Dona de açougue muda versão sobre irmão de Bolsonaro, mas testemunhas mantêm relato

Reportagem mostrou que Renato Bolsonaro tentou entrar sem máscara no estabelecimento, contrariando norma de município no interior de SP

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São Paulo

A dona de um açougue da cidade de Registro (SP) voltou atrás nesta quarta-feira (15) no relato que fez à Folha dizendo que Renato Bolsonaro, irmão do presidente Jair Bolsonaro, havia se negado a cumprir regra de proteção contra a disseminação do coronavírus para fazer compras no local.

Um dia antes, em conversa gravada pela reportagem, Andréia Brites havia afirmado que o irmão do presidente não quis colocar máscara de proteção para entrar no açougue Carne, Queijo e Cia, o que é obrigatório por causa de uma norma da prefeitura para evitar o contágio da população.

Andréia foi questionada pela reportagem se Renato Bolsonaro, cliente frequente do local, havia sido barrado na última segunda-feira (13) por não querer usar a proteção. A reportagem já havia obtido o relato com outras testemunhas e telefonou para o estabelecimento para obter a versão deles para o caso.

“Não é que ele foi barrado. A gente falou para ele que ele só poderia entrar dentro do estabelecimento com máscara. Aí ele disse que não ia colocar a máscara, que ele queria ser atendido do lado de fora. A gente explicou que para ser atendido precisaria da máscara e ele foi embora. Ele reclamou um pouquinho”, diz.

Segundo ela, “tinha mais cliente aqui na frente que acabou vendo, mas não juntou gente”.

O presidente Jair Bolsonaro e seu irmão Renato Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro e seu irmão Renato Bolsonaro - Reprodução/Facebook/Renato Bolsonaro

Ainda na quarta-feira, Andréia explicou que “ele simplesmente não quis ser atendido” e o impasse não demorou muito tempo. Ela ainda repetiu. “Ele chegou, ele estava na fila e na hora de ele ser atendido a gente colocou que por causa da prefeitura [de Registro], de acordo com um decreto ele não poderia ser atendido sem a máscara e ele não quis."

“A gente tem um funcionário que fica na porta porque a gente precisa controlar o acesso e só pode entrar duas pessoas por vez aqui”, disse Andréia na quarta-feira.

A versão de Andreia coincide com o relato de duas outras pessoas contatadas pela Folha no mesmo dia. Elas mantêm a versão, mas dizem ter medo de represália por isso não querem ser identificadas.

Nesta quinta-feira (16), Andréia mudou a versão. Admitiu que fez o relato à Folha e que Renato é cliente do açougue, mas que foi levada a erro por funcionários que teriam confundido Renato com outro cliente. Ela não sabe apontar quem seria esse outro cliente.

Irmão de Andréia e responsável pelo estabelecimento, Rodrigo Torres Farias publicou na página do Facebook do açougue que “ao contrário do que foi publicado no jornal Folha de São Paulo, edição de 16 de abril de 2020, o cliente que deixou de ser atendido neste estabelecimento por se recusar a usar os equipamentos de proteção exigidos por decreto municipal, não se trata do Sr. Renato Bolsonaro”.

Renato Bolsonaro mora na cidade de Miracatu, vizinha de Registro. Ele é dono de loja de móveis nas cidades da região do Vale do Ribeira. Na terça (14), sua filha Vitória Bolsonaro juntou-se a comerciantes da cidade para uma reunião com o prefeito de Miracatu, Ezigomar Pessoa (PSDB), na qual foi solicitada a reabertura do comércio local.

A Prefeitura de Miracatu negou o pedido ao dizer que segue a orientação da Secretaria de Saúde do Governo de São Paulo e do Ministério Público, contrária a qualquer flexibilização neste momento em que se aproxima o pico da pandemia da Covid-19.

A Folha ligou para Renato Bolsonaro na quarta-feira, mas não foi atendida. Ele não respondeu ao recado em sua caixa postal. A reportagem também deixou recado no celular da filha do comerciante, mas também não houve retorno.

Em janeiro, a Folha mostrou que Renato Bolsonaro atuou como mediador informal de demandas de prefeitos interessados em verbas federais para obras e investimentos. A reportagem identificou a participação do irmão do presidente na liberação de dinheiro para ao menos quatro municípios do litoral paulista e do Vale do Ribeira.

Sem cargo público, ele participou de solenidades de anúncio de obras, assinou como testemunha contratos de liberação de verbas, discursou e recebeu agradecimentos de prefeitos pela ajuda no contato com a gestão federal.

Ao todo, após a atuação de Renato, foram mais de R$ 110 milhões repassados para construção de pontes, recapeamento asfáltico e investimento em centros de cultura e esportes em São Vicente, Itaoca, Pariquera-Açu e Eldorado, município onde moram familiares do presidente.

Renato disse à época não ter cobrado pela ajuda às prefeituras.​

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