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Carreata em SP mira Doria e Maia em meio a pedidos de intervenção militar

Protesto foi atingido por ovos e tomate lançados por moradores que repudiavam reivindicações

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São Paulo e Rio de Janeiro

Com um carro de som e mais de cem motos e carros, a carreata contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste sábado (18), atraiu curiosidade e indignação.

Carreta contra Doria teve a presença de caminhões na av. Paulista - Bruno Santos/ Folhapress

Nos prédios, moradores filmavam o movimento, enquanto outros mostravam o dedo do meio. Houve quem atirasse ovos e tomate.

Na avenida Rebouças, ovos atingiram o caminhão de som. "Queremos trabalhar. Todo mundo na rua, abrindo seu comércio", respondeu um manifestante. Eventuais panelas em repúdio ao protesto eram abafadas pelas buzinas e pelos discursos no caminhão.

O protesto é contra as medidas de isolamento adotadas pelo tucano para conter a pandemia de coronavírus. Na sexta (17), Doria anunciou que a quarentena foi prorrogada até 10 de maio.

Foto mostra manifestantes contra Doria e a favor de Bolsonaro passando por painel com aviso sobre isolamento social em São Paulo
Manifestantes contra Doria e a favor de Bolsonaro passam por painel com aviso sobre isolamento social em São Paulo - Carolina Linhares/Folhapress

"Fora, Doria", "impeachment Doria" e "Globo lixo" estampavam adesivos nos veículos, além de "fora, Maia". Na quinta-feira (16), Bolsonaro acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de conspirar para derrubá-lo.

Alguns carros e placas traziam pedidos de intervenção militar. No caminhão de som, porém, esse discurso não foi defendido.

Houve apenas uma hora de trajeto. Após deixarem a concentração no ginásio do Ibirapuera, às 14h30, e seguirem pelos Jardins, os manifestantes, de verde e amarelo e com bandeiras do Brasil, pararam os carros na av. Paulista por volta das 15h30.

As pessoas desceram dos carros e motos, e a carreata ganhou ares de manifestação de rua pelo resto da tarde. Houve aglomeração de pessoas em torno do caminhão de som, muitas sem máscara —inclusive idosos.

Ônibus e outros veículos ficaram presos na via. Os carros enfileirados iam desde a Fiesp até o fim do Conjunto Nacional, ocupando duas ou três faixas da avenida, inclusive os corredores de ônibus em alguns pontos.

Com escolta da Polícia Militar, a carreata, que também teve a presença de mais de 50 caminhões ao longo da tarde, seguiu trancando a av. Paulista nos dois sentidos. Por volta de 18h30, policiais começaram a liberar pistas.

À noite, os manifestantes desceram a rua da Consolação. Houve panelaço e gritos de "fora, Bolsonaro" em resposta.

Em nota emitida na tarde deste sábado, o governo de São Paulo diz que "defende o direito à livre manifestação, mas lamenta que ela seja a favor de uma pandemia que já matou, até o momento, 991 pessoas no estado".

Segundo o governo, "a manutenção da quarentena é essencial para que o sistema de saúde comporte a demanda de pacientes e não aconteçam ainda mais óbitos. A medida visa preservar o bem mais valioso, que é a vida. O governo tem mantido o diálogo com a população e com os setores produtivo, de comércio e serviços e vai intensificá-lo para estruturar um plano de ação de reabertura das atividades a ser implementado assim que for possível."

O governo estadual afirma, ainda, que "liberou mais de R$ 650 milhões em empréstimos subsidiados para auxiliar as empresas a atravessarem a crise e concedeu incentivos às empresas optantes do Simples Nacional, que terão prazo adicional de 90 dias para pagar o ICMS devido".

Mais tarde, o governador João Doria disse, em rede social, que "manifestações a favor do coronavírus surgiram como ato de sabotar o trabalho de profissionais de saúde, que continuam lutando para salvar vidas".

Nas redes sociais, críticos do protesto comentaram o fato de a carreata, com barulho e buzinas, ter passado por vias próximas a hospitais. Na av. Rebouças, a carreata passou pelo Hospital das Clínicas. Já na Paulista, ficou próxima ao Hospital Santa Catarina, Pro Matre e Hcor.

A ideia original, de percorrer a marginal Pinheiros, a ponte Estaiada e a avenida 23 de Maio, foi executada apenas por um grupo menor de carros, que se descolou da carreata principal.

Esse grupo também passou por ao menos quatro grandes hospitais na av. 23 de Maio. Por volta das 16h, eles se incorporaram à av. Paulista.

