Bolsonaro convida oncologista Nelson Teich para vaga de Mandetta no Ministério da Saúde

Teich é ligado ao bolsonarismo mas defende isolamento social na crise do coronavírus

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Brasília

O president​e Jair Bolsonaro convidou o oncologista Nelson Teich para assumir o lugar de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde. Segundo aliados do presidente, o médico aceitou o convite. A expectativa é a de que o anúncio ocorra nesta quinta (16).

Teich, que chegou a ser cogitado para o posto durante a campanha eleitoral de 2018, foi recebido pelo presidente na manhã desta quinta.

O nome do oncologista tem o respaldo do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, da equipe econômica e da cúpula militar. O nome do médico também também é apoiado pelo empresário Meyer Nigri, presidente da Tecnisa.

Contou a favor de Teich a experiência empresarial e formação econômica.

O médico Nelson Teich, cotado para assumir o lugar de Luiz Henrique Mandetta na Saúde
O médico Nelson Teich, cotado para assumir o lugar de Luiz Henrique Mandetta na Saúde - Leo Pinheiro - 9.set.2015/Folhapress

A avaliação do presidente é a de que o médico poderia equilibrar as ações da pasta entre medidas voltadas para evitar mortes por coronavírus, mas que minimizem o impacto econômico das medidas de restrição, uma de suas preocupações.

No encontro pela manhã, segundo relatos de presentes, o médico fez uma exposição sobre as suas propostas para a pasta e expôs seu ponto de vista sobre políticas de enfrentamento ao coronavírus.

Participantes do encontro dizem que Bolsonaro ficou impressionado com a posição do médico, que recebeu avaliação positiva.

Além do presidente e de Teich, participaram da reunião ministros palacianos, como Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

De acordo com relatos feitos à Folha, antes do encontro, Bolsonaro chegou a questionar o médico sobre seus posicionamentos acerca da descriminalização das drogas e legalização do aborto.

Apesar do presidente ser favorável ao que ele chama de quarentena vertical, que preserva apenas os grupos de risco, Teich já se posicionou a favor do isolamento social, ponto de discórdia de Bolsonaro com Mandetta.

Com a dificuldade de encontrar alguém com respaldo na classe médica, Bolsonaro passou a adotar como condição um nome que, apesar de ter posições diferentes da dele, não protagonize embates públicos.
Teich tem o apoio do presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), Lincoln Lopes Ferreira, que também participou do encontro.

Depois da reunião pela manhã, Bolsonaro almoçou com os médicos e com o ministro e disse esperar uma condução técnica do Ministério da Saúde.

Após o encontro, Bolsonaro convidou Teich para assumir a pasta. Em seguida, na tarde desta quinta, Bolsonaro reuniu-se com Mandetta para consolidar sua demissão.

Nas redes sociais, Mandetta confirmou a exoneração.

"Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde", escreveu o agora ex-ministro.

"Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", continuou Mandetta.

A relação entre Bolsonaro e Mandetta estava desgastada havia cerca de um mês por divergências na condução do combate à pandemia do coronavírus. A situação piorou após entrevista do ministro à TV Globo no último domingo (12).

A saída de Mandetta é esperada desde a semana passada. Ainda na manhã desta quinta, o agora ex-ministro disse teria mudança em breve.

"Devemos ter uma situação de troca no ministério que deve se concretizar hoje ou amanhã", disse o agora ex-ministro.

Além da visível perda de sustentação entre os militares, que consideraram o tom da entrevista um ato de insubordinação, Bolsonaro levou em conta que até mesmo alguns líderes do Congresso criticaram o tom do ministro.

A falta de fortes mobilizações nas redes sociais em defesa do titular da Saúde também foi lida pelo presidente como uma brecha para efetuar a demissão.

Na entrevista à TV Globo, domingo, Mandetta disse que a população não sabe se deve seguir as recomendações do Ministério da Saúde (favorável ao isolamento social) ou de Bolsonaro (crítico de medidas como o fechamento de comércios, por exemplo).

Mandetta também havia criticado quem rompe as regras de distanciamento para ir à padaria, numa crítica a Bolsonaro —o presidente foi na semana passada a um estabelecimento do tipo em Brasília e consumiu alimentos no balcão.

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