta no governo, mas é o nome mais forte para a Presidência em 2022

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Daniel Carvalho, da Folha Luciana Amaral, do UOL
Brasília

Um dos principais entusiastas do ingresso do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro na vida política, Alvaro Dias (PR), líder do Podemos no Senado, vê limitações nas condições de trabalho dadas pelo presidente Jair Bolsonaro a seu ministro da Justiça.

"O que vimos é que não [tem liberdade para trabalhar]. Para dar um exemplo, logo no início, ele quis o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] no Ministério da Justiça. Aparelhou o Coaf, instrumentalizou convenientemente, nomeou o coordenador do Coaf. E, logo a seguir, foi desautorizado, o coordenador foi demitido, o Coaf foi transferido [para o Ministério da Economia]. Só para citar um exemplo, podemos citar outros", disse Dias em entrevista em estúdio compartilhado entre Folha e UOL em Brasília.

Para o senador, Moro tem vencido "tempestades do governo" porque "adquiriu um patrimônio inesgotável" até diante das suspeitas sobre sua atuação como juiz levantadas por reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil e outros veículos, como a Folha, com base em mensagens vazadas.

"O Intercept não conseguiu desidratar a popularidade do ministro. As trapalhadas do presidente também não", disse Dias.

 
O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) participa de entrevista no estúdio Folha/UOL, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

"Ele foi desautorizado várias vezes, mas mantém alta popularidade. Portanto, eu creio que está demonstrando uma capacidade de sobrevivência incrível, muito mais em função do patrimônio adquirido como juiz do que um eventual patrimônio recentemente adquirido como ministro", afirmou Dias.

O senador reconhece, porém, que a permanência de Moro no governo lhe causa, sim, desgaste, mas que "este calvário pode terminar em outubro", caso Bolsonaro leve adiante seu plano inicial de indicar o ministro para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).

Apesar de negar que tenha feito movimentos para levar Moro para o Podemos e tê-lo como candidato a presidente em 2022, diz que é o nome mais forte na bolsa de apostas.

"Obviamente, hoje, Moro é o candidato mais forte à Presidência da República. Não há ninguém que possa duvidar disso porque nós temos de reconhecer o que as pesquisas indicam", disse o senador, ele próprio postulante ao cargo na última eleição.

"Temos de ter humildade suficiente para entender que há alguém que se projetou de forma excepcional, e ninguém pode retirar esse mérito pelo papel que cumpriu", afirmou.

A admiração por Moro não se repete em relação ao governo como um todo. 

O senador criticou o que chamou de estratégia do Palácio do Planalto de transferir responsabilidades ao Legislativo. "Há uma estratégia deliberada de transferir responsabilidade por tudo de ruim que ocorre ao Congresso Nacional. É uma estratégia desonesta", disse.

Ao comentar a declaração do general Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), que acusou o Legislativo de chantagear o Executivo, Dias disse que o governo é complacente e chamou as manifestações convocadas para o dia 15 de março, a favor de Bolsonaro e contra o Congresso e o Judiciário, de um "desserviço à democracia".

"Quando você ataca o Congresso, está ferindo de morte a democracia. Concordo [com manifestações], sou crítico do Congresso, crítico em relação ao comportamento de lideranças do Congresso, exponho as minhas críticas. Mas não podemos condenar a instituição."

Para Alvaro Dias, Bolsonaro "abraçou os chantagistas". "Se há chantagem, tem de ser repudiada. Ninguém pode ser tigrão com os mais fracos e tchutchuca com os que comandam", afirmou.

Integrante do grupo "Muda, Senado!" —conjunto de senadores que defende pautas como a prisão após condenação em segunda instância, impeachment de ministros do STF e a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para que se investigue membros da corte, a CPI da Lava Toga—, Dias apoiou a eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) ao comando do Senado no início de 2019. Mas é justamente o presidente da Casa quem barra as pautas defendidas pelo senador e seu grupo.

Ele diz que o apoio se deveu a um plano maior, o de impedir a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL). 

Para a disputa de 2021, defende um nome de seu grupo político. "Desejamos um enfrentamento a partir de alguém que já está inserido no grupo, que tem defendido essas pautas todas exatamente para não sofrer decepção depois", afirmou.

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