O protesto repete o movimento do último sábado (11), quando manifestantes também percorreram pontos de São Paulo pedindo a saída de Doria. Segundo os participantes, as carreatas surgiram de forma espontânea e popular —não há liderança clara.

Sem ligação com movimentos de direita, o empresário Mauro Reinaldo, 36, é um dos organizadores da carreata.

"Conheço muitas pessoas e fui chamando. Sou gestor de empresa e tenho que ter visão lá na frente. De onde as pessoas vão tirar seu recurso?", diz ao criticar o isolamento. Para ele, Doria está agindo como "um autoritário e ditador".

Ao contrário de outros participantes da carreata, que minimizam a pandemia de coronavírus, Reinaldo diz que o vírus existe de fato, mas que o isolamento está exagerado.

Apoiador de Bolsonaro, ele teve que fechar sua tinturaria em Itupeva (SP) e sua loja de tecidos no Brás. Diz que ainda não demitiu ninguém. "Não vou demitir, nem que tenha que vender meu carro", afirma ao lado do SUV preto.

Giovani Falcone, 40, é outro dos organizadores. Também não se diz representante de nenhum movimento, "só do povo".

"A pauta única é o impeachment do governador. Acredito que o o vírus exista, mas não é todo esse alarme que estão fazendo", diz o engenheiro civil, que está com os oito funcionários em férias coletivas.

Embora a carreata seja de iniciativa popular, movimentos de direita dão apoio e divulgação. O Movimento Direita Conservadora, por exemplo, foi responsável pelo carro de som. Membros do MDC, Sargento Anilo e Wagner Cunha, também reivindicam o planejamento da carreata.

O Movimento Conservador e o Avança Brasil divulgaram as carreatas deste sábado e do anterior nas suas redes, mas não as coordenaram.

“Desde quando o presidente pediu o cancelamento do ato de 15 de março, nós o seguimos na recomendação de não marcar manifestação e aglomeração. Mas não somos contra as carreatas. A gente não se omite em divulgar o apoio”, afirma Edson Salomão, do Movimento Conservador.

Neste domingo (19), também está prevista uma carreata, mas ao contrário das anteriores, com uma liderança mais clara. Foi convocada pelo movimento Nas Ruas, que costuma mobilizar protestos bolsonaristas pelo país.

Enquanto o protesto de sábado tem como tema o impeachment de Doria, a carreata do Nas Ruas é contra Maia, contra o projeto de socorro aos estados que tramita no Congresso e a favor do isolamento vertical, ou seja, apenas de grupos de risco.

Nas convocações de ambas as carreatas nas redes sociais, se misturaram palavras de ordem contra o que os manifestantes consideram ser uma ditadura do governador Doria e pedidos de intervenção militar para proteger o governo Bolsonaro.

Também começaram a surgir posts com planos de ir a porta de quartéis pressionar as Forças Armadas para intervir a favor de Bolsonaro, fechando Congresso e STF.

Um dos homens a chamar no Twitter a carreata de sábado afirmou que o povo deve convocar as Forças Armadas para proteger a nação. Ao mesmo tempo criticou Doria: “Você não vai rastrear ninguém, cara, aqui não é ditadura, aqui é democracia. É direito de ir e vir ou vocês rasgaram a Constituição?”.

Reinaldo e Falcone, da carreata deste sábado, dizem não concordar com os intervencionistas. Os movimentos que divulgaram a carreata também são contra.

“Não endossamos isso”, diz Ricardo Sicchiero, do Avança Brasil. O lado ruim de não ter líder é que qualquer um aparece e fala o que quer”, afirma Salomão, do Movimento Conservador.

O Nas Ruas, que convoca a carreata de domingo, também rechaça o intervencionismo. “Intervenção militar não é nossa pauta. Acreditamos nas instituições fortes, o que queremos é o fim da politicagem”, diz Abduch.

Além de São Paulo, já houve carreatas no Rio, em Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Aracaju e outras cidades.

No Rio, as carreatas têm se formado principalmente nas zonas oeste e sul da cidade, normalmente puxadas por um carro de som e acompanhadas pela escolta da PM.

Muitas buzinas, algumas bandeiras do Brasil, gritos de “mito” e às vezes o hino nacional avisam que o grupo está chegando para quem está nas janelas, que não raro reagem com “fora, Bolsonaro”.

Já a crítica ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), aparece em cartazes de “fora, Witzel”. De vez em quando, os manifestantes param e saem dos carros, formando uma aglomeração. Alguns com máscara, muitos sem, e outros a levam pendurada no pescoço.

